Londres – No momento em que o ex-presidente Donald Trump anuncia a decisão de concorrer novamente à presidência dos EUA, na semana passada, a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) manifestou preocupação com ameaças de violações à liberdade de imprensa caso ele seja reeleito para um novo mandato depois de uma saga de brigas com jornalistas e organizações de mídia.
Em um comunicado, a RSF advertiu que as novas ameaças de Trump contra a imprensa americana devem ser levadas a sério.
E quer uma lei federal de proteção à imprensa para proteger o sigilo das fontes, que segundo a organização pode entrar em sério risco.
Liberdade de imprensa caiu nos EUA sob Trump
Durante seu mandato e depois de sair do cargo, Trump notabilizou-se pelo relacionamento agressivo e por insuflar seus seguidores contra a mídia nacional, tendo como alvos principais veículos como CNN, New York Times e Washington Post.
Logo que ele foi desligado do Twitter, após a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, o projeto Press Freedom Tracker contabilizou 2.250 ataques do ex-presidente à mídia pela plataforma em cinco anos e meio, uma média de mais de um por dia.
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Agora, o temor da RSF é de medidas que vão além de discórdias públicas, com base no histórico de tentativas de cercear o jornalismo crítico a ele.
A organização afirma que durante o primeiro mandato do presidente Trump, ele perguntou o que poderia ser feito para punir os membros da mídia por fazerem seu trabalho.
De acordo com o New York Times , Trump abordou o tema da prisão de jornalistas que publicaram informações classificadas com o então diretor do FBI, James Comey, em 2017.
E as condições de liberdade de imprensa “declinaram rapidamente” durante o governo Trump, diz a organização.
Em 2020, o quarto ano do presidente Trump no cargo, houve um número recorde de prisões de jornalistas, além de 856 outros tipos de agressões cometidas contra jornalistas – a maioria das quais foram ataques físicos deliberados e não provocados a repórteres claramente identificados, aponta a RSF.
Na invasão do Capitólio, manifestantes danificaram dezenas de milhares de dólares em equipamentos de mídia de propriedade da Associated Press, quebraram câmeras enquanto gritavam “ CNN é uma m*” e escreveram “assassine a mídia” em portas internas do prédio.
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Riscos de censura no segundo mandato Trump
No comunicado em que defende a ideia de uma lei de imprensa, a organização afirma que o ex-presidente Donald Trump teria mantido discussões com assessores sobre como contornar a Primeira Emenda e prender jornalistas durante um possível segundo mandato.
Citando uma reportagem da revista Rolling Stone, a RSF diz que Trump criou estratégias sobre como seria um segundo mandato, potencialmente começando em 2025.
“Ele teria ele começado a solicitar ideias de aliados conservadores sobre como o governo dos EUA e o Departamento de Justiça poderiam transformar seus desejos – de aprisionar um número significativo de repórteres em realidade”, diz a organização.
Segundo a RSF, Trump fez uma ameaça semelhante em público em um comício em 7 de novembro, apenas um dia antes das eleições de meio de mandato, quando cogitou prender repórteres por não entregarem suas fontes e até fez uma piada vulgar sobre agressão sexual na prisão:
“ Você pede ao repórter para dizer quem é… e se o repórter não quiser te dizer é ‘tchau tchau’, o repórter vai para a cadeia.
Quando o repórter souber que vai se casar com uma certa prisioneira que é extremamente forte, dura e maldosa, ele dirá: ‘sabe, acho que vou te passar a informação’”.
“O ex-presidente sempre falou com admiração de autoritários que punem críticos e prendem jornalistas. Precisamos levar a sério suas ameaças de imitá-las, e uma das melhores maneiras de fazer isso seria aprovar uma lei federal de proteção à imprensa para proteger os jornalistas e suas fontes”, afirmou Clayton Weimers, Diretor Executivo do Escritório dos Repórteres Sem Fronteiras nos EUA.
Para a RSF, diante dessas ameaças, o Congresso deveria aprovar uma Lei da Imprensa que limitaria a capacidade do governo de obrigar os jornalistas a revelar suas fontes.
“A proteção de fontes anônimas é essencial para o jornalismo investigativo e a liberdade de imprensa”, observa a organização.
Na quarta-feira, um dia após o ex-presidente confirmar a intenção de se candidatar, as ações da Digital World Acquisition Corp (DWAC.O), empresa criada para abrir o capital da rede social criada por Trump, a Truth Social, caíram 4,8% no início do pregão.
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