O marketing de influĂȘncia funciona como uma via de mĂŁo dupla: influenciadores lucram com seus negĂłcios online e usam a fama para impulsionar marcas nas mĂdias sociais, endossando o uso de produtos ou serviços em troca de cachĂȘ. Mas o efeito pode ser negativo quando influenciadores ou as prĂłprias empresas cometem erros vistos pelos membros da comunidade como transgressĂ”es.
Um estudo liderado por uma especialista em novos comportamentos de consumo em contextos digitais, a professora de marketing Rebecca Mardon, da Cardiff Business School, no Reino Unido, identificou cinco erros recorrentes que podem acabar neutralizando os efeitos da aposta em influenciadores para promoção de serviços ou produtos. Os resultados foram publicados pelo European Journal of Marketing.
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O tamanho desse mercado faz com que o alerta da pesquisadora mereça atenção. Segeundo o site especializado em marketing The Drum, o marketing de influĂȘncia movimentou US$ 9,7 bilhĂ”es em 2020 e deve crescer para US$ 15 bilhĂ”es atĂ© 2022, com quase metade dos profissionais de marketing dizendo que estĂŁo gastando mais de 20% de seu orçamento na atividade.
No topo da pirĂąmide estĂĄ o jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que cobra atĂ© US$ 1,6 milhĂŁo para dizer que usa determinado produto no Instagram. Mas existem influenciadores mais acessĂveis, como os que alçaram fama em reality shows e tentam capitalizar o momento com acordos de patrocĂnio.
O Brasil conta com cinco representantes na realeza do Instagram, segundo levantamento da Hopper HQ, startup britĂąnica especializada em engajamento nas redes sociais. Na lista com as 300 personalidades mais ricas da rede social aparecem Neymar, Caio Castro, Camila Coelho, Gracyanne Barbosa e Ronaldinho GaĂșcho.
Um post de Neymar para divulgar uma marca na rede pode custar atĂ© US$ 824 mil (R$ 4,1 milhĂ”es), segundo a empresa. O brasileiro Ă© o 16Âș perfil mais bem pago do mundo.
Os cinco erros
Para chegar aos cinco erros no marketing de influĂȘncia, a equipe de Rebecca Mardon estudou a reação de consumidores a publiposts das principais vloggers de beleza do Reino Unido no YouTube, Zoella, Lily Pebbles e FleurDeForce. Neste vĂdeo, Pebbles apresenta sua forma de trabalho com as marcas, explicando como o serviço Ă© cobrado e o que oferece Ă s empresas.
“Constaamos que o trabalho que nĂŁo leve em consideração essas responsabilidades ao apresentar produtos Ă s pessoas pode causar danos Ă reputação dos prĂłprios influenciadores e das empresas que eles representam”, afirmou a pesquisadora.
Veja os erros de marketing mais comuns, de acordo com a pesquisa:
1 – Divulgação inadequada
Espera-se que os influenciadores divulguem com clareza os posts patrocinados a seus seguidores, permitindo-lhes distingui-los do conteĂșdo orgĂąnico (que o influenciador posta “espontaneamente”). Os seguidores foram rĂĄpidos em identificar a situação e expressaram frustração quando sentiram que a diferença nĂŁo estava clara,
A audiĂȘncia tambĂ©m tinha expectativas adicionais. Por exemplo, muitos seguidores esperavam que os influenciadores divulgassem verbalmente os endossos, observando que eles costumam realizar vĂĄrias tarefas enquanto assistem aos vĂdeos do YouTube e podem facilmente perder divulgaçÔes por escrito.
Embora os influenciadores carreguem o peso da culpa pela divulgação insuficiente, qualquer negatividade resultante também pode ser repassada para a marca.
2 – Falta de autenticidade
Alguns seguidores sentiram que os influenciadores tinham a responsabilidade de garantir que a maioria de seus vĂdeos fosse âorgĂąnicaâ e isenta de endossos. Eles foram sensĂveis Ă proporção de conteĂșdo orgĂąnico para conteĂșdo endossado no canal do influenciador no YouTube e responderam negativamente quando a promoção do produto começou a dominar.
Um comentou: âTodos os outros youtubers que vejo colocam anĂșncios em seus vĂdeos tambĂ©m, o que Ă© totalmente bom, mas [colocar anĂșncios] cada vĂdeo parece um pouco excessivo. Isso tambĂ©m nos faz questionar quais produtos vocĂȘ realmente gostaâ.
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Segundo Rebecca Mardon, isso ilustra as dĂșvidas sobre a autenticidade do influenciador. “Embora esse erro nĂŁo tenha causado danos Ă reputação da marca endossada, levou os consumidores a perceber esses influenciadores com ceticismo, provavelmente reduzindo sua eficĂĄcia como embaixadores de marcas”.
3 – Excesso de ĂȘnfase
A pesquisadora lembra ainda que os influenciadores sĂŁo vistos como tendo a responsabilidade de fornecer conteĂșdo valioso. “Descobrimos que os seguidores criticam as marcas que acreditam ter um alto nĂvel de controle sobre o conteĂșdo do influenciador, principalmente quando isso prejudica o prazer do espectador. Por exemplo, eles responderam negativamente quando sentiram que o influenciador havia recebido um script ou pediram uma alta frequĂȘncia de mençÔes ao produto”.
Uma resposta citada por ela dizia: âAdorei o vlog. Odiei as mençÔes do produto. No começo eu estava interessado nele, mas apĂłs a terceira menção eu estava pensando, ‘quĂŁo ruim pode ser este produto por precisar pagar por um nĂșmero X de mençÔes?’. Uma ou duas vezes seria o suficiente, mas presumo que a empresa pediu para ser nomeada mais do que o necessĂĄrio.â
A professora de marketing dĂĄ uma dica: os influenciadores devem ter um alto nĂvel de liberdade criativa sobre como um produto Ă© apresentado, permitindo-lhes produzir endossos de que seus seguidores apreciarĂŁo.
4 – Fadiga da marca
A responsabilidade dos influenciadores de fornecer conteĂșdo valioso tambĂ©m foi prejudicada quando as marcas contrataram muitos influenciadores dentro da comunidade para postar endossos semelhantes em rĂĄpida sucessĂŁo, disse Rebecca Mardon. “Saturar o pĂșblico-alvo dessa forma foi visto como repetitivo e enfadonho, provavelmente reduzindo a eficĂĄcia do post patrocinado”.
Na verdade, muitos alegaram, segundo a professora, que evitariam comprar dessas marcas.
Novamente, permitir o controle criativo do influenciador provavelmente produzirĂĄ endossos mais variados, reduzindo a fadiga da marca.
5 – Excesso de indulgĂȘncia
De acordo com a pesquisa, os fãs achavam que os influenciadores que recebiam quantidades excessivas de brindes (como viagens de luxo e grandes quantidades de mercadorias gråtis) tornavam qualquer endosso resultante menos confiåvel. Os consumidores até reclamaram que o custo desses incentivos caros aos influenciadores aumentaria o preço de varejo dos produtos da marca.
Muitos seguidores expressaram sentimento negativo em relação a essas marcas e planejaram evitå-las. As empresas devem reduzir os incentivos aos influenciadores ou garantir que publiposts beneficiem outros membros da comunidade por meio de competiçÔes ou brindes.
De modo geral, a atenção cuidadosa Ă seleção do influenciador, bem como ao momento e Ă execução da campanha, permitirĂŁo que as marcas evitem o risco de reação negativa de seu pĂșblico-alvo e aumentem o impacto de suas campanhas.
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