Londres – A morte da princesa Diana, que completou 25 anos no dia 31 de agosto, marcou profundamente o Reino Unido, que perdeu uma figura idolatrada e viu sua monarquia mergulhar em uma das maiores crises de popularidade de sua histรณria. 

Depois que Diana morreu em um acidente automobilรญstico em Paris, aos 36 anos e no auge da beleza, o ex-marido, prรญncipe Charles, e a ex-sogra, a rainha Elizabeth, foram acusados de insensibilidade por nรฃo terem demonstrado a mesma emoรงรฃo que tomou conta do paรญs e do mundo. 

Nada que o tempo nรฃo cure, com a retomada da popularidade da rainha e a aceitaรงรฃo maior da atual mulher de Charles, Camilla, vista por muitos como pivรด da separaรงรฃo. Mas uma coisa mudou para sempre: a forma de a imprensa cobrir mortes de celebridades.

A morte da princesa ‘ideal’

Esta รฉ a opiniรฃo de Ruth Penfold-Mounce, professora da Universidade de York. Em um artigo acadรชmico analisando a morte da princesa, ela observa que foi uma comoรงรฃo capturada pelas cรขmeras como nunca antes, que deu inรญcio a uma nova maneira de a mรญdia acompanhar o desaparecimento de pessoas famosas. 

Na anรกlise publicada no portal acadรชmico The Conversation, Penfold-Mounce ressalta que a princesa preenchia todos os requisitos de uma notรญcia bombรกstica: jovem, bonita, mรฃe de prรญncipes, defendia os marginalizados e causas sociais relevantes.

Tinha se divorciado e namorava um milionรกrio estrangeiro. “E tudo se acabou de repente, numa morte dramรกtica e imprevista”, diz. 

Para a professora, a morte de Diana foi uma  โ€œtragรฉdiaโ€ midiรกtica: uma histรณria ideal com um protagonista ideal.

E o drama teve uma “concorrente” forte logo em seguida, mas continuou em evidรชncia. 

“O impacto da cobertura da morte de Diana  superou em muito a do falecimento de Madre Teresa, ocorrido cinco dias depois, cuja vida de sacrifรญcio e santidade nรฃo tinha o apelo midiรกtico do puro glamour equivalente ao da princesa de Gales.”

A especialista considera que a cobertura dispensada globalmente ร  morte da princesa Diana deu inรญcio ร  era das mortes midiรกticas, que deixaram de se limitar apenas a um comunicado.

“Em vez disso, elas passaram a receber uma cobertura significativa sob todos os รขngulos, embaladas pela mรญdia para um consumo mais prolongado do que simplesmente a principal notรญcia do dia.

Penfold-Mounce considera que a existรชncia na รฉpoca de uma mรญdia global 24 horas contribuiu para a sucessรฃo quase inesgotรกvel de reportagens sobre a tragรฉdia de Diana, o que aumentou ainda mais o contraste com a cobertura das mortes de famosos anteriores. 

Com 18 anos na รฉpoca, a professora acompanhou pessoalmente a cobertura, que comoveu quem gostava e tambรฉm os que nรฃo gostavam de Diana ou da famรญlia real, assim como rendeu uma prolรญfica disseminaรงรฃo de registros visuais em uma escala sem precedentes:

A princesa, que tinha sido caรงada pela mรญdia em vida, foi ainda mais na morte.

Desde o acidente no tรบnel em Paris que provocaria seu falecimento no hospital nas primeiras horas de um domingo, 31 de agosto, atรฉ seu enterro no sรกbado seguinte, a morte midiรกtica da princesa Diana foi refletida num show de imagens, com direito a interpretaรงรฃo de Elton John na missa de seu funeral, lembra a professora. 

Santuรกrios de celebridades

Penfold-Mounce destaca que outro elemento distintivo da morte midiรกtica da princesa Diana: a cobertura do luto pรบblico em locais-chave associados ร  princesa:

“Assim como os peregrinos que visitam os locais sagrados, o pรบblico acorreu aos palรกcios de Buckingham e de Kensington, com oferendas em forma de flores, brinquedos de pelรบcia e mensagens de despedida”. 

A partir do momento que o Palรกcio de Kensington, onde a princesa morava, tornou-se quase um santuรกrio para venerar a lembranรงa de Diana, o mesmo passou a acontecer com os santuรกrios de outras celebridades que morreram depois, presentes nas notรญcias e nas mรญdias sociais, recorda. 

Apesar de Diana ter sido perseguida literalmente atรฉ o momento do acidente fatal por paparazzi รกvidos por suas imagens, a especialista considera que foi a cobertura de sua morte que a ajudou a princesa a alcanรงar o status de quase santa:

โ€œEla nunca envelhecerรก e sua beleza nunca se apagarรก. A princesa Diana estรก para sempre congelada no tempo por sua morte midiรกticaโ€.

E continua inspirando atรฉ hoje uma quantidade inesgotรกvel de teorias conspiratรณrias.