Londres – A rede social BeReal, autoproclamada anti-Instagram e que despontou como sensação entre a geração Z, está virando um negócio sólido que pode começar a assustar os concorrentes mais famosos.
Criada há dois anos pelos franceses Alexis Barreyat e Kévin Perreau, a plataforma descrita se tornou — mais uma vez — o aplicativo mais baixado para iPhone nos Estados Unidos na semana passada, justamente quando a Meta enfrentava uma tormenta pelas mudanças no Instagram para fazê-lo ficar parecido com o TikTok.
Novos aportes feitos nos últimos meses também deixaram a BeReal mais robusta. A empresa é agora avaliada em US$ 600 milhões (R$ 3,3 bilhões), segundo o site Business Insider. Especialistas apontam “fadiga” de redes e nostalgia como motivos para a explosão.
Rede social quadruplicou em valor de mercado
Com linguagem bem-humorada, a BeReal promete uma vida sem filtro e mais verdadeira. O app só permite a publicação de uma foto por dia, em horário incerto e sem uso de filtro.
Quando chega a notificação, o usuário tem apenas 2 minutos para conseguir enviar uma foto e descobrir onde estão seus amigos e o que estão fazendo.
A plataforma esnoba os concorrentes, dizendo:“A BeReal não o tornará famoso. Se quiser se tornar um influenciador, pode ficar no TikTok e no Instagram.”
Mesmo sem atrair os viciados em likes, a ideia está agradando. A Sensor Tower, empresa de pesquisa de mercado, calcula que o aplicativo já foi instalado em 20 milhões de smartphones no mundo.
Para a Apptopia, o número pode chegar a 29,5 milhões de downloads.
Os números ainda estão distantes das marcas dos concorrentes. Mas para quem acha que não é possível encarar uma big tech como a Meta ou o Twitter, vale lembrar o TikTok começou tímido, como plataforma de “dancinha”, e em 2021 ultrapassou o Google em número de acessos na internet.
Um sinal de que o projeto pode estar mesmo virando um grande negócio é a atenção de grandes investidores, que não costumam fazer apostas sem fundamento.
Em maio, a DST Global, empresa do investidor do Facebook Yuri Milner, injetou mais US$ 85 milhões na plataforma, fazendo o valor da empresa quadruplicar, conforme reportou a Business Insider.
Como a plataforma não tem anunciantes, o jornalista Casey Newton, da newsletter Platformer, destaca que esse é um marco significativo num momento em que os investidores de risco agem com mais cautela por causa dos tombos financeiros na pandemia.
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Sucesso pode ter a ver com nostalgia
Para especialistas, o sucesso da BeReal pode ter relação com dois fatores principais: fadiga das atuais plataformas de mídia social e nostalgia.
No site, a BeReal é descrita como o “aplicativo de compartilhamento de fotos mais simples para mostrar uma vez por dia sua vida real a amigos.”
E vale a ênfase em “vida real”, já que filtros e botões de edição não fazem parte da interface.
Entre as promessas dos criadores, está a de “não desperdiçar” o tempo do usuário, já que as poucas funcionalidades não são muito atrativas para se gastar horas dentro do app.
https://youtu.be/uGITKbgv72Q
As limitações impostas pela BeReal são semelhante às de outros aplicativos em seus recém-lançamentos, destaca o jornalista Casey Newton.
É o que ele chama de “restrição criativa” — como os antigos 140 caracteres do Twitter ou os únicos 6 segundos do Vine.
“O cronômetro de contagem regressiva de dois minutos do BeReal foi inspirado em engenhosidade semelhante”, compara.
Forçar o usuário a “se limitar” é exatamente o oposto do que vemos atualmente no Instagram e TikTok. Essa pode ser uma explicação para ela estar dando certo.
O aplicativo da BeReal também apela para a nostalgia, segundo Newton. Isso porque sentimos falta de uma época em que apenas nossos amigos mais próximos eram nossas conexões online, o que nos deixava mais livres para sermos mais autênticos.
“Esse sentimento, combinado com o orgulho de ser um dos primeiros a adotar a próxima grande novidade, pode levar a nova rede longe”, avalia o jornalista.
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A revista Vanity Fair também cita a nostalgia como pedra fundamental da BeReal:
“É uma combinação à lá Frankenstein da era de ouro dos seus antigos aplicativos – pense no feed do Instagram com poucos usuários, mas com a efemeridade íntima do Snapchat e o uso de uma vez por dia como no HQ Trivia ou Wordle.”
Na newsletter Media Genius, a jornalista Alexa Amster concorda que o elemento nostálgico foi o que conquistou os usuários da geração Z para o app, por isso, ela diz que não é uma surpresa que investidores e, principalmente, marcas estão começando a se interesse por ele.
E cita o exemplo da rede de restaurantes Chipotle que fez sua estreia na BeReal em abril ao postar um código promocional reutilizável válido para os 100 primeiros usuários que o creditassem.
Amster sinaliza que a autenticidade deve ser uma nova tendência no relacionamento das marcas com os internautas:
“Muitas marcas estão recuando em campanhas de influenciadores em favor de conteúdo gerado por usuários de pessoas ‘reais’.
Isso é cada vez mais necessário, pois outros aplicativos que enfatizam a autenticidade estão crescendo em popularidade.”