Londres – A tensão no trabalho pode se manifestar de várias formas, e uma delas é a maneira como as pessoas digitam ou movimentam o mouse do computador, que pode ser até mais eficiente do que um teste de frequência cardíaca para detectar estresse crônico.

É o que afirmam pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ, na sigla em inglês), em um estudo divulgado esta semana. 

Com base em novos dados sobre estresse e em mecanismo de aprendizado de máquina, eles desenvolveram um modelo capaz de identificar o estresse precocemente no local onde ele é mais frequente: o escritório, seja presencial ou virtual. 

“A forma como digitamos no teclado e movemos o mouse parece ser um indicador melhor de como nos sentimos estressados ​​em um ambiente de escritório do que nossa frequência cardíaca”, explica em um comunicado a autora do estudo, Mara Nägelin, matemática e pesquisadora do ETHZ.

O estudo revelou detalhes que poucos percebem ao usar o mouse e o teclado, mas que segundo Nägelin, foram associadas a situações de estresse nos testes feitos em laboratório.  

  • Pessoas estressadas movem o ponteiro do mouse com mais frequência e menos precisão e percorrem distâncias maiores na tela.
  • As pessoas não estressadas pegam rotas mais curtas e diretas para chegar ao seu destino – e levam mais tempo fazendo isso. 
  • Pessoas estressadas no escritório cometem mais erros ao digitar. Eles escrevem aos trancos e barrancos, com muitas pausas breves.
  • Pessoas relaxadas fazem menos pausas, porém mais longas, ao digitar em um teclado.

A conexão entre estresse e digitação e comportamento ao usar o mouse pode ser explicada com o que é conhecido como teoria do ruído neuromotor, segundo a psicóloga Jasmine Kerr, coautora do estudo.  

“Níveis aumentados de estresse afetam negativamente a capacidade do nosso cérebro de processar informações. Isso também afeta nossas habilidades motoras.”

Estudo simulou estresse no trabalho 

Para desenvolver o modelo de estresse, os pesquisadores observaram 90 participantes do estudo no laboratório realizando tarefas de escritório o mais próximo possível da realidade, como planejamento de compromissos ou registro e análise de dados.

Eles registraram o comportamento do mouse e do teclado dos participantes, bem como seus batimentos cardíacos.

Além disso, os pesquisadores perguntaram aos participantes várias vezes durante o experimento o quão estressados ​​eles se sentiam.

Enquanto alguns participantes foram autorizados a trabalhar sem serem perturbados, outros também tiveram que participar de uma entrevista de emprego.

Metade desse grupo também foi repetidamente interrompido com mensagens de bate-papo.

Em contraste com estudos anteriores de outros cientistas, onde o grupo de controle muitas vezes não precisava resolver nenhuma tarefa e podia relaxar, no experimento dos pesquisadores da ETHZ todos os participantes tiveram que realizar as tarefas de escritório. 

“Ficamos surpresos ao ver que a digitação e o comportamento do mouse se demonstraram indicadores melhores de como os indivíduos estressados ​​se sentiram melhor do que a frequência cardíaca”, diz Nägelin.

Ela explica que isso ocorre porque os batimentos cardíacos dos participantes dos dois grupos não diferiram tanto quanto em outros estudos.

Uma possível razão é que o grupo de controle também recebeu atividades para realizar, o que está mais de acordo com a realidade do local de trabalho.

Estudo vai acompanhar estresse no trabalho na vida real

Os pesquisadores estão atualmente testando seu modelo com dados de funcionários suíços que concordaram em ter seu comportamento de mouse e teclado, bem como seus dados cardíacos registrados diretamente em seu local de trabalho usando um aplicativo.

O mesmo aplicativo também pergunta regularmente aos funcionários sobre seus níveis subjetivos de estresse. Os resultados devem estar disponíveis até o final do ano.

No entanto, a detecção de estresse no local de trabalho também levanta algumas questões espinhosas:

“A única maneira de as pessoas aceitarem e usarem nossa tecnologia é se pudermos garantir que protegeremos seus dados. Queremos ajudar os trabalhadores a identificar o estresse precocemente, não criar uma ferramenta de monitoramento para as empresas”, diz Kerr.

Em outro estudo envolvendo funcionários e especialistas em ética, os pesquisadores estão investigando quais recursos um aplicativo precisa ter para atender a esses requisitos e garantir o manuseio responsável de dados confidenciais.