Londres – Embora tenha prometido em dezembro recorrer da sentença que o condenou a pedir desculpas e indenizar Meghan Markle pela publicação de trechos de sua carta ao pai, o tabloide Mail on Sunday desistiu e veiculou no dia de Natal (25/12) um aviso legal na primeira página reconhecendo a vitória da duquesa de Sussex.
A guerra de Meghan contra a Associated Newspapers, que publica o Daily Mail e o Mail on Sunday, levou três anos e terminou com um veredito que muitos veem como ameaça à liberdade de imprensa.
A Corte britânica considerou a publicação de trechos da carta manuscrita como infração de direitos autorais e quebra do direito à privacidade, entendendo que não havia interesse público na divulgação de seu conteúdo.
Tabloide aproveitou feriado para admitir derrota
O aviso legal, veiculado no dia de Natal, em que a leitura de jornais é reduzida devido ao feriado, seguiu o formato de tamanho e aparência determinados pela sentença da Suprema Corte.
Diferentemente do que fez em outras reportagens sobre o caso, o Daily Mail não fez qualquer comentário, limitando-se a fornecer os links para a sentença completa que o condenou pela publicação da carta de Meghan ao pai e para um resumo do julgamento sumário depois de uma fracassada tentativa de recurso no Tribunal de Apelações do Reino Unido.
Em 11 de fevereiro, o juiz Mark Warby da Suprema Corte de Londres havia ordenado que o The Mail on Sunday combinasse o pedido de desculpas com um “aviso” mais longo dentro do jornal com a manchete “A Duquesa de Sussex”, afirmando explicitamente que o tribunal considerou que “A Associated Newspapers infringiu seus direitos autorais [de Meghan] ao publicar trechos de sua carta escrita à mão para seu pai no The Mail on Sunday e no Mail Online. “
Ele também ordenou que o pedido de desculpas aparecesse na página inicial do MailOnline “por um período de uma semana” e incluísse um hiperlink para a sentença oficial e um resumo com o seguinte texto: “A sentença completa e o resumo do Tribunal podem ser encontrados aqui.”
Apesar de ter saído no meio do feriado, o assunto repercutiu em outros jornais e nas redes sociais, como tudo o que envolve Harry e Meghan.
Muitos ironizaram a forma como o jornal cumpriu a ordem judicial, parecendo querer esconder a notícia.
Um deles foi o jornalista Omid Scobie, co-autor da biografia dos Sussex, Finding Freedom (Encontrando a Liberdade).
Tucked away in the top left corner of page three is the court-ordered “short report” the Mail on Sunday were required to print following Duchess Meghan’s High Court win in May. In his judgement summary, judge Lord Justice Warby dictated the exact wording and font size to be used. pic.twitter.com/xHdvqEjJz0
— Omid Scobie (@scobie) December 25, 2021
A publicação do livro foi um dos argumentos utilizados pela defesa do Daily Mail no recurso apresentado ao Tribunal de Apelações.
O jornal conseguiu convencer um ex-assessor de comunicação do casal, Jason Knauf, que hoje trabalha para o príncipe William, a confirmar e provar com documentos que Harry e Meghan haviam autorizado que ele passasse informações para a biografia supostamente não autorizada.
Isso enfraqueceria a acusação de quebra de privacidade na publicação da carta de Meghan ao pai, pois seria um sinal de que eles não estavam muito preocupados em manter sua vida pessoal reservada.
Ela chegou a ter que pedir desculpas ao Tribunal e muitos interpretaram que esse movimento ajudaria na defesa da Associated Press, mas não foi o que ocorreu.
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A carta de Meghan ao pai
A correspondência de cinco páginas alvo do processo que durou quase três anos foi enviada por Meghan em 2018, após o casamento com o príncipe Harry.
Thomas Markle não foi ao casamento, alegadamente por ter sido submetido a uma cirurgia cardíaca.
Mas dias antes ele tinha provocado um terremoto ao se deixar fotografar por um suposto paparazzi vendo fotos da filha em um computador, o que irritou a família real e deliciou os tabloides britânicos
A briga com o pai acabou envolvendo outros membros da família Markle e turvou o brilho do casamento real, trazendo para a monarquia aquilo que ela mais teme: assuntos pessoais expostos ao público.
Tabloide terá que pagar indenização e custas
A primeira audiência do processo de Meghan contra o Mail on Sunday aconteceu em janeiro.
Em fevereiro, o juiz da Suprema Corte Mark Warby emitiu a primeira sentença, condenando a editora Associated Newspapers a pagar indenização a ser determinada (os advogados pediram 5 milhões de libras, equivalente a R$ 38 milhões) e mais 1,5 milhão de libras ( R$ 11,4 milhões) em custas judiciais.
O magistrado entendeu que as partes do texto publicadas tratavam do “próprio comportamento da reclamante, seus sentimentos de angústia sobre o comportamento de seu pai, como ela o via, e a divisão resultante entre eles. Estes são assuntos inerentemente privados e pessoais”.
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Em um primeiro momento a Associated Press teve negado o direito de apelar, mas conseguiu reverter a decisão em junho, só que não adiantou.
Em 2 de dezembro, três juízes do Tribunal de Apelações rejeitaram o argumento do jornal, acrescentando que “a Duquesa tinha uma expectativa razoável de privacidade no conteúdo da carta. Esses conteúdos eram pessoais, privados e não questões de legítimo interesse público”.
Falando depois de sua vitória, a duquesa Meghan chamou a vitória em tribunal duplo de “uma vitória não apenas para mim, mas para qualquer um que já sentiu medo de defender o que é certo”.
E repetiu a narrativa contra os jornais:
“Os tribunais responsabilizaram o réu e espero que todos comecemos a fazer o mesmo.
Por mais distante que possa parecer sua vida pessoal, não é. Amanhã pode acontecer com você.
Essas práticas prejudiciais não ocorreu uma vez na vida – são uma falha diária que nos divide, e todos nós merecemos coisa melhor. “
Ela foi dura com a empresa, acusando-a de ter se beneficiado da exposição recebida pelo caso judicial:
“Desde o primeiro dia, tratei esse processo como uma medida importante de certo versus errado. O réu tratou isso como um jogo sem regras.
“Quanto mais o processo se arrastava, mais podiam distorcer os fatos e manipular o público (mesmo durante o próprio recurso), tornando um caso direto e extraordinariamente complicado para gerar mais manchetes e vender mais jornais – um modelo que recompensa o caos acima da verdade .
“Nos quase três anos desde que isso começou, tenho sido paciente diante de fraudes, intimidações e ataques calculados.
“Os tribunais decidiram a meu favor – mais uma vez – cimentando que o The Mail on Sunday, de propriedade de Lord Jonathan Rothermere, infringiu a lei.”
Sussex x Piers Morgan
Embora vencendo no Tribunal, Meghan e Harry perderam em 2021 uma guerra com um popular apresentador de TV britânico, Piers Morgan.
Durante o jornal matinal que apresentava na ITV, ele disse duvidar da hipótese de que Meghan teria tido pensamentos suicidas, bateu boca com um colega de bancada ao vivo, deixou o estúdio abruptamente e acabou demitido.
Só que o órgão regulador de telecomunicações do país, o Ofcom, que havia recebido mais de 50 mil reclamações sobre a declaração, classificou os comentários de Morgan como aceitáveis sob a ótica da liberdade de expressão.
Carta de Meghan ao pai é uma das brigas dos Sussex com a mídia
Embora fossem pessoas públicas antes do casamento, com presença massiva nas redes sociais e na imprensa, Harry e Meghan começaram uma batalha com a mídia após a união.
A imprensa tem sido frequentemente apontada pelo casal como uma das razões para ter deixado o Reino Unido, esgarçado as relações com a família real e ido viver nos EUA.
Em novembro, em conferência promovida pela revista americana, o príncipe Harry voltou a reclamar da imprensa britânica e das redes sociais.
O duque de Sussex participou do painel Internet Lie Machine (Internet, máquina de mentiras). Ele disse que “a desinformação é uma crise humanitária global” que afeta a todos, mesmo que os que não estão online.
Uma das acusações do casal contra a imprensa britânica é de racismo, que seria na opinião deles o motivo pelo qual alguns jornais criticaram a duquesa. E que teria encontrado eco dentro da própria família real.
Na já histórica entrevista dada em março à apresentadora americana Oprah Winfrey este foi um dos assuntos que gerou mais repercussão.
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