Londres – A “gestão” da Rainha Elizabeth ao longo dos 70 anos de reinado fez com que o valor da marca Royal Family alcançasse números bilionários, em um cálculo que vai além do patrimônio físico da família real formado por residências, arte e jóias. 

Segundo a última avaliação disponível, feita pela consultoria Brand Finance, a marca Família Real vale pelo menos £ 67,5 bilhões (cerca de R$ 400 bilhões). A última medição foi realizada no fim de 2017, mas o CEO da Brand Finance, David Haigh, estima que esse valor não caiu desde então.

Ele conta que em todos os estudos no intervalo de 2012 a 2017, o valor da marca cresceu sucessivamente a cada ano, indicando que a tendência é de que os números sejam iguais ou maiores. 

Patrimônio da família real e reputação entram no cálculo

O valor da marca não diz respeito apenas ao patrimônio da família real ou da própria rainha. Para chegar ao valor da marca Royal Family, a Brand Finance, uma das principais consultorias de marcas do mundo, usou os mesmos critérios utilizados para o cálculo do valor de marcas das empresas.

Nesse tipo de estimativa são levados em conta os ativos e a percepção do público, como se faz na avaliação de qualquer tipo de marca.

Os ativos tangíveis em poder da família real inteira– como propriedades, obras de arte e as jóias da Coroa – foram avaliados em £ 25,5 bilhões. A realeza é a maior proprietária de terras do Reino Unido. 

O valor intangível, referente à conexão do público com a marca, compõe os £ 42 bilhões restantes. Bom para a família e para o Reino Unido. 

Haigh não tem dúvidas de que a imagem positiva de Elizabeth II contribuiu não só para aumentar o patrimônio da família real como a riqueza do próprio Reino Unido. 

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David Haigh, CEO Brand Finance (divulgação=

Ele explica que a rainha foi fundamental para reforçar o soft power britânico (influência sobre os demais países), principalmente com seu apoio à diplomacia do país:

“Embora não se envolvesse publicamente nas questões políticas, seu papel nos bastidores ajudava a abrir caminhos para negócios e acordos multilaterais”.

O CEO da Brand Finance destacou a contribuição da rainha na recepção de líderes globais no Palácio de Buckingham e na participação em encontros internacionais.

O último deles foi a cúpula do G7 que antecedeu a COP26, realizada no Pais de Gales em 2021. Lá estava ela aos 95 anos, reinando soberana entre os mais poderosos chefes de governo e de estado do mundo. 

Patrimônio família real Rainha Elizabeth G7

A Brand Finance estima que a monarquia gere uma renda bruta de quase £ 2 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões) para a economia do Reino Unido.

No último estudo de 2017, a consultoria estimou que esse valor chegou a £ 1,766 bilhão.

A contribuição inclui os impostos pagos ao estado referentes às propriedades da Coroa, bem como o efeito indireto da monarquia em vários setores, principalmente o de turismo e a venda de produtos associados à marca da Família Real.

Segundo a Brand Finance, o respaldo real valoriza as marcas que ostentam o brasão de armas ou o selo de preferência da rainha.

No setor turístico, o apelo de pompa e circunstância dos palácios onde vivem os membros da Família Real, como o de Buckingham ou o de Windsor, ajudam a atrair milhões de visitantes por ano ao país.

Na área de entretenimento, a mística em torno da monarquia aumenta a popularidade de programas de TV como The Crown, ainda que alguns episódios possam ter gerado dor de cabeça por desenterrarem fatos desconfortáveis.

Itens ostentando a imagem da rainha e dos integrantes da família real são comprados avidamente por visitantes nas lojas oficiais das propriedades reais, em lojinhas de souvenirs e na internet, alimentando uma indústria bilionária. 

Tudo isso vai reforçando os cofres públicos, gerando empregos e atraindo investimentos. 

Monarquia ‘se paga’? 

A Brand Finance avalia que a relação custo-benefício acaba sendo favorável ao Reino Unido, pois os benefícios econômicos gerados pela monarquia têm uma relação favorável em comparação aos custos para mantê-la, mas os antimonarquista discordam da tese.

Boa parte dos gastos públicos com a monarquia cobrem a manutenção das residências reais e os salários e as despesas de viagem de seus membros, que percorrem o país e o mundo representando o Reino Unido. 

Pela estimativa feita em 2017, esses gastos equivaleriam a £ 4,50 (menos de 30 reais) por pessoa por ano, ou pouco mais de 1 centavo de libra por pessoa por dia. Este ano, o aumento nos gastos gerou reação negativa. 

É claro que essa relação também é extremamente favorável à família real, cujos assessores sabem capitalizar muito bem todas as oportunidades econômicas de sua condição privilegiada e do valor de sua marca para aumentar ainda mais seu patrimônio. 

Não é a toa que a família é tratada na imprensa local, pelo profissionalismo com que gere sua imagem e seus negócios, como “A Firma”.