Londres – A COP26 dedicou boa parte de sua programação ao debate sobre a mobilização de recursos para fazer frente aos efeitos do aquecimento global, inserindo as finanças climáticas como pauta prioritária dos debates e da imprensa.
O Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas diz que a imprensa pode contribuir para destravar esse processo, ajudando a contextualizar o volume de dinheiro necessário, a demonstrar que as verbas existem e qual o caminho para canalizá-las para o clima:
Esta matéria faz parte do Especial COP26 – veja o relatório
Finanças climáticas são grande desafio para a solução da crise
Sem investimentos, é impossível limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, como prevê o acordo de Paris, e que foi ratificado na conferência de Glasgow.
O custo para atingir a meta é alto: US$ 4,3 trilhões por ano, segundo dados compilados pela Climate Policy Initiative (CPI).O valor indicado como necessário é 43 vezes maior do que um dos números mais badalados durante a COP26, o dos US$ 100 bilhões em investimentos anuais no clima que os países ricos tinham se comprometido a repassar aos mais pobres a partir de 2020 – e não cumpriram.
O problema é que quanto mais esses investimentos são adiados, mais distantes ficam as mudanças estruturais necessárias para a transição para uma economia de carbono zero, e mais difícil fica reverter as mudanças climáticas e seus danos potenciais.
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“Mais que nunca, será fundamental o apoio da imprensa com uma cobertura que esclareça a opinião pública sobre a dimensão dos números e os desafios das mudanças climáticas do ponto de vista econômico”, aponta a organização, conhecida como The Lab.
A organização já mobilizou mais de 3 bilhões de dólares desde 2014 para apoiar 55 projetos climáticos em países emergentes, sendo dez deles no Brasil.
Com essa experiência, seus especialistas destacam quatro tópicos essenciais para facilitar o entendimento da crise climática do ponto de vista financeiro:
Contextualização dos investimentos
Os especialistas do The Lab enfatizam que para fazer frente aos efeitos do aquecimento global, é preciso destinar trilhões de dólares por ano, e não bilhões. E sugerem à imprensa explicar exatamente o que esses números significam.
Alguns exemplos:
Os US$ 4,3 trilhões de dólares por ano que o mundo precisa destinar ao clima já são uma montanha de dinheiro equivalente a toda a riqueza a ser gerada em 2021 pela Alemanha, a quarta maior economia do mundo.
Os US$ 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos pelos países ricos, embora sejam equivalentes a toda a riqueza gerada por ano pelo Equador, estão muito aquém do necessário para um impacto significativo no clima.
Existe dinheiro para o investimento necessário
Todos esses trilhões por ano parecem um desafio impossível. Mas esses recursos existem – não se trata de dinheiro novo.
Os especialistas do The Lab salientam a importância de demonstrar que boa parte do dinheiro disponível está sendo canalizado para as indústrias de alto carbono.
Dessa maneira, o que sobra para o investimento para deter as mudanças climáticas é uma pequena fração do capital atualmente investido em atividades poluentes em setores como energia, transporte ou construção.
Um dado sugerido pela instituição para subsidiar a tese é o de que em 2018, 29% de todos os novos investimentos em energia no mundo foram para combustíveis fósseis, de acordo com o relatório Paris Misaligned?, do CPI. E isso apesar de o Acordo de Paris estabelecer que os investimentos em energia não-renováveis deveriam ser zerados.
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Investimento privado é a chave
O Panorama Global de Financiamento do Clima, elaborado pela Climate Policy Initiative, revela que os investimentos privados vêm aumentando sua participação no bolo total do financiamento mundial do clima, praticamente se igualando aos investimentos públicos na média anual em 2019 e 2020.
Nesse período, a média de investimentos públicos foi de US$ 321 bilhões por ano, contra US$ 310 bilhões dos investimentos privados, que aumentaram 13% em relação à média anual de 2017/2018.
O investimento total atual, portanto, da ordem de US$ 630 bilhões anuais, equivale a menos de 15% do valor necessário de US$ 4,3 trilhões. Como nenhum governo é capaz de prover todo o financiamento climático para o seu próprio país, o investimento necessário para o clima só será alcançado com a mobilização de recursos privados em larga escala.
Condições para aumentar o investimento privado
Segundo o The Lab, a fim de estimular a maior participação dos investimentos privados no financiamento de setores sustentáveis, os países têm buscado corrigir falhas internas, como políticas públicas deficientes, insuficiência de conhecimento técnico, desconhecimento das oportunidades internacionais disponíveis e falta de dados internos confiáveis.
Embora com diversas oportunidades na área da sustentabilidade, o Brasil se defronta com diversos desses obstáculos e deve trabalhar para superá-los e se tornar mais competitivo na captação de recursos ambientais.
Mas se são muitas as barreiras que dificultam a captação de investimentos favoráveis ao clima, há também uma série de soluções financeiras sendo aplicadas para reverter esse quadro.
São fundos, garantias, títulos, seguros e produtos de crédito que oferecem não apenas contrapartidas ambientais como também retorno a taxas de mercado para os investidores.
Explorar essas oportunidades e o tema inovação em finanças climáticas é uma ótima oportunidade para a imprensa ajudar a amenizar a crise gerada pelas mudanças climáticas, com ótimas pautas de interesse não apenas dos leitores, mas também dos ambientalistas que buscam financiamento, dos investidores e dos governos.