Londres – Camilla venceu e foi sendo coroada rainha da Inglaterra e de outras 17 nações neste sábado, mas Diana segue como a “rainha dos corações” na visão dos britânicos.
É o que mostram as pesquisas que incluem a princesa que morreu tragicamente há mais de 25 anos na lista de personalidades da realeza avaliadas pelos súditos.
Uma delas, feita pelo Lord Ashcroft Polls e divulgada dois dias antes da coroação de Charles III e de Camilla apontou que Diana continua como a terceira figura mais popular da realeza, 10 pontos percentuais acima do rei e 25 a mais do que a rival que foi amante de seu marido durante o período do casamento.
Considerando todos os integrantes da realeza, a rainha Camilla só é mais admirada do que pessoas que caíram em desgraça perante o público britânico: o príncipe Harry, Meghan Markle e o príncipe Andrew.
Outra pesquisa, do instituto YouGov, não incluiu a princesa Diana em sua rodada mais recente, e mostra a rainha Camilla em 9º lugar, com 38% de admiração.
Ela fica atrás das filhas do príncipe Andrew, que têm visibilidade menor, e do que os três menos populares na outra pesquisa.
Em 2022, 25 anos após a morte midiática da princesa Diana, uma pesquisa do mesmo instituto revelou que 72% do público britânico tinha uma visão positiva da falecida princesa, enquanto 67% tinham uma visão positiva do rei Charles.
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Outra pesquisa, do Instituto Ipsos feita a pedido da rede Sky News apenas com os integrantes da família que estão vivos (sem incluir a princesa Diana e a rainha Elizabeth II) trouxe William em primeiro, a princesa Anne em segundo o rei em quarto e a rainha Camilla em sétimo.
Rainha Camilla x princesa Diana e o RP desastrado
Não seria fácil para a mulher vista como destruidora de um lar de conto de fadas ganhar a admiração do público. Mas alguns movimentos recentes da família real podem ter contribuído para que ela não tenha avançado.
O convite para a cerimônia de coroação, na Abadia de Westminster, trouxe pela primeira vez a referência à Camilla como rainha, e não rainha consorte.
Foi um choque, porque havia um compromisso assumido pela Clarence House (residência oficial do então príncipe Charles) quando os dois se casaram, em 2005, de que ela seria conhecida como rainha consorte.
Em fevereiro de 2022, quando Elizabeth II completou 70 anos no trono, a mensagem para o povo pedia apoio ao futuro rei e à rainha consorte.
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Pode ser um ato de amor de um h0mem apaixonado, que agora recebeu a coroa ao lado do amor de toda a vida.
Mas como movimento de relações públicas foi infeliz.E deve ter ajudado a desencadear uma onda negativa que a realeza britânica não precisa neste momento, com sua existência cada vez mais colocada à prova por gerações mais jovens.
Fãs de Diana reagiram trocando a foto de perfil por imagens da princesa, em sinal de desagravo.
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A princesa Diana morreu de forma trágica e midiática, em um acidente de automóvel em Paris, junto com o namorado bilionário, em 1997.
Estava no auge de sua popularidade, cada vez mais linda, elegante e engajada em causas sociais, como o perigo das minas terrestres e a estigmatização de pessoas com o vírus da Aids.
Uma das imagens icônicas da princesa foi a caminhada entre minas em Angola, meses antes da morte. Em 2019, o filho Harry caminhou pelo mesmo local, agora livre de minas.
In 1997, Diana, Princess of Wales visited Huambo, Angola, to bring global attention to the effect of landmines on people’s lives.
22 years on, The Duke walked along the bustling street which was once the minefield where his mother was pictured. pic.twitter.com/r8jOsCISf1
— The Royal Family (@RoyalFamily) September 27, 2019
O acidente que tirou a vida de Diana provocou uma onda de teorias conspiratórias, incluindo a de que ela teria sido assassinada pela família real para que Charles pudesse casar com Camilla.
Nem o resultado das investigações realizadas na França apontando que o motorista do carro perseguido por paparazzi havia consumido álcool serviu para colocar fim às conspirações – e nem abalaram a admiração por Diana.
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Por que Diana ainda é tão querida?
A onda de homenagens à princesa Diana no Twitter deixa algumas lições sobre como ganhar simpatia e manter a admiração do público que não são válidas apenas para personalidades.
Diana foi sempre verdadeira. Não deve ter contado tudo, mas revelou sentimentos e inseguranças em entrevistas, como a famosa conversa no programa Panorama da BBC, em 1995.
Sutil, ela disse que “havia pessoas demais” no casamento. E a “pessoa demais” era justamente a que agora vira rainha.
Ela mostrou seu lado humano diversas vezes, como ao encarar de forma enérgica os fotógrafos que registravam seus momentos de lazer esquiando com os filhos para pedir privacidade.
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A favor de Diana há a sua aparência física e o fato de ter morrido jovem, congelada no tempo e no imaginário popular. Já Camilla chega ao “estrelato” mais madura, sem muito interesse em exibir uma face mais moderna.
Embora abrace causas contemporâneas como violência contra a mulher e literatura, suas roupas e corte de cabelo clássicos não a aproximam de pessoas mais jovens.
E são elas as que se mostram mais inclinadas a deixar de ter um rei como chefe de Estado.
A cerimônia de coroação grandiosa não era necessária, e nem acontece mais nas monarquias europeias. Ela é um ato de relações públicas para tentar conter a onda anti-monarquia.
Na tarde desta sexta-feira, véspera da coroação, Charles fez mais uma tentativa de ganhar simpatia, cumprimentado ao lado de William e Kate as pessoas que aguardam há dias acampadas para ver o cortejo real passar.
Por enquanto tudo é festa. Mas ele e Camilla têm pela frente a missão de fazer os admiradores de Diana esquecerem momentos que entraram para a história, como a frase dita quando o noivado foi anunciado e um jornalista perguntou se ele estava apaixonado:
“O que quer que ‘apaixonado’ signifique”.
E mais ainda, ele terá que convencer os súditos de nações da Commonwealth a manter o rei como chefe de Estado – o que seria mais fácil com uma estrela reluzente como Diana a seu lado.
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