L0ndres – Enquanto bandeiras dos países que fazem parte da Commonwealth (Comunidade Britânica das Nações) enfeitam a avenida por onde o rei Charles e a rainha Camilla passarão neste sábado, seis das 14 nações que ainda têm o monarca britânico como chefe de Estado optariam pelo fim da monarquia caso houvesse um referendo amanhã. 

É o que revelou uma pesquisa divulgada a dois dias da festa da coroação, feita pelo Lord Ashcroft Polls, instituto comandado por Michael Ashcroft, um empresário que já foi vice-Presidente do Partido Conservador, alinhado ao regime atual.

Nos oito países em que não houve maioria a favor do fim da monarquia, as margens foram pequenas. Em sete deles, a morte da rainha Elizabeth é considerada o motivo para rever o atual modelo. 

Os riscos do fim da monarquia sob Charles 

Na mesma pesquisa, o instituto constatou que na Grã-Bretanha o apoio é maior, de 56% em média, mas ainda assim preocupante para o futuro da monarquia sobretudo na Irlanda do Norte, onde o número de pessoas que querem o fim da monarquia já é maior do que os que preferem a continuidade (46% contra 42%). 

Na faixa etária de 18 a 24 anos só respectivamente 28% se declararam a favor da monarquia. 

Depois da festa da coroação, o rei Charles III terá uma difícil missão pela frente para conter os movimentos republicamos em nações importantes como Canadá e Austrália. 

Dos entrevistados, 42%  dos australianos são  a favor de uma república e 35% contra. No Canadá as taxas são de 47%  a favor de mudanças e apenas 23% desejando continuar com a monarquia. 

 

 

Outros onde a população se disse favorável a ter um chefe de Estado eleito foram Bahamas, Jamaica, Ilhas Salomão e Antígua e Barbuda. 

Na Nova Zelândia, Belize, Granada, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Tuvalu – a situação não é tão grave, mas também desperta preocupações, com as populações divididas. 

Em linha com a pesquisa, dois países se manifestaram formalmente esta semana sobre mudanças. 

Em uma entrevista à Sky News, a ministra de assuntos jurídicos e constitucionais da Jamaica, Marlene Malahoo Forte, disse que o país poderá ter um referendo já em 2024. 

Belize, país que o rei Charles III nunca visitou, é outro que pode se antecipar.

Em uma entrevista, o primeiro-ministro, Johnny Briceño, criticou a recusa de seu colega britânico Rishi Sunak em se desculpar pelo papel da Grã-Bretanha no comércio de escravos e disse que era “bastante provável” a mudança para o regime republicano. 

No entanto, a pesquisa Lord Ashcroft Polls apontou que a população não está ainda convencida. 

Coroação inclusiva do rei Charles 

A cerimônia da coroação do rei Charles está incorporando elementos inclusivos, como preces em diferentes idiomas e participação de representantes dos países da Commonwealth, movimento importante para conter a ideia de fim da monarquia. 

Embora a popularidade da rainha Elizabeth fosse mais alta, o problema não é aversão ao rei Charles. A maioria dos oito países pesquisados ​​na região do Caribe têm uma visão positiva do rei, exceto as Bahamas, onde 38% não o admiram. 

Mas fora do ambiente festivo e da simpatia, o movimento republicano ganha força. 

Em 2021, um tour dos príncipes William e Kate ao Caribe se transformou em uma crise de relações públicas, com o cancelamento de visitas a localidades devido a protestos. 

Veja os principais resultados da pesquisa Lord Ashcroft Polls sobre cenários de referendos locais (sem incluir os indecisos):

  • A monarquia perderia em em Antígua (por 47% a 45%), Bahamas (por 51% a 27%) e Jamaica (por 49% a 40%).  
  • A monarquia ganharia em Belize (por 48% a 43%), Granada (por 56% a 42%), St Kitts & Nevis (por 52% a 45%), St. Lucia (de 56% para 39%) e São Vicente e Granadinas (de 63% para 34%).
  • Mais de 75% dos eleitores pró-república em todos os 8 países entrevistados na região disseram que tornar-se uma república traria benefícios reais e práticos.
  • O restante disse que a monarquia estava errada por princípio e deveria ser substituída, havendo benefícios práticos ou não.
  • A maioria dos eleitores pró-república na Jamaica e em St. Kitts disse que a monarquia foi boa para seu país no passado, mas não faz sentido hoje.
  • Nos outros 6 países, a maioria dos eleitores pró-república disse que a monarquia nunca deveria ter feito parte de como seu país era governado.

  • Nos três países onde mais votariam para uma república do que para manter a monarquia, as maiorias (53% em Antígua , 69% nas Bahamas , 75% na Jamaica) concordaram que “em um mundo ideal não teríamos a monarquia, mas há coisas mais importantes para o país lidar.”
  • Apesar de seus votos de “referendo”, as maiorias em Antígua (55%) e na Jamaica (62%) concordaram que a monarquia proporciona mais estabilidade em seu país.
  • Com exceção das Bahamas , a maioria em todos os países entrevistados na região concordaram que o rei pode unir todos, não importa em quem votaram, e que a família real se preocupa muito com seu país em particular.
  • Solicitadas a escolher entre duas declarações, as pessoas em Antígua , Belize , São Cristóvão , Santa Lúcia e São Vicente eram mais propensas a ver a monarquia como uma força valiosa para estabilidade e continuidade.
  • Nas Bahamas , Granada e Jamaica o público se mostrou mais propenso ao fim da monarquia, vendo-a como parte de um passado colonial que não tem lugar em seu país hoje.

Um total de 22.701 adultos foram entrevistados nos países onde o rei Charles é chefe de Estado.

Também foram feitas entrevistas em profundidade com 44 grupos formados por pessoas de diferentes origens no Reino Unido e em oito países: Austrália, Bahamas, Belize, Canadá, Jamaica, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão.

Para Michael Ashcroft, as opiniões sobre o fim da monarquia na era Charles III têm mais a ver com a forma como as pessoas veem seu próprio país e sua relação com a Grã-Bretanha e a Coroa do que com o que pensam do novo rei ou de sua família.

Muitas vezes encontramos uma tensão entre, por um lado, a visão das pessoas sobre seu caráter nacional, seu desejo de afirmar a independência e o desejo de romper com os erros históricos e, por outro lado, a estabilidade e a tranquilidade que muitos acreditam que a monarquia ainda oferece.

Aqueles que acreditam que o acordo não pode ser justificado, então se perguntam se a alternativa provável seria uma melhoria – ou o suficiente para justificar o tempo e a energia política que teriam que ser desviados de outras prioridades para que isso acontecesse.

Ele observa que a realeza – leia-se o príncipe Charles e os membros principais da família- claramente não pode fazer campanha dentro dos países, mas terá que avaliar  o quanto esses relacionamentos são importantes e até que ponto está disposta a investir neles.