Londres – A batalha de Julian Assange pela liberdade ganhou mais um capítulo dramático nesta segunda-feira (10): a mulher do fundador do Wikileaks, Stella, anunciou que ele testou positivo para covid-19 e foi colocado em isolamento na penitenciária de Belmarsh, onde segue preso enquanto tramita o processo de extradição para os EUA. 

Aos 51 anos, Assange demonstrou sinais de saúde frágil em suas últimas aparições públicas ou em contatos com membros da família e da defesa. 

Ele perdeu muito peso e a capacidade de falar claramente após a detenção, o que levou as autoridades prisionais a transferi-lo para a ala hospitalar.

Sintomas de covid de Assange começaram na sexta-feira 

Segundo Stella, com quem o fundador do Wikileaks tem dois filhos, ele começou a se sentir mal na sexta-feira, véspera de uma série de manifestações por sua libertação em vários países. 

Com febre e tosse, foi medicado com paracetamol e “agora está trancado em sua cela 24h por dia”, disse ela.

Desde que as regras de isolamento social foram relaxada no Reino Unido, ele passou a receber a visita da mulher e dois dois filhos, de 2 e 4 anos. 

Ao anunciar o diagnóstico de covid de Assange, ela pediu que mandassem mensagens para ele, que serão lidas quando se falarem por telefone. 

Muitos atenderam ao pedido e o post já foi compartilhado mais de 4 mil vezes. Há mensagens de vários países. Em uma delas, a apoiadora do fundador do Wikileaks recomenda exercícios de respiração e mentalização positiva. 

Além do efeito moral, o diagnóstico de covid de Assange pode ter um efeito físico.

Em 2020 os advogados pediram sua libertação para aguardar o julgamento fora da cadeia sob a alegação de que ele tinha uma doença pulmonar crônica há mais de dez anos que poderia ser agravada se contraísse covid. 

“Os próximos dias serão muito importantes para sua saúde geral”, disse Stella, advogada que se casou com Assange em março. 

No último sábado (8), apoiadores de Julian Assange deram um abraço no Parlamento britânico para pressionar o governo do país a libertar o ativista, que responde a 18 processos movidos pelo governo dos EUA. 

Os filhos do fundador do Wikileaks participaram da manifestação, que se repetiu em vários países e pelas redes sociais. 

Todas as etapas do processo de extradição foram cumpridas, mas a defesa entrou com mais um recurso. A decisão cabe agora à nova Secretária do Interior do governo da primeira-ministra Liz Truss, Suella Braverman, considerada uma política linha-dura em relação a temas como imigração e violência. 

O diagnóstico de covid de Julian Assange torna a situação política do Reino Unido ainda mais complicada.

Autorizar a extradição neste momento deve gerar uma onda de condenação de um governo que já vive uma crise severa de imagem, devido à situação econômica e ao pacote de medidas anunciado pela primeira-ministra há três semanas. 

Stella Assange foi convidada a falar no Parlamento Europeu hoje sobre o caso do fundador do Wikileaks, aproveitando sua indicação para receber o prêmio de direitos humanos Sakhorov Prize. 

Entenda o caso Assange

O fundador do WikiLeaks é processado pelos Estados Unidos sob alegação de uma conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional após a publicação de centenas de milhares de documentos vazados relacionados às guerras do Afeganistão e do Iraque no site.

Ele responde a 17 acusações sob a Lei de Espionagem e uma sob a Lei de Fraude e Abuso de Computador, podendo ser condenado a até 175 anos de cadeia.

Barack Obama, presidente quando os documentos foram publicados, em 2009, o considerava um traidor.

Mas apenas em abril de 2019, com Donald Trump no cargo, as acusações foram formalizadas e o Departamento de Estado dos EUA solicitou do Reino Unido a extradição.

Se Assange for extraditado e julgado nos EUA, o que está agora nas mãos do governo britânico, não seria apenas a condenação de um homem. É uma nuvem negra sobre a liberdade de imprensa.

Entidades de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa e de expressão são unânimes em afirmar que jornalistas e veículos de imprensa correrão riscos de processos criminais ou de espionagem se publicarem segredos incômodos a governos, sobretudo nos EUA.

A preocupação é de que informantes passem a pensar duas vezes antes de se arriscar a entregar à imprensa histórias capazes de melhorar a sociedade ou evitar a continuidade de más práticas, corrupção e crimes.