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Veja as melhores e as piores regiões do mundo para a liberdade de imprensa em 2023

A Coreia do Norte governada por Kim Jong Un e a Rússia de Vladimir Putin são destacadas como países em que a liberdade de imprensa está deteriorada segundo ranking global da Repórteres Sem Fronteiras

Coreia do Sul, liderada por Kim Jong Un (na foto em encontro com Vladimir Putin, presidente da Rússia) é o pior país em liberdade de imprensa no mundo (foto: Wikipédia)

Londres – O Global Press Freedom Index, publicado anualmente pela organização Repórteres Sem Fronteiras no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), analisa a situação do jornalismo em 180 países e mostra o cenário atual em cada região do mundo. 

Este ano o Brasil subiu 18 posições e ficou no 92º posto, como resultado de uma expectativa de melhoria da situação de ataques a jornalistas e veículos de mídia em relação ao governo de Jair Bolsonaro. 

Mas as Américas retrocederam, e deixaram de ter países onde a situação era classificada como boa, devido ao declínio da Costa Rica. Veja a análise de cada região. 

Europa, a região com melhor nível de liberdade de imprensa 

Os países da União Europeia são os que oferecem as melhores condições para os jornalistas trabalharem, mas ainda assim a situação é “confusa”, segundo a RSF, sobretudo por causa da guerra na Ucrânia.

Eles são analisados dentro da região Europa-Ásia Central, que foi a única a apresentar um percentual de situação considerada boa.

A Polônia, que teve um ano de 2022 relativamente calmo do ponto de vista da liberdade de imprensa, subiu nove posições e alcançou o 57º lugar, enquanto a França (24º lugar) subiu dois. 

No sentido oposto, a Alemanha caiu cinco posições e desceu para o 21º lugar, depois do registro de um número recorde de prisões e casos de violência contra jornalistas.

A diferença dos níveis de liberdade de imprensa entre os países membros da União Europeia diminuiu significativamente e o fenômeno pode ter relação com o momento em que a UE está discutindo uma legislação sem precedentes para garantir padrões comuns de liberdade de imprensa. 

No bloco, o número de países que melhoraram de posição foi duas vezes maior do que os que caíram. Entre os que melhoraram inclui-se a maioria dos membros orientais da União Europeia, provavelmente pela percepção de que a reportagem independente serve para contrabalançar a propaganda do Kremlin.

A Sérvia, onde a mídia pró-governo divulga propaganda russa, sofreu a maior queda entre os países da União Europeia nos Balcãs, caindo 12 posições, para o 91º lugar.

A pior classificação entre os países da União Europeia foi a da Grécia (107º lugar), onde os jornalistas foram espionados pelos serviços de inteligência e por um poderoso spyware.

 

Brasil e regiões do mundo no ranking de liberdade de imprensa

A pontuação da região foi fortemente impactada pelos fracos resultados dos países da Ásia Central, incluídos no mesmo bolo, o que fez com que ficasse com uma percentagem de 11,32% de países em situação “muito difícil”, maior do que a da África.

A Rússia, que tem parte do território na Europa e parte na Ásia, aproveitou a guerra na Ucrânia para levar adiante uma “limpeza” da mídia ao longo de 2022. 

A censura sistêmica e o êxodo forçado de meios de comunicação russos (e dos veículos estrangeiros independentes) abriram espaço para a disseminação de propaganda coordenada pela mídia pró-governo. 

A proibição das mídias sociais ocidentais beneficiou o Telegram, uma plataforma cujos usuários na Rússia (164º lugar entre os 180 países analisados) mais que dobraram em um ano. 

Esse é o meio que a mídia independente russa mais tem usado para driblar a censura. Mas por isso mesmo também tem sido invadido pelas redes de propaganda de Putin, com alguns canais do Telegram até rastreando os movimentos de jornalistas estrangeiros tidos como espiões.

Alguns países asiáticos tiveram quedas significativas em função do aumento de ataques à mídia, como o Quirguistão (queda de 50 posições, despencando para o 122º lugar), Cazaquistão (queda de 12 postos, caindo para 134º) e Uzbequistão (queda de 4 lugares, descendo para 137º).

O Turcomenistão (176º lugar) permaneceu entre os cinco de pior situação da liberdade de imprensa no mundo, depois que a censura e a vigilância sobre os jornalistas foram intensificadas depois da eleição em março de 2022 de Serdar Berdimuhamedow, filho do ex- presidente.

Américas: transições beneficiaram liberdade de imprensa 

As transições políticas determinadas por eleições beneficiaram a situação da liberdade de imprensa em dois importantes países das Américas.

No Brasil (que subiu para o 92º lugar), a saída do presidente Jair Bolsonaro reacendeu as esperanças de um retorno à normalidade nas relações entre governo e imprensa. O país subiu 18 posições, a maior escalada registrada na região no último ano.

Nos Estados Unidos, o governo Biden demonstrou uma disposição maior de manter boas relações com a mídia do que o governo anterior. Porém, mesmo assim o país caiu 3 posições, para o 45º lugar.

Os principais motivos da queda foram as contínuas dificuldades econômicas dos meios de comunicação norte-americanos, e os homicídios de dois jornalistas (Jeff German em 2022 e Dylan Lyons em 2023).

Também contribuíram para a piora o fim dos esforços no nível legislativo para apoiar a liberdade de imprensa (o PRESS Act), e a continuidade dos ataques do ex-presidente Donald Trump à mídia, mesmo fora do poder.

Em outras partes do continente, a polarização e a instabilidade institucional que caracterizam vários países da região geraram hostilidade contra a  mídia.

As sucessivas transições políticas dos últimos seis anos no Peru (caindo 33 posições, para o 110º lugar) alimentaram uma desconfiança geral não só contra as  instituições de modo geral como em relação à mídia local.

No Haiti (queda de 29 posições, para o 99º posto), a crescente instabilidade política desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021 criou uma aguda crise de segurança que transformou o Haiti em um dos países mais perigosos da região para os jornalistas.

No Equador (perda de 12 posições, caindo para o 80º lugar), a desestabilização do país, devido à crescente influência de organizações criminosas, também tem causado uma deterioração significativa das condições de trabalho dos jornalistas.

No México (128º lugar), o clima de extrema violência gerado pelos cartéis e seu frequente conluio com autoridades e políticos têm contribuído para o enfraquecimento crescente do jornalismo local.

O país com a pior situação de liberdade de imprensa nas Américas é Cuba, que também figura entre os 10 piores do mundo, na 172º posição.

África e Ásia-Pacífico em crise

Mesmo que a África tenha visto algumas melhorias pontuais significativas, como a subida de 35 posições de Botswana (alcançando o 65º lugar), o jornalismo tornou-se mais difícil no continente e a situação lá é classificada como “ruim” em quase 40% dos países (contra 33% em 2022).

Entre esses países com má situação de liberdade de imprensa incluem-se Burkina Faso, onde a retransmissão de emissoras internacionais foi proibida e jornalistas foram deportados, e os da região do Sahel, que está em processo de se tornar uma “ zona sem notícias”.

Vários jornalistas também foram assassinados na África, incluindo Martinez Zongo em Camarões (138º lugar no ranking).

Na Eritreia, os meios de comunicação permanecem na posse do Presidente Issaias Afwerki, o que mantém o país entre os dez piores do ranking global, na 174º posição.

A Ásia-Pacífico continua a ter alguns dos piores regimes do mundo no trato com os jornalistas. No Afeganistão (152º lugar), o ambiente para os repórteres continua a piorar e as mulheres jornalistas foram literalmente removidas da vida pública.

Pior ainda é a situação em Mianmar, o segundo maior carcereiro de jornalistas do mundo desde o golpe militar em fevereiro de 2021. O país figura entre os  dez piores do ranking global, na 173º posição.

No Oriente Médio, jornalistas sequestrados e desaparecidos

A região com pior desempenho no ranking da liberdade de imprensa é a do Oriente Médio e Norte da África (conhecida pela sigla MENA, em inglês).

Ela continua sendo a região do mundo mais perigosa para os jornalistas, com situação classificada como “muito ruim” em mais da metade de seus países.

Embora a Palestina tenha subido 14 postos, sua posição permaneceu baixa (156º lugar), depois que mais dois jornalistas foram mortos em 2022.

Na região do Maghreb, a prisão do empresário de mídia Ihsane El Kadi confirmou o crescente autoritarismo na Argélia, que perdeu duas posições e caiu para o 136º lugar. A Arábia Saudita permanece enraizada na parte inferior do índice, na 170ª posição. 

A pontuação muito baixa de alguns países da região deve-se particularmente ao grande número de jornalistas desaparecidos ou mantidos como reféns.

Incluem-se entre eles o Iraque (167º lugar), o Iêmen (168º) e a Síria, outro integrante do grupo dos dez países com pior nível de liberdade de imprensa no mundo, na  175º posição. 

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