Londres – As tensões em torno da questão migratória na Europa levaram ao aprofundamento de preconceitos contra minorias raciais e étnicas e discurso de ódio, tanto nas redes sociais como na mídia tradicional.

Um dos projetos dedicados a combater esse mal é o Get the Trolls Out (Fora com os Trolls), criado em 2015 pelo Media Diversity Institute do Reino Unido e coordenado por Giulia Dessi. 

O GTTO mapeia desinformação e discurso de ódio relacionados principalmente a grupos religiosos, em seis idiomas. Eles são rebatidos com denúncias, artigos, charges, memes e vídeos. O trabalho envolve também treinamentos, alguns para jornalistas, com orientações para a produção de reportagens precisas e inclusivas.

Discurso de ódio é minado por ‘anti-trolls’

Madaleina Kay, 28 anos, ativista, escritora, artista e profissional de comunicação britânica, é responsável pela promoção do projeto nas redes sociais. 

Com nove livros publicados, ela já foi premiada com o ‘Young European of the Year’ em 2018 e com o EU Charlemagne Youth Prize em 2020. E viveu na pele a trollagem misoginista online, situação comum a tantas jornalistas no Brasil e no mundo.

Madeleina Kay, do projeto Get The Trolls Out (Foto: Reprodução/Facebook)

Kay conversou com o MediaTalks sobre o trabalho do GTTO no combate ao discurso de ódio como parte do Especial Diversidade na Mídia

O impacto dos trolls

“Trolls e bots online têm enorme impacto na sociedade. Mas é importante salientar que eles também existem offline. O discurso de ódio é amplificado nas mídias tradicionais e digitais.

Essa é a razão pela qual o projeto GTTO se concentra no monitoramento de incidentes em todas as mídias, porque influenciam a percepção pública e a discriminação das minorias.”

Mais fracos na mira

“Os agressores atacam os membros mais fracos da sociedade ou os menores grupos comunitários, com menos meios de reagir. É o caso das minorias religiosas e étnicas, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIA+.”

Discurso de ódio contra mulheres 

“As mulheres também são alvo de discurso de ódio, porque historicamente foram vistas como o sexo frágil e por causa da retórica misógina e das práticas sexistas comuns nos sistemas patriarcais. Também vemos discriminação baseada em classe.”

Os mais atacados por discurso de ódio

“Nosso monitoramento em sete países entre 2020 e 2021 demonstrou que 64% dos incidentes eram islamofobia e 26% eram discurso de ódio anti-migrante ou anti-refugiados, enquanto 9% eram antissemitas e 0,3% anticristãos.”

Ódio a islâmicos

“A islamofobia é mais comum na Grécia, que recebeu um grande número de refugiados, muitos de países muçulmanos.

Também identificamos incidentes do tipo na Bélgica, Reino Unido, França, Hungria, Polônia e Alemanha, onde movimentos nacionalistas e jornais tablóides promovem narrativas de conspiração.”

Antissemitismo e discurso de ódio

“Durante a pandemia vimos teorias de conspiração e narrativas antivacina com elementos antissemitas.

Há antissemitismo em toda a Europa, mas o nível de educação, atitudes culturais e principalmente a política e a retórica de alguns governos afetam o nível de ódio antijudaico em diferentes países.”

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Orbán x George Soros

“Um exemplo é a difamação do empresário judeu George Soros pelo presidente da Hungria, Viktor Orbán.

Isso legitima narrativas antissemitas no discurso público. O fato de seu governo possuir mais de 50% da mídia húngara contribui para a ampla disseminação de seu discurso.”

Treinamento para jornalistas

“Trabalhamos com organizações para oferecer workshops para jornalistas na Europa.

Recentemente fizemos uma parceria com a Migration Matters (Alemanha) e o Centro de Educação para a Cidadania (Polônia) para oferecer treinamento a jovens jornalistas dos dois países em Berlim.”

Um dos manuais criados pelo GTTO é um guia para jornalistas sobre elementos linguísticos que reforçam estereótipos e como evitá-los. Acesse neste link.


Esta matéria faz parte do Especial MediaTalks Diversidade na Mídia. Leia a edição completa aqui 


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