Londres – O The New York Times (NYT) é a mais nova empresa de mídia na crescente lista das que anunciaram a retirada de suas equipes da Rússia durante a guerra contra a Ucrânia por causa do agravamento da censura imposta pelo governo de Vladimir Putin a partir da aprovação da nova lei de fake news, no dia 5 de março.
O NYT tinha correspondentes na Rússia desde 1921 e essa é a primeira vez, em mais de um século, que precisa retirá-los do país.
Em contrapartida, a BBC News voltou atrás em sua decisão de parar a cobertura in loco e retomou a esquecida tecnologia de rádio de ondas curtas para informar os russos proibidos de acessar seus canais.
NYT retira correspondentes da Rússia após nova lei de censura
A nova lei aprovada no parlamento russo prevê até 15 anos de prisão para jornalistas que veicularem “notícias falsas” sobre as “operações militares” no país vizinho — em outras palavras, imprensa nacional e estrangeira estão proibidas de afirmar que a Rússia está em guerra com a Ucrânia.
A retirada da equipe editorial da Rússia foi anunciada pelo The New York Times na terça-feira (8) e atribuída as riscos de prisão para aqueles que tentam reportar de forma independente — sem aprovação do governo — o conflito com o país vizinho.
A lei censura a distribuição das chamadas “notícias falsas” na Rússia sobre a invasão da Ucrânia, que o presidente Vladimir Putin insiste em chamar de “operação militar especial”, e não guerra.
Uma porta-voz do NYT condenou a aprovação da lei de fake news garantiu que o jornal continuará a cobrir o conflito:
“A nova legislação da Rússia busca criminalizar reportagens independentes e precisas sobre a guerra contra a Ucrânia.
Para a segurança de nossa equipe editorial que trabalha na região, estamos retirando-os do país por enquanto.”
“Esperamos que eles retornem o mais rápido possível enquanto monitoramos a aplicação da nova lei.
Continuaremos nossa cobertura ao vivo e robusta da guerra, com reportagens acuradas sobre a ofensiva da Rússia na Ucrânia e as tentativas de sufocar o jornalismo independente”.
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A medida do NYT segue outras empresas de jornalismo e meios de comunicação que adotaram ações semelhantes para proteger a segurança de seus funcionários alocados na Rússia.
Entre elas, estão as emissoras norte-americanas CNN, ABC New, CBS News, a agência espanhola EFE, a televisão pública italiana RAI, a Rádio Canadá, as alemãs ARD e ZDF e a Bloomberg News.
A Discovery e a WarnerMedia, que devem concluir uma fusão no próximo mês, também interromperam as operações na Rússia após a aprovação da lei de censura.
Alguns dos últimos meios de comunicação russos independentes foram obrigados a fechar depois da decisão do parlamento do país, incluindo a estação de TV Dozhd e a estação de rádio Ekho Moskvy.
Nem o jornal que tem o detentor do prêmio Nobel da Paz de 2021 como editor ousou desafiar a nova legislação.
O Novaya Gazeta, editado por Dmitry Muratov, disse no dia 4 de março que estava removeria todas as reportagens sobre a guerra na Ucrânia porque a censura militar da Rússia está “entrando rapidamente em uma nova fase” e o jornal “não tem o direito de pôr em perigo a liberdade” de seus jornalistas.
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Para driblar censura, BBC usa transmissão de rádio na Rússia e Ucrânia
Assim como outros veículos ocidentais, a BBC também suspendeu suas operações na Rússia após a aprovação da lei de censura. No entanto, na terça-feira (8), anunciou a retomada de seus serviços em inglês no país e o rádio deve ser o grande aliado para informar o público do Leste Europeu sobre a guerra.
“Consideramos as implicações da nova legislação juntamente com a necessidade urgente de relatar de dentro da Rússia.
“Após uma deliberação cuidadosa, decidimos retomar a reportagem em inglês da Rússia esta noite (terça-feira, 8 de março), depois de ter sido temporariamente suspensa no final da semana passada.
“Contaremos esta parte crucial da história de forma independente e imparcial, aderindo aos rígidos padrões editoriais da BBC. A segurança de nossa equipe na Rússia continua sendo nossa prioridade número um”.
Ao anunciar a interrupção das atividades na sexta-feira (4), o diretor-geral da BBC, Tim Davie, disse que a nova lei parecia “criminalizar o processo de jornalismo independente” e alertou que sua equipe enfrentava ações legais “simplesmente por fazer seu trabalho”.
Apenas um dia antes, a BBC divulgou que trouxe de volta seu serviço de rádio de ondas curtas na Ucrânia e na Rússia para garantir que cidadãos em ambos países possam ter acesso a notícias durante a invasão.
A medida foi uma resposta ao bombardeio da principal torre de rádio e televisão de Kiev, ocorrida no dia 1º de março, que deixou um jornalista morto (leia mais abaixo).
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Driblando a censura, a BBC vai transmitir quatro horas de seu Serviço Mundial, lido em inglês, para a Ucrânia e partes da Rússia todos os dias.
“Muitas vezes se diz que a verdade é a primeira vítima da guerra”, disse Davie, em comunicado. “Em um conflito em que a desinformação e a propaganda são abundantes, há uma clara necessidade de notícias factuais e independentes nas quais as pessoas possam confiar.”
A transmissão de rádio de ondas curtas da BBC pode ser encontrada em 15735 kHz das 16h às 18h, e em 5875 kHz das 22h à meia-noite, horário da Ucrânia.
O rádio de ondas curtas usa frequências que podem percorrer longas distâncias e são acessíveis em rádios portáteis, tornando-se o método principal para alcançar ouvintes em zonas de conflito ao longo da história.
As ondas curtas foram amplamente usadas na Europa para transmitir informações durante a Segunda Guerra Mundial, e o uso atingiu o pico durante a Guerra Fria.
Mas à medida que a tecnologia de rádio se desenvolveu, juntamente com a adoção em massa de notícias online, as ondas curtas caíram em desuso em todo o mundo.
Após 76 anos, o Serviço Mundial da BBC encerrou sua transmissão em ondas curtas para a Europa em 2008.
Guerra já matou um jornalista e feriu outros cinco
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) contabilizou nesta semana os casos mais graves envolvendo jornalistas atacados por soldados russos durante a cobertura da guerra na Ucrânia.
O cinegrafista Evgeny Sakun, da Kiev Live TV, morreu após ser atingido no bombardeio da torre de televisão de Kiev. Outros cinco repórteres foram atacados a bala de forma deliberada desde o início da invasão russa, há menos de duas semanas.
Em nota, a ONG reiterou o apelo às autoridades russas e ucranianas para cumprirem suas obrigações internacionais de garantir a segurança dos repórteres em campo.
“Repórteres em campo são alvos de soldados russos, apesar de todas as regras que protegem os jornalistas”, disse Jeanne Cavelier, chefe do escritório da RSF na Europa Oriental e Ásia Central.
“Jornalistas são civis que mantêm o mundo informado sobre o andamento dos combates.
Eles devem ser capazes de trabalhar com segurança. Apelamos a todas as partes em conflito para que se comprometam imediatamente a proteger os jornalistas de acordo com o direito internacional.
Também recomendamos que os profissionais tenham o máximo de cautela diante dos muitos ataques de comandos russos enviados à frente como batedores”.
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