Londres – O governo do Canadá denunciou uma operação de spam (mensagens automatizadas) supostamente ligada à China nas redes sociais tendo como alvo alvo dezenas de parlamentares, membros do Gabinete que governa o país e até o primeiro-ministro, Justin Trudeau. 

Segundo o relatório publicado pelo Ministério de Assuntos Estrangeiros (GAC) nesta segunda-feira (23), a tática, chamada”spamouflage” usa redes de contas de mídia social novas ou sequestradas para postar e amplificar mensagens de propaganda em múltiplas plataformas.

A campanha de desinformação começou no início de agosto de 2023 e se intensificou durante os feriados nacionais de  setembro no país, quando uma rede de bots deixou milhares de comentários em inglês e francês nas contas do Facebook e X/Twitter de parlamentares canadenses. 

Operação de spam da China usou deepfakes 

O relatório afirma que os comentários de spam alegavam que um crítico do Partido Comunista Chinês (PCC) no Canadá teria acusado vários deputados de violações criminais e éticas. 

A operação também incluiu o uso de prováveis ​​vídeos “deepfake”, modificados digitalmente por inteligência artificial, disse o governo.

Foram identificados posts com teorias da conspiração e abusos direcionados aos afetados. 

O objetivo seria desacreditar e denegrir os políticos ​​por meio de postagens aparentemente orgânicas  alegando impropriedade e questionando seus padrões políticos e éticos, supostamente de autoria de uma figura popular de língua chinesa no Canadá. 

Outro motivo da onda de postagens spam seria silenciar as críticas de parlamentares ao Partido Comunista Chinês e desencorajar engajamento online. 

Não há no relatório acusação direta ao governo chinês.  

Descoberta feita pelo sistema de monitoramento do ambiente digital 

A spamouflage do Canadá foi identificada pelo sistema “Mecanismo de Resposta Rápida (RRM) do Ministério de Assuntos Estrangeiros, que monitora o ambiente digital em busca de ameaças, como a interferência de países hostis. 

Esse tipo de operação já foi denunciado  em relatórios de empresas de tecnologia (como Meta e Microsoft) e por especialistas em inteligência de ameaças, que associaram a atividade à China. 

Em agosto deste ano, a Meta informou em um relatório que havia removido uma rede de spamouflage com mais de 7.700 contas do Facebook e centenas de páginas, grupos e contas no Instagram que divulgavam narrativas pró-China. 

Em junho de 2022, o Instituto Australiano de Estratégia (ISD, na sigla em inglês) denunciou uma série de ataques coordenados contra jornalistas de origem asiática que vivem no Ocidente. em especial mulheres trabalhando para grandes organizações de mídia internacionais. 

China nega relação com operação de spam 

O Ministério de Assuntos Globais do Canadá disse ter notificado as plataformas sobre a operação de “spamouflage”, resultando na remoção de grande parte da atividade e da rede.

O órgão também orientou os parlamentares sobre “como se protegerem de interferência estrangeira”.

Em setembro, o governo Trudeau anunciou um inquérito público independente sobre alegações de tentativa de interferência estrangeira por parte da China, Rússia e outras nações consideradas hostis.

Em um comunicado, a embaixada chinesa no Canadá disse que Pequim nunca interferiu nos assuntos internos de outros países e que as acusações de uso de spam consistiam em uma “campanha flagrante de difamação”.