Embora a Rússia tenha caído nove posições no ranking Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e a Ucrânia avançado 27, o país invadido na guerra não é unanimidade em suas práticas com a imprensa, motivando a organização a apresentar um plano de medidas.
Ao celebrar o aniversário dos Centros de Liberdade de Imprensa que instalou em Live e Kiev, a RSF fez uma série de recomendações à Ucrânia que abordam de forma discreta questões que têm gerado críticas dela própria e de outras organizações, apresentadas a autoridades e a assessores do presidente Volodymyr Zelensky.
Em quase um ano e meio de guerra, a Ucrânia foi recriminada por ter limitado acesso de jornalistas a zonas de guerra, cassado credenciais e acusado profissionais de imprensa de propaganda pró-Rússia
Cobertura de guerra na Ucrânia é ‘histórica’
Ao apresentar o plano em uma coletiva de imprensa em Kiev, capital da Ucrânia, o diretor-geral da RSF, Christophe Deloire, foi diplomático, sem críticas diretas ao país devastado pela guerra.
Ele disse considerar a cobertura da guerra entre Rússia e Ucrânia “histórica”, pois além dos riscos inerentes a conflitos, os veículos de imprensa enfrentam desinformação e propaganda.
Mas observou que essa tática não é exclusiva de apenas um país no conflito.
“A globalização de informação, a eliminação de intermediários no espaço de comunicação, e os meios tecnológicos para produzir e amplificar desinformação permitem [fazer] propaganda em um ambiente completamente novo.”
O secretário-geral também criticou os crimes de guerra cometidos pelas forças armadas russas “em escala industrial” contra jornalistas.
“Estamos impressionados com a resiliência da mídia apesar deste ambiente, e queremos ajudar a Ucrânia democrática a continuar nesta estrada, por isso nossas propostas para fortalecer esse espaço de informação.”
Jeanne Cavelier, diretora da organização para a Europa Oriental e Ásia Central, foi mais direta, cobrando do governo ucraniano uma posição concreta sobre restrições recentes de acesso:
“Com quase 15 mil jornalistas cobrindo a guerra, o credenciamento da mídia é um grande desafio para as autoridades ucranianas.
Pedimos uma declaração oficial e esclarecimentos sobre o levantamento das restrições de credenciamento de jornalistas na linha de frente e instamos as autoridades a combater qualquer discriminação contra os meios de comunicação”.
A RSF entregou ao governo ucraniano um plano de oito passos para o fortalecimento da cobertura jornalística da guerra da Ucrânia.
- Fim de restrições arbitrárias e discriminação em relação à cobertura da guerra pela mídia
- Apoio ao pluralismo e independência da imprensa ucraniana
- Garantia de financiamento para o jornalismo
- Encorajamento jornalismo de qualidade no ecossistema econômico e digital ao implementar o protocolo de emergência do Journalism Trust Initiative — passos que aceleram a avaliação de informações quando o cenário de mídia está em risco
- Adesão à Parceria Internacional para Democracia e Informação, uma iniciativa multilateral da RSF para criar e aplicar salvaguardas democráticas no campo digital
- Desenvolvimento e promoção da legislação proposta sob o nome de “sistema para proteção de espaços de informação democrática”
- Combate à impunidade de crimes de violência contra jornalistas, garantindo que isso se torne prioridade para o sistema judiciário
- Garantia de que aqueles responsáveis pela propaganda que incitou crimes de guerra sejam levados à justiça
Em 2022, a Ucrânia também foi criticada pela nova lei de mídia, que sob o pretexto de evitar desinformação russa, dá ao Estado para fechar veículos de imprensa.
Apesar das críticas e pressões de organizações enquanto a proposta era discutida no Congresso, a lei passou e foi sancionada por Volodymyr Zelensky.
Segundo a instituição, as propostas foram recebidas “com sinais positivos” pelas autoridades da Ucrânia.
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