Grandes crises, que deixam pessoas inseguras e fragilizadas, têm se revelado historicamente momentos propícios para o florescimento de teorias conspiratórias. A pandemia do novo coronavírus não é exceção. 

Com a providencial ajuda das redes sociais, o QAnon vem crescendo em seu país de origem, os Estados Unidos, e em todo o mundo, inclusive no Brasil. Já foi um fenômeno marginal, do tipo que a maioria das pessoas poderia ignorar. Mas nos últimos meses, com as pessoas em casa, tornou-se popular. 

Twitter, Facebook e outras redes sociais foram inundados com informações falsas relacionadas ao QAnon sobre Covid-19, os protestos Black Lives Matter e as eleições de 2020. E é por meio delas que os partidários do movimento vêm arrebanhando adeptos entre pessoas insatisfeitas, que se apegam a teses difíceis de acreditar. 

Já foi banido de algumas redes, muda de plataforma com frequência e seus líderes aprenderam a contornar a censura das plataformas evitando as palavras-chave que fazem os posts serem identificados como conteúdo perigoso. E assim vão seguindo a passos firmes, sensibilizando neste momento sobretudo aqueles que se rebelam contra medidas de isolamento social e contra a vacinação. 

Um exemplo da sua força: várias das teorias da conspiração mais populares na internet este ano − como “Plandemic”, documentário contendo alegações falsas e perigosas sobre a Covid-19, e uma teoria da conspiração viral que afirmava falsamente que a empresa de móveis online Wayfair estava traficando crianças − foram ampliadas e popularizadas pelos seguidores do QAnon.

Trump, o todo-poderoso

O QAnon é um movimento de extrema-direita que surgiu há três anos. Tem como guru uma figura anônima e misteriosa que só se manifesta em mensagens enigmáticas pela internet e atende pelo nome de Q (assinatura que pode ser de uma ou mais pessoas). Daí o nome, que vem da junção de Q com Anônimos.

Por ter a visão apocalíptica de que um dia de ajuste de contas está próximo (conhecido pelos seguidores como “A Tempestade” ou “O Grande Despertar”), o movimento assume ares de seita religiosa. Só que o todo-poderoso venerado é Donald Trump. 

Atuando como uma rede viral de apoio ao Partido Republicano, o QAnon defende  que Trump foi eleito para proteger os norte-americanos e comandar uma guerra secreta (a Operação Storm) contra uma elite mundial de pedófilos adoradores de Satanás (a cabala) que trafica e abusa impunemente de crianças, além de sumir com elas (geralmente em túneis). Os adeptos mais radicais adicionam as práticas de canibalismo e a extração de uma substância do sangue das crianças para o prolongamento da vida e a manutenção da juventude.  

Segundo eles, esses malfeitores, posicionados à esquerda do espectro político, fariam parte do “estado profundo” (deep state), distribuídos não apenas no governo, mas também no mundo dos negócios e entre celebridades de Hollywood e jornalistas, que estariam todos juntos conspirando para derrubar Trump. 

Os principais alvos do QAnon são os membros do Partido Democrata e, mais especificamente, Hillary Clinton, a rival de Trump nas últimas eleições. 

A destruição da cabala, segundo Q e seus seguidores, seria iminente, desde que contando com a ação dos “patriotas”, quando os membros das elites serão presos e executados.

Essa é a crença básica. Mas há tantos desdobramentos, desvios e debates internos que fazem do QAnon uma grande tenda de realidades paralelas compartilhadas, que acolhe diversas outras crenças complementares, como o antissemitismo (os judeus, e especialmente George Soros, estariam controlando o sistema político e as vacinas), racismo (atacando especialmente Barack Obama), negação do perigo do novo coronavírus e até seres alienígenas.

Apesar de todas as partes díspares da teoria, o que os une é o mesmo tipo de inclinação extrema contra o sistema que Trump usou para as eleições em 2016.

Difícil de acreditar? Nem tanto num país suscetível a teorias da conspiração como os Estados Unidos. E ainda mais porque Q faz seus seguidores acreditarem que seria um oficial de alta patente, com o mais alto acesso às informações ultrassecretas do governo norte-americano − justamente o nível Q.

Como tudo começou

Os primeiros posts de Q (chamados de “drops” pelos seguidores) apareceram na rede 4chan, em 28 de outubro de 2017. Todos foram assinados como “Q Clearance Patriot”, dando a entender que teria acesso a todos os segredos mais bem guardados do governo, como o das armas nucleares, por exemplo.

pastedGraphic.png

A rigor, o uso da expressão “Q Clearance” nem seria uma demonstração de intimidade com os termos secretos do governo, pois já tinha sido inclusive usado como título de um best-seller escrito em 1986 por Peter Benchley, o mesmo autor de Tubarão. 

A obra conta a história de um redator de discursos presidenciais (cargo na vida real exercido pelo próprio Benchley) que inesperadamente recebe um acesso de nível Q, sucedendo-se a partir daí lances de suspense e hilariantes em plena Guerra Fria. Mas a história de como o QAnon evoluiu a partir dos primeiros posts de Q não tem nada de engraçada. 

O surgimento do movimento de Q está imerso no caldo da última disputa pela Casa Branca entre Donald Trump e Hillary Clinton. Em seu primeiro post, ele retomou fake news da época da campanha do ano anterior, do caso conhecido como “Pizzagate”, e anunciou que uma operação já estaria em andamento para prender Hillary Clinton, a principal envolvida no caso. 

O movimento não acabou em pizza

O “Pizzagate” teve origem em outubro de 2016, quando o Wikileaks vazou e-mails roubados do líder da campanha de Hillary, John Podesta. Em vários deles, Podesta conversava com o proprietário de uma pizzaria de Washington muito frequentada por crianças e adolescentes, a Comet Ping Pong, sobre eventos de arrecadação de fundos no estabelecimento.

Partidários de Trump (tendo à frente Alex Jones, do site de teorias de conspiração Infowarse) começaram então a divulgar (inicialmente na 4chan e depois no Twitter e no YouTube) que esses e-mails seriam a prova de uma rede de abuso infantil ritualístico, sendo “pizzas” e “massas” os códigos para “meninas” e “meninos”. A rede seria comandada por Hillary Clinton e os rituais ocorreriam justamente no porão da Comet Ping Pong. 

A fake news ganhou tanta força que, mesmo após a vitória de Trump, permaneceu como realidade para muitas pessoas, entre elas Edgar Welch, que cerca de um mês depois da eleição, num domingo, no dia 4 de dezembro de 2016, invadiu a Comet Ping Pong. Munido de um rifle e duas pistolas, tinha o intuito de libertar as crianças que estariam presas no porão. Enquanto os frequentadores fugiam, ele disparou contra o cadeado de uma porta, abriu-a, e descobriu que… a pizzaria não tinha porão!

Welch rendeu-se à polícia em rede nacional, mostrou-se arrependido no tribunal e foi sentenciado a quatro anos de prisão. No julgamento, apresentou uma carta assinada ao juiz reconhecendo o “quão tola e imprudente” tinha sido sua atitude. Alex Jones, ameaçado de processo pelo dono da pizzaria, também pediu desculpas públicasl.

Mas a ideia de membros poderosos da elite abusando de crianças e safando-se impunemente não foi sepultada aí. Continuou pelas redes, principalmente na 4chan, até ser potencializada pelo surgimento de Q, dando conta não apenas da prisão de Hillary como também de violentas revoltas que irromperiam por todo o país dois dias depois.

Se os fatos não confirmam as previsões, pior para os fatos

O fato de nada disso ter acontecido e de Hillary nunca ter sido detida não fez diferença. Protegido pelo anonimato, ao contrário dos protagonistas identificados no “Pizzagate”, que acabaram condenados ou tendo que se retratar, Q potencializou e assumiu a liderança do movimento, com uma postura de que toda contradição pode ser explicada, e nenhum argumento contrário pode prevalecer.

Q já previu que prisões em massa de membros da cabala ocorreriam em determinados dias, que certos relatórios do Governo revelariam os crimes dessas elites e que os republicanos ganhariam cadeiras na Câmara na eleição de meio de mandato em 2018. Nenhuma dessas previsões se concretizou. Mas isso não importa para os seguidores. Eles fazem reinterpretações para passar por cima das discrepâncias, ajustam a narrativa e seguem em frente.

Mensagens codificadas 

Ao estilo Nostradamus, Q faz profecias cifradas, que aumentam o senso de pertencimento de seus seguidores a uma sociedade secreta e até dão um senso lúdico que aumenta o interesse dos adeptos em decifrá-las. Por exemplo, ele nunca se refere às pessoas pelo nome, mas por siglas. Assim, Trump vira POTUS (President Of The United States), e assim por diante. A boa notícia é que, uma vez decifrados, os códigos não mudam nas mensagens seguintes.

Muitos seguidores do QAnon usam aplicativos “Q Drop”, que reúnem todas as postagens de Q em um só lugar (desde o início, já foram mais de 5 mil) e os alertam sempre que uma nova chega. Um desses aplicativos chegou a ser um dos dez principais entre os pagos na loja virtual da Apple, até ser retirado pela empresa. Os adeptos então publicam esses drops em grupos do Facebook, tópicos do Twitter e outras redes de discussão, e começam a debater o que as mensagens enigmáticas significam.

Acostumados à busca de sinais ocultos, os adeptos do QAnon frequentemente interpretam os atos de Trump como o de um deus-imperador que lhes envia mensagens codificadas de apoio. O próprio slogan do QAnon, “We Are the Storm”, foi extraído de uma fala do presidente, que brincou durante uma sessão de fotos com generais em 2017, antes mesmo de Q publicar seu primeiro post: “Vocês sabem o que isso representa? Talvez seja a calmaria antes da tempestade”.

Assim, bem ao estilo do filme A vida de Brian, do grupo inglês Monty Python, em que os seguidores de Brian buscavam significados ocultos em coisas comuns que ele fazia, em várias ocasiões os seguidores do QAnon comportam-se da mesma forma em relação a Trump.

Quando, por exemplo, o presidente norte-americano diz o número 17, acham que lhes está enviando mensagens secretas, por ser Q a 17ª letra do alfabeto. E se Trump usa uma gravata rosa, interpretam como um sinal de que ele está libertando crianças que haviam sido traficadas, pois alguns hospitais usam “código rosa” para indicar sequestro de crianças. 

Os principais bordões

Fazendo uso de previsões sinistras, frases enigmáticas e perguntas retóricas, Q dissemina uma visão apocalíptica e alguns de seus bordões preferidos são “Nada pode impedir o que está por vir”, “A calmaria antes da tempestade”, “Confie no plano” e o mais impactante “Aproveite o show”, como referência ao ajuste de contas que se aproxima.

Com esse espírito, Q estimula seus seguidores contra instituições, governos (à exceção de Trump) e a própria imprensa, dizendo aos adeptos: “Você é a notícia agora”. Outro bordão que caracteriza o grupo é “Where We Go One, We Go All”, representado pela hashtag WWG1WGA, que costuma ser usada nas mensagens e nos eventos do grupo.

O impulso das mídias sociais

Para não ter seu anonimato desvendado, Q muda de plataformas. Seus posts, que começaram na rede 4chan, passaram para a 8chan e daí para a 8kun.

Mas mesmo com as postagens de Q aparecendo em fóruns de mensagens marginais, seus seguidores fizeram o movimento ganhar as principais plataformas e o transformaram em fenômeno de popularidade em Twitter, Facebook e YouTube. Essas plataformas acabaram por amplificar as mensagens, ao recomendar grupos e páginas QAnon para novas pessoas por meio de seus algoritmos.

Alguns dos grupos QAnon mais populares no Facebook têm mais de 100.000 membros. Um levantamento recente da NBC News descobriu que o Facebook realizou um estudo interno sobre a presença do QAnon em sua plataforma e concluiu que havia milhares de grupos do QAnon, agregando milhões de membros entre eles. Um artigo recente no The Wall Street Journal descobriu que o número de membros em dez grandes grupos do Facebook dedicados ao QAnon cresceu mais de 600% desde o início da pandemia.

Esse crescimento veio acompanhado do uso das mídias sociais pelos membros do QAnon para assediar, intimidar e ameaçar seus inimigos percebidos. E para semear desinformação, o que acaba influenciando o debate público. 

Isso fez com que as redes, que impulsionaram o grupo, passassem a se preocupar com ele. A primeira a tomar medidas foi a Reddit, em 2018. Em julho deste ano, o Twitter baniu milhares de contas ligadas ao QAnon e mudou algoritmos para reduzir a disseminação da teoria. O Facebook derrubou quase 800 grupos QAnon, mas as mensagens continuam se disseminando na rede, com vídeos em que os seguidores abertamente mostram cartazes com as palavras “censuráveis” para não serem detectadas pelos algoritmos.

Ameaça terrorista doméstica

Além dos ataques online, os seguidores do QAnon passaram a ser temidos também por incitarem e até praticarem a violência física. O perigo maior é que alguns deles realmente acreditam que os líderes do partido ao qual se opõem estão sequestrando e canibalizando crianças inocentes. Isso potencializa muito os riscos de enfrentamentos, já possíveis de acontecer em um ambiente político polarizado sem esse tipo de crença.

Assim, no ano passado um seguidor de QAnon foi acusado de assassinar um chefe da máfia em Nova York. Outro foi preso em abril, acusado de ameaçar matar Joe Biden, o candidato presidencial democrata. 

Mas o caso mais emblemático é o de Matthew Wright, que durante julgamento em fevereiro deste ano declarou-se culpado de ato de terrorismo. Ele foi preso pela polícia do Arizona em junho de 2018 munido de dois rifles de assalto, duas pistolas e 900 cartuchos de munição, depois de ter estacionado um veículo blindado caseiro na ponte junto à represa Hoover, sobre o Rio Colorado. Em uma carta escrita na prisão, explicou que seu ato foi motivado por patriotismo, e ao final usou a frase “para onde vamos um, vamos todos”, identificando-se como um membro QAnon. As autoridades locais informaram que ele enviou outra carta ao presidente Trump.

Em maio deste ano, um memorando interno do FBI classificou o QAnon como ameaça terrorista doméstica, alertando que “indivíduos que alegam agir como investigadores alimentam o risco de violência extremista ao destacarem pessoas ou empresas como envolvidos em seu esquema imaginário”. Foi a primeira vez em que o FBI classificou uma teoria da conspiração dessa forma.

 

O empurrão presidencial ao QAnon…

Existem poucos lugares onde a visibilidade do QAnon foi maior do que no Twitter, graças ao próprio presidente Trump, que retuitou seguidores da QAnon pelo menos 201 vezes, de acordo com uma análise da Media Matters. E mais de 20 mil de seus seguidores no Twitter ostentam em seus perfis slogans ou referências ao QAnon. 

Embora o presidente não siga nenhuma conta relacionada ao QAnon, ele obtém parte de seu material questionável no Twitter a partir das 47 contas que segue, as quais por sua vez seguem mais de 50 contas que têm referências QAnon em seus perfis. 

… e o empurrão do QAnon à campanha presidencial

Linguagem, imagens e ideias tiradas do QAnon agora são um recurso regular das mensagens da campanha de Trump. Em junho, o filho Eric Trump promoveu o QAnon em um post no Instagram antes do comício do presidente em Tulsa, Oklahoma, fornecendo visibilidade para o movimento junto aos seus 1,5 milhão de seguidores. 

A postagem mostrava uma bandeira americana com a mensagem “Quem está pronto para o comício de hoje à noite?”, acompanhada da letra “Q” e, na parte inferior, do acrônimo WWG1WGA. A postagem foi posteriormente deletada

É comum a participação de adeptos do QAnon nos comícios de Trump, nos quais começaram a aparecer em outubro de 2018. E um dos vídeos da campanha para as eleições presidenciais deste ano, “Mulheres por Trump”, mostra o símbolo Q.

Slogan do Partido Republicano do Texas é do QAnon

Não é só na campanha em nível nacional que o QAnon se faz presente. Na demonstração mais visível da proximidade entre o Partido Republicano e o movimento, no  final de julho a representação estadual no Texas elegeu como seu slogan para as próximas eleições o lema “Nós somos a tempestade”, o mesmo do QAnon. 

Mas nem todos os membros do partido local concordam com a ideia. “Já tivemos líderes republicanos que trabalhariam para manter os extremistas longe do poder. Agora eles os abraçam e apoiam suas ideias malucas e perigosas”, disse Rudy Oeftering, um dos principais membros locais e ex-presidente da Associação de Negócios do Texas. “Os lunáticos”, acrescentou ele, “passaram a administrar o asilo”. 

QAnon no Congresso Sua atuação como um dos segmentos mais fervorosos de apoio a Trump pode fazer com que o QAnon conquiste uma representatividade própria no Congresso. Há mais de uma dúzia de republicanos concorrendo em novembro com algum grau de ligação ao movimento. A maioria tem poucas chances de se eleger, mas há pelo menos três boas possibilidades. 

Na Georgia, a indicada republicana à Câmara foi a candidata pró-QAnon mais declarada do país, Marjorie Taylor Greene, que em 2017 chamou o movimento de “uma oportunidade única na vida para acabar com essa conspiração global de pedófilos adoradores de Satanás”. Está com a cadeira quase garantida, em virtude do eleitorado local profundamente conservador.

Pelo menos dois outros candidatos que sinalizaram apoio ao QAnon conseguiram derrotar os concorrentes em primárias competitivas: Lauren Boebert, uma candidata do Colorado à Câmara, derrotou um representante republicano de cinco mandatos em um primária em junho. Jo Rae Perkins, candidata republicana ao Senado por Oregon, declarou em maio: “Eu estou com Q e a equipe”.

Para a BBC, é provável que pelo menos um apoiador do QAnon ganhe uma cadeira no próximo Congresso.

O endosso do presidente 

No dia 19 de agosto, em uma reunião na Casa Branca, Trump foi questionado diretamente sobre o grupo pela primeira vez. “Não sei muito sobre eles, exceto que são pessoas que amam nosso país e gostam muito de mim”, disse ele. 

Quando um repórter explicou que o ponto crucial da teoria era de que o presidente dos Estados Unidos estaria lutando contra um culto satânico formado por pedófilos e canibais, Trump não questionou o movimento ou a veracidade das informações e esquivou-se com uma pergunta: “Mas isso não é uma coisa boa?”.

Depois dessa entrevista, o senador Ben Sasse, republicano de Nebraska, disse: “Verdadeiros líderes chamam as teorias de conspiração de teorias da conspiração”. E arrematou: “Se os democratas tomarem o Senado, isso será um dos principais motivos de terem vencido”.

Um em cada quatro norte-americanos conhece pelo menos um pouco o QAnon, segundo o Pew Research Center 


 Apesar da disseminação do QAnon, antes da pandemia, cerca de três quartos dos adultos norte-americanos (76%) disseram que não ouviram ou leram nada sobre o movimento, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center realizada em fevereiro e março. Cerca de um quarto (23%) afirma ter ouvido ou lido muito ou pouco, com 3% dizendo que ouviram ou leram muito. 

Quase metade dos que acompanham de perto as notícias políticas via imprensa nos EUA conhecem o QAnon

Cerca de 43% dos adultos que seguiam de perto as notícias eleitorais e políticas conhecem pelo menos um pouco o QAnon. Entre os que não acompanham tão de perto, esse percentual cai para 24%. Aqueles que obtêm suas notícias eleitorais e políticas principalmente do The New York Times (59%), MSNBC (49%) ou NPR (39%) são mais propensos a dizer que ouviram ou leram pelo menos um pouco sobre QAnon. E 7% dos leitores do New York Times disseram que já ouviram ou leram muito − a maior parcela de qualquer grupo. Em contraste, cerca de dois em cada dez consumidores cuja principal fonte de notícias é a CNN (23%) ou a Fox News (19%), e cerca de um em cada dez cuja principal fonte de notícias é a CBS (11%) ou a ABC (8% ) disseram que ouviram ou leram pelo menos um pouco sobre as teorias da conspiração.

 

Um em cada quatro dos que usam as mídias sociais como principal fonte de notícias políticas nos EUA conhecia o QAnon antes da explosão da pandemia

De modo geral, 25% dos usuários que buscam notícias sobre as eleições principalmente nas mídias sociais conheciam pelo menos um pouco o QAnon. Esse conhecimento revelou-se maior entre os membros das redes Reddit e Twitter, sendo que 47% dos usuários da primeira e 38% da segunda responderam que conhecem pelo menos um pouco sobre o movimento. Os que apresentaram menor conhecimento foram os que utilizam o Facebook e o Instagram como sua principal fonte de notícias eleitorais.

 

Ganhando o mundo

O curioso é que uma teoria de conspiração doméstica, focada inicialmente numa disputa presidencial interna norte-americana, vem ganhando o mundo e sendo adaptada para audiências internacionais, apoiando-se em seguidores de seitas apocalípticas (como as da Nova Era) ou de líderes populistas de direita, aliados à visão de Trump. 

O movimento já desenvolveu bolsões de apoio na Europa nos últimos meses e já tem presença no Brasil. Resta saber quais serão os próximos passos de Q e de seu movimento num cenário de derrota do todo-poderoso venerado pelo movimento nas próximas eleições presidenciais de novembro. Aproveitem o show.