Londres – A Unesco (Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas para Educaรงรฃo e Cultura) divulgou nesta terรงa-feira (19) seu levantamento anual de jornalistas mortos em situaรงรตes relacionadas ao trabalho, destacando que 2023 foi “particularmente mortal” para aqueles que atuam em zonas de guerra. 

Segundo a organizaรงรฃo, as mortes quase dobraram em comparaรงรฃo com os รบltimos trรชs anos. Este trimestre, em particular, foi o mais fatal para jornalistas em zonas de conflito desde pelo menos 2007, com o registro de 27 mortes. 

Ao todo, segundo a metodologia da Unesco para contabilizar as perdas, 65 jornalistas morreram a serviรงo ou em atos de violรชncia relacionados ร  profissรฃo em 2023, contra  88 no ano anterior. Mas a queda esconde “o fenรดmeno alarmante” do crescimento de mortes em conflitos. 

38 jornalistas mortos em guerras 

Pelo menos 38 jornalistas e profissionais da mรญdia foram mortos na linha de frente em paรญses em conflito em 2023, em comparaรงรฃo com 28 em 2022, ano em que comeรงou a guerra na Ucrรขnia, e 20 em 2021.

A Unesco inclui na conta tanto jornalistas profissionais empregados em veรญculos de imprensa quanto freelancers e pessoas que praticam o jornalismo por meio de sites e canais nas redes sociais. 

O levantamento mostra que as hostilidades em curso no Oriente Mรฉdio foram responsรกveis pela grande maioria dos assassinatos relacionados a conflitos. 

O registro mostra 19 mortes na Palestina, 3 no Lรญbano e 2 em Israel desde 7 de outubro. Afeganistรฃo, Camarรตes, Sรญria e Ucrรขnia tambรฉm tiveram pelo menos dois assassinatos.

Profissionais de imprensa atingidos em casa na guerra

Os nรบmeros nรฃo incluem mortes de jornalistas e profissionais da mรญdia em circunstรขncias nรฃo relacionadas ร  profissรฃo, que tambรฉm foram relatadas em nรบmeros significativos em 2023.

De acordo com o Comitรช de Proteรงรฃo a Jornalistas (CPJ), pelo menos 68 profissionais de imprensa perderam a vida atรฉ agora na regiรฃo da guerra entre o Hamas e Israel, incluindo aqueles que foram vรญtimas de bombardeios em suas casas, e que nรฃo necessariamente estavam trabalhando no momento do ataque. 

A Unesco salienta que essas tragรฉdias sรฃo apenas a ponta do iceberg na regiรฃo:

“Hรก ainda danos generalizados, destruiรงรฃo da infraestrutura e escritรณrios de empresas de mรญdia e muitos outros tipos de ameaรงas, como ataque fรญsico, detenรงรฃo, confisco de equipamentos ou negaรงรฃo de acesso a locais em que hรก denรบncias a serem apuradas.

Um grande nรบmero de jornalistas tambรฉm fugiu do local ou parou de trabalhar.”

Tal clima contribui para o que a Unesco estรก denominando como โ€œzonas de silรชncioโ€, abertas em muitas zonas de conflito mundo afora, com graves consequรชncias para o acesso ร  informaรงรฃo, tanto para as populaรงรตes locais quanto para o mundo. 

As Forรงas de Defesa de Israel (IDF) disseram ร  Reuters e ร  agรชncias de notรญcias da Agence France Press que nรฃo poderiam garantir a seguranรงa de seus jornalistas que operavam na Faixa de Gaza, depois de terem procurado garantias de que eles nรฃo seriam alvo de ataques israelenses. 

Um cinegrafista da Reuters baseado no Lรญbano estรก entre os mortos no conflito, em um ataque que investigaรงรตes demonstraram ter sido deliberado contra um grupo de profissionais de imprensa na fronteira entre os dois paรญses. 

Menos jornalistas morreram no mundo em 2023

A tendรชncia preocupante vem apesar de uma diminuiรงรฃo notรกvel nos assassinatos gerais de jornalistas em todo o mundo em comparaรงรฃo com o ano passado – 65 contra 88.

Essa tendรชncia global pode ser explicada por um declรญnio significativo nos assassinatos fora das zonas de conflito, que atingiram seu total mais baixo em pelo menos quinze anos – especialmente na Amรฉrica Latina e no Caribe, onde 15 assassinatos foram relatados, em comparaรงรฃo com 43 em 2022.

A Unesco tambรฉm documenta e analisa as diferentes formas de ameaรงas contra jornalistas.

Em novembro, a organizaรงรฃo apontou um  aumento global na violรชncia contra a imprensa durante perรญodos eleitorais, com 759 ataques documentados em 70 paรญses entre janeiro de 2019 e junho de 2022, incluindo cinco assassinatos.

A organizaรงรฃo expressou particular preocupaรงรฃo com a tendรชncia, visto que 2,6 bilhรตes de pessoas irรฃo ร s urnas em mais de 60 paรญses no prรณximo ano.