Londres – Em um método que pode ser considerado uma forma inusitada de censura, um empresário da China tentou subornar uma editora estudantil independente tailandesa conhecida por criticar o governo de Xi Jinping.

A Sam Yan Press foi fundada em 2017 por ativistas estudantis e publica vários livros que promovem a democracia. Em seu catálogo, a editora tem publicações sobre a política chinesa, com foco na repressão estatal em Hong Kong e Xinjiang, a independência de Taiwan e sobre o ativista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong.

Dirigentes da editora dizem que receberam propostas no valor total de US$ 155 mil (R$ 780 mil) para que a empresa encerrasse suas operações.

Empresário usou novo método de censura para agradar governo da China

A editora estudantil Sam Yan Press fica em Bangkok, capital da Tailândia, e foi fundada por Netiwit Chotiphatphaisa. Atualmente, ela é gerenciada por cinco profissionais.

Em um comunicado, os representantes da editora revelaram o caso da suposta tentativa de suborno.

Segundo eles, uma empresa de investigação privada tailandesa enviou inicialmente uma oferta à equipe da Sam Yan Press, em maio, oferecendo dinheiro caso a editora deixasse de funcionar imediatamente.

A empresa da Tailândia afirmou que estava representando um empresário chinês e que seu cliente não estava agindo em nome do governo chinês, mas esperava agradar as autoridades em Pequim.

A editora ignorou esse primeiro contato feito por e-mail, mas, em julho, novamente foi abordada com uma oferta do mesmo empresário de US$ 105 mil (R$ 530 mil).

O objetivo do empresário, disse a empresa que o representava, era mostrar ao governo chinês que ele tinha influência na Tailândia.

Em uma terceira abordagem, feita em setembro, o empresário chinês ofereceu US$ 50 mil (R$ 250 mil) para eles fecharem a publicação estudantil independente e fornecerem um certificado oficial de dissolução.

Depois que essa nova oferta também foi ignorada, a mesma agência que representava o empresário tentou se aproximar do fundador da Sam Yan Press, Netiwit Chotiphatphaisal, ainda em setembro.

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), representantes do empresário chinês aparecem na casa e no templo onde Chotiphatphaisal estava em retiro. Outros membros da editora também relataram abordagens invasivas sobre as propostas, incluindo ligações e mensagens informando a urgência da oferta.

Após consultar um advogado, a equipe da Sam Yan Press contatou a agência tailandesa e um representante confirmou as ofertas feitas pelo empresário chinês. Todas as propostas foram recusadas pelos ativistas, que disseram que aceitá-las seria uma “traição” ao que eles representam.

Em entrevista à Voice of America, um dos membros da editora disse que eles se sentiram intimidados com a tentativa de censura pela China, mas não pretendem mudar o teor de suas publicações:

“Continuaremos publicando e atualizando sobre a política chinesa e outras questões, assim como fazíamos antes. Mas teremos que treinar mais sobre como nos proteger.”

A FIJ condenou a tentativa de silenciar a mídia independente e atacar a liberdade de imprensa. “Silenciar a mídia independente para ganho pessoal é completamente inaceitável. A FIJ condena este flagrante ataque à liberdade de imprensa e tentativa de censura”.