Londres – Uma pesquisa global sobre liberdade online apontou o Brasil como um dos paĆses com menor censura na internet no mundo, registrando algumas restriƧƵes ao torrent (tecnologia usada para baixar arquivos mais pesados, como filmes) e tambĆ©m a aplicativos de chamadas VoiP (como WhatsApp e Telegram), mas sem bloqueios severos.
O estudo foi feito pela consultoria britĆ¢nica Comparitech, organizaĆ§Ć£o prĆ³-consumidor que fornece informaƧƵes e anĆ”lises sobre seguranƧa cibernĆ©tica e privacidade online, e mostra Coreia do Norte e China no ātopo do mundoā no que diz respeito Ć censura na rede.
Apesar da posiĆ§Ć£o favorĆ”vel do Brasil, o projeto da “Lei das Fake News”, em trĆ¢mite no Senado brasileiro, Ć© mencionado como uma tentativa de controle sobre informaƧƵes online no paĆs.
Em entrevista ao MediaTalks, a chefe de pesquisa de dados da consultoria, Rebecca Moody, atribuiu a posiĆ§Ć£o favorĆ”vel do Brasil no ranking geral Ć legislaĆ§Ć£o do paĆs, que protege a privacidade dos cidadĆ£os e a liberdade na rede.
Mas ela considera “curioso” que, ao mesmo tempo, o Brasil tenha se tornado um dos Ćŗnicos paĆses a introduzir uma legislaĆ§Ć£o temporĆ”ria que impede as empresas de mĆdia social de censurar conteĆŗdo, incluindo desinformaĆ§Ć£o sobre a Covid-19 e as prĆ³ximas eleiƧƵes presidenciais, referindo-se Ć medida provisĆ³ria editada pelo presidente Jair Bolsonaro em setembro, que alterou o Marco Civil da Internet e criou regras de moderaĆ§Ć£o de conteĆŗdo e de perfis em redes sociais.
“Isso estĆ” em nĆtido contraste com muitos outros paĆses, especialmente aqueles na outra ponta da mesa em nosso estudo, que tĆŖm leis abrangentes que dĆ£o aos governos um vasto controle para censurar o conteĆŗdo ou sĆ£o severamente carentes de uma legislaĆ§Ć£o clara, abrindo espaƧo para abusos.”
Leis brasileiras garantem liberdade na internet
A pesquisadora ressaltou que os brasileiros desfrutam de muito menos restriƧƵes do que paĆses como a China e a Coreia do Norte, que tendem a ignorar a liberdade online dos cidadĆ£os em favor da censura pesada e adotam vigilĆ¢ncia constante sobre as plataformas estatais.
Mas observa que isso nĆ£o quer dizer que nĆ£o haja casos de vigilĆ¢ncia e censura no Brasil, citando proibiƧƵes que afetaram o WhatsApp.
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Moody vĆŖ com preocupaĆ§Ć£o a “Lei das Fake News”. Para ela, caso seja introduzida haverĆ” reduĆ§Ć£o drĆ”stica na liberdade, privacidade e seguranƧa dos cidadĆ£os ao usar aplicativos.
“Se as empresas forem capazes de descriptografar mensagens ou armazenar grandes quantidades de dados nas comunicaƧƵes dos usuĆ”rios, isso terĆ” um custo enorme para os direitos humanos dos cidadĆ£os.
Embora possa dar Ć s autoridades acesso Ć s comunicaƧƵes de suspeitos, tambĆ©m pode expor as mensagens de outros usuĆ”rios e cadeias inteiras de comunicaĆ§Ć£o, invadindo sua privacidade e deixando o sistema aberto a abusos.”
Nove paĆses aumentaram censura na web
O raio-X global sobre censura na internet feito pela Comparitech mostra, alĆ©m de āvelhos conhecidosā no tema, novos paĆses acirrando o controle sobre o que circula na rede.
A GrĆ©cia aparece com um aumento da censura online, tendo passado a controlar mais de perto o conteĆŗdo polĆtico em sua rede domĆ©stica, assim como o download de arquivos torrent, usualmente utilizados para baixar arquivos mais pesados, como filmes.
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No continente sul-americano, a Venezuela Ć© o paĆs apontado pela pesquisa como o de maiores barreiras Ć circulaĆ§Ć£o de informaƧƵes no ambiente digital, com restriƧƵes a torrents, pornografia, redes sociais, VoiP, e o bloqueio de conteĆŗdo polĆtico online.
āEmbora os culpados usuais fiquem com os primeiros lugares, alguns paĆses aparentemente livres tĆŖm uma classificaĆ§Ć£o surpreendentemente alta. Com restriƧƵes em andamento e leis pendentes, nossa liberdade online estĆ” mais ameaƧada do que nuncaā, afirma Paul Bischoff, especialista da Comparitech e autor da pesquisa.
PontuaĆ§Ć£o de acordo com o que Ć© bloqueado
Os paĆses foram classificados em seis critĆ©rios. Cada um deles vale dois pontos alĆ©m de aplicativos de mensagens e VoIP, que vale um. Isso se deve ao fato de muitos paĆses banirem ou restringirem certos aplicativos, mas permitirem alguns executados pelo governo ou provedores de telecomunicaƧƵes dentro do paĆs, segundo a Comparitech.
O paĆs recebe um ponto se o conteĆŗdo (torrents, pornografia, mĆdia de notĆcias, mĆdia social, VPNs, aplicativos de mensagens / VoIP) for restrito, mas acessĆvel, e dois pontos se for totalmente banido. Quanto maior a pontuaĆ§Ć£o, maior a censura. Veja a seguir os detalhes do ranqueamento.
Os piores paĆses para censura na internet
Coreia do Norte e China (11 pontos de 11 possĆveis)
āNĆ£o hĆ” nada que nenhum deles censure fortemente, graƧas ao seu domĆnio de ferro sobre toda a internetā, relata a pesquisa.
Nos dois paĆses, os usuĆ”rios simplesmente nĆ£o podem usar redes sociais ocidentais, assistir a pornografia ou usar torrents ou VPNs (aplicaƧƵes que permitem simular um acesso de outro ponto do globo). Toda a mĆdia polĆtica publicada no paĆs Ć© fortemente censurada e influenciada pelo governo.
Ambos derrubaram aplicativos de mensagens do exterior, forƧando os residentes a usar aqueles que foram feitos (e provavelmente sĆ£o controlados) dentro do paĆs, por exemplo, o WeChat, equivalente ao WhatsApp na China.
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NĆ£o apenas o WeChat nĆ£o tem forma de criptografia ponta a ponta, mas o aplicativo tambĆ©m tem backdoors que permitem que terceiros acessem as mensagens.
No inĆcio deste mĆŖs, o Linkedin, uma exceĆ§Ć£o ocidental a ser acessada na China, suspendeu suas operaƧƵes no paĆs apĆ³s ter bloqueado perfis de jornalistas americanos para o pĆŗblico chinĆŖs, por pressĆ£o do governo. A repercussĆ£o do caso fez a empresa rever sua operaĆ§Ć£o e projetar uma nova plataforma, apenas de anĆŗncios de vagas, a ser implementada no paĆs.
IrĆ£ (11/10)
Segundo o levantamento global, o IrĆ£ bloqueia VPNs (apenas os acessos internacionais aprovados pelo governo sĆ£o permitidos, o que os torna quase inĆŗteis, na avaliaĆ§Ć£o da Comparitech), mas nĆ£o proĆbe completamente o torrent.
A pornografia tambĆ©m foi proibida e as redes sociais estĆ£o cada vez mais sujeitas a restriƧƵes. Twitter, Facebook e YouTube estĆ£o bloqueados no paĆs, e outras redes sociais, ameaƧadas.
Aplicativos de mensagens tambĆ©m sĆ£o proibidos, com autoridades promovendo apps e iranianos como alternativa. A mĆdia polĆtica Ć© fortemente censurada.
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Belarus, Qatar, SĆria, TailĆ¢ndia, TurcomenistĆ£o e Emirados Ćrabes Unidos (8/11)
TurcomenistĆ£o, Belarus e Emirados Ćrabes entraram na lista de piores paĆses do levantamento da Comparitech no ano passado. JĆ” Catar, SĆria e TailĆ¢ndia sĆ£o novos integrantes deste āprimeiro pelotĆ£oā.
Todos esses paĆses proĆbem a pornografia, censuram fortemente a mĆdia polĆtica, restringem as redes sociais e restringem o uso de VPNs. No caso especĆfico do TurcomenistĆ£o, usuĆ”rios relataram Ć imprensa internacional que, para serem autorizados a usar wifi em casa, precisam jurar pelo AlcorĆ£o que nĆ£o vĆ£o acessar sites internacionais.
Durante anos, as autoridades do paĆs, de maioria muƧulmana, bloquearam vĆ”rias plataformas ā incluindo Facebook, YouTube, Twitter e sites que oferecem serviƧos VPN ā e prenderam pessoas que instalaram esses serviƧos em seus telefones celulares.
Hoje, jovens usam o Instagram quase como um ato de rebeldia clandestina, mesmo que seja para falar sobre a moda nas ruas da capital, Ashgabat.
A TailĆ¢ndia teve o maior aumento na censura na internet, incluindo a introduĆ§Ć£o de uma proibiĆ§Ć£o Ć pornografia online que retirou 190 sites adultos do ar. Isso incluiu o Pornhub (que figurou como um dos 20 sites mais visitados do paĆs em 2019).
Embora as VPNs sejam tecnicamente bloqueadas, algumas ainda funcionam na China. O mesmo acontece com sites pornogrĆ”ficos em muitos dos paĆses mencionados. Muitos sites de pornografia criam sites āespelhoā para dar acesso a pessoas em paĆses restritos, mas estes serĆ£o frequentemente bloqueados assim que as autoridades tomam conhecimento deles, afirma o relatĆ³rio.
Os paĆses que aumentaram a censura na internet em 2021
AlĆ©m da TailĆ¢ndia, outros dois paĆses sĆ£o destacados no estudo como locais onde a censura na internet teve um aumento no Ćŗltimo ano — GuinĆ© e GrĆ©cia. Nos dois casos, a suspensĆ£o de sites e mĆdias de natureza polĆtica na web contribuiu para um maior cerceamento ao conteĆŗdo online.
Na GuinĆ©, a censura apareceu na forma de restriƧƵes e suspensƵes de mĆdia polĆtica ou ameaƧas de bloqueio a sites durante as eleiƧƵes de outubro de 2020, bem como restriƧƵes Ć s redes sociais durante este perĆodo.
A GrĆ©cia, apesar de nĆ£o aparecer entre as naƧƵes que mais censuram a internet, teve uma alta significativa na pontuaĆ§Ć£o monitorada pela Comparitech. AlĆ©m da restriĆ§Ć£o a torrents, aƧƵes contra conteĆŗdo polĆtico online contribuĆram para uma piora no cenĆ”rio do paĆs.
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A organizaĆ§Ć£o RepĆ³rteres sem Fronteiras (RSF) sugere que houve uma diminuiĆ§Ć£o na liberdade de imprensa no paĆs em 2020. Os meios de comunicaĆ§Ć£o que criticavam o governo foram omitidos ou receberam nĆŗmeros desproporcionalmente pequenos de descontos de impostos.
Os canais de TV pĆŗblicos foram obrigados a nĆ£o transmitir um vĆdeo que mostrava o primeiro-ministro desrespeitando as regras de lockdown devido Ć pandemia de Covid-19 em fevereiro.
A cobertura da crise dos refugiados foi fortemente restringida, afirma o relatĆ³rio. Um renomado jornalista policial grego, Giorgos Karaivaz, foi assassinado no Ćŗltimo mĆŖs de abril.
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Na AmĆ©rica do Sul, restriƧƵes Ć mĆdia polĆtica
A mĆdia polĆtica sofre restriĆ§Ć£o na metade dos paĆses pesquisados pela Comparitech, com destaque para a Venezuela, onde hĆ” tentativas āpersistentesā, segundo o levantamento, de controlar as notĆcias e silenciar os meios de comunicaĆ§Ć£o independentes, alĆ©m de controlar o acesso a redes sociais e aplicativos de mensagens.
A Argentina Ć© o Ćŗnico paĆs sul-americano a bloquear ativamente sites de torrent, enquanto a Venezuela Ć© o Ćŗnico a restringir a pornografia online, aponta o relatĆ³rio. Os torrents tĆŖm restriƧƵes impostas em todos os paĆses analisados no continente.
O Brasil aparece como paĆs que oferece restriƧƵes a torrents e aplicativos de mensagens.
Nenhum dos paĆses da AmĆ©rica do Sul tem restriƧƵes ou bane o uso de VPN no momento, afirma o estudo.
Europa mira nos torrents e no conteĆŗdo polĆtico
Torrents e mĆdia de cunho polĆtico sĆ£o os tipos de conteĆŗdo mais visados pelos governos da Europa, segundo o relatĆ³rio global da Comparitech.
O levantamento mostra que no Ćŗltimo ano 18 paĆses baniram ou fecharam sites de torrent, como FranƧa, Portugal, Espanha e outros. A parcela restante dos paĆses europeus impƵe restriƧƵes, sem derrubar os sites que oferecem download de conteĆŗdo.
Na Espanha, uma particularidade: embora sites de torrent sejam frequentemente bloqueados (por isso o paĆs Ć© classificado como tendo fechado sites de torrent), as regras permitem torrent para uso pessoal (baixar para visualizar, mas nĆ£o para enviar ou distribuir).
UcrĆ¢nia restringe a pornografia online, enquanto Belarus e Turquia proĆbem totalmente o conteĆŗdo. Na Turquia, compartilhar conteĆŗdo obsceno Ć© considerado crime ā e os infratores podem ser punidos com multas ou penas de prisĆ£o por atĆ© trĆŖs anos.
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A mĆdia polĆtica Ć© restrita em 12 paĆses, mas Belarus e Turquia se destacam no bloco europeu como sendo os paĆses mais incisivos em controlar este tipo de conteĆŗdo. A Turquia restringe ainda o uso de VPNs, enquanto Belarus as proĆbe totalmente.
Na seĆ§Ć£o da AmĆ©rica do Norte, Cuba aparece como grande censor
A classificaĆ§Ć£o do levantamento da Comparitech considera como sendo AmĆ©rica do Norte o conjunto de paĆses acima do PanamĆ”, normalmente incluĆdos na AmĆ©rica Central.
No grupo analisado pela consultoria, Cuba Ć© o Ćŗnico paĆs que restringe a pornografia online, censura pesadamente sua mĆdia polĆtica e restringe VPNs, assim como redes sociais e aplicativos de mensagens.
O forte controle do Estado cubano sobre a internet pĆ“de ser observado nos protestos de julho, quando, apĆ³s milhƵes saĆrem Ć s ruas protestando contra as mĆ”s condiƧƵes de vida no paĆs, a internet foi bloqueada pelo governo a fim de desmobilizar as manifestaƧƵes.
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Seis outros paĆses (El Salvador, Guatemala, Honduras, MĆ©xico, NicarĆ”gua e PanamĆ”) tĆŖm restriƧƵes para mĆdia polĆtica. Os EUA tiveram uma melhora nesta Ć”rea este ano, aponta o estudo, Ć medida que as restriƧƵes Ć mĆdia polĆtica diminuĆram desde a Ćŗltima eleiĆ§Ć£o presidencial.
AlĆ©m de Cuba, aplicativos de mensagens e VoIP encontram restriƧƵes tambĆ©m em Belize e MĆ©xico. No MĆ©xico, alguns provedores bloqueiam os serviƧos VoIP, enquanto empresas de telecomunicaƧƵes de Belize oferecem seus prĆ³prios serviƧos VoIP enquanto proĆbem outros.
CanadĆ”, MĆ©xico e Estados Unidos baniram ou fecharam sites de torrent, aponta o relatĆ³rio.
Censura na Ćsia bloqueia redes sociais e conteĆŗdo polĆtico
As redes sociais e o conteĆŗdo considerado polĆtico sofrem vĆ”rias restriƧƵes na Ćsia, aponta o relatĆ³rio da Comparitech. Em 88% dos paĆses analisados no continente, a mĆdia polĆtica Ć© āfortemente restringida ou censuradaā.
Um total de 32 paĆses no bloco asiĆ”tico restringe as plataformas de rede social de alguma forma. āChina, IrĆ£, Coreia do Norte e TurcomenistĆ£o vĆ£o um passo alĆ©m e impƵem proibiƧƵes completas em plataformas populares de rede socialā, aponta o estudo.
No caso da China, o paĆs bloqueia redes sociais mundialmente conhecidas, como Facebook e Instagram, e mantĆ©m seus prĆ³prios sites e aplicativos, como Weibo e WeChat.
A maioria dos paĆses asiĆ”ticos tem restriƧƵes Ć pornografia online (40 dos 49 analisados — 82%), com 27 deles tendo proibiƧƵes ou bloqueios totais, afirma o mapeamento.
Quatro paĆses proibiram totalmente o uso de VPN (China, IrĆ£, Iraque e Coreia do Norte) e outros 11 impƵem restriƧƵes.
āRestriƧƵes de aplicativos de mensagens e VoIP tambĆ©m sĆ£o comuns na Ćsia, com 13 paĆses implementando alguma forma de limitaĆ§Ć£o. Embora a RĆŗssia tenha banido o Telegram em 2018, isso foi cancelado em junho de 2020. No entanto, como o governo continua procurando maneiras de restringir sites e aplicativos de fora do paĆs, isso pode mudar a qualquer momento.ā
Mais da metade dos paĆses africanos tĆŖm restriƧƵes a redes sociais
A maioria dos paĆses africanos (81%) restringe a mĆdia polĆtica, revela o levantamento. ArgĆ©lia, CamarƵes e Chade sĆ£o destacados entre os paĆses onde o cerceamento de comentĆ”rios polĆticos aumentou desde o Ćŗltimo estudo da Comparitech, em 2020.
Mais da metade (60%) das naƧƵes pesquisadas implementam restriƧƵes de mĆdia social, mas apenas um deles, a Eritreia, chegou a bloquear continuamente o acesso.
A Ćfrica do Sul Ć© o Ćŗnico paĆs africano que fecha ativamente os sites de torrent.
A pesquisa aponta ainda aque 14 paĆses africanos tĆŖm restriƧƵes Ć pornografia online, com quatro deles proibindo a operaĆ§Ć£o dos sites (GuinĆ© Equatorial, Eritreia, TanzĆ¢nia e Uganda).
O Egito Ć© o Ćŗnico paĆs que restringe o uso de VPN. Apesar das VPNs serem legais, muitos sites e servidores de provedores de VPN estĆ£o bloqueados.
O Egito tambĆ©m Ć© um dos sete paĆses com restriƧƵes ao uso de aplicativos de mensagens/VoIP. Os outros sĆ£o Burundi, GuinĆ© Equatorial, Serra Leoa, LĆbia, Marrocos e TunĆsia.
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Oceania reprime pornografia e muda lei sobre redes sociais
Na Oceania, a AustrĆ”lia Ć© o Ćŗnico paĆs que impƵe estritamente a proibiĆ§Ć£o de torrents e, junto com Papua-Nova GuinĆ©, tambĆ©m tem restriƧƵes Ć pornografia online, mostra a pesquisa.
āO Australian Broadcasting Service Act 1992 proĆbe a exibiĆ§Ć£o de pornografia na internet, estabelecendo-a como um crime passĆvel de multa. No entanto, apenas algumas cidades tentaram estabelecer uma proibiĆ§Ć£o total.
O projeto de lei de conteĆŗdo online da AustrĆ”lia, sob anĆ”lise, tambĆ©m ameaƧa restringir ainda mais o acesso Ć pornografia online no paĆs.ā
Em setembro, a JustiƧa australiana tomou uma decisĆ£o que afeta diretamente a liberdade de imprensa e a liberdade de expressĆ£o: veĆculos de comunicaĆ§Ć£o do paĆs tornaram-se responsĆ”veis pelos comentĆ”rios de leitores em reportagens publicadas nas redes sociais e sites dos veĆculos de comunicaĆ§Ć£o.
Por 5 votos a 2, o Tribunal Superior da AustrĆ”lia definiu que as empresas de mĆdia nĆ£o sĆ£o apenas responsĆ”veis āāpelo conteĆŗdo escrito por seus jornalistas. Agora, elas tambĆ©m sĆ£o āeditoresā responsĆ”veis pelos comentĆ”rios feitos por seus leitores na internet.
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A mĆdia polĆtica Ć© restrita em Fiji, Papua-Nova GuinĆ©, Samoa e Tonga, mas apenas Papua-Nova GuinĆ© tem a capacidade de restringir as redes sociais por meio de sua lei de crimes cibernĆ©ticos, introduzida em 2016.
Nenhum dos paĆses da Oceania restringe o uso de VPNs ou aplicativos de VoIP/mensagens.
Liberdade online nĆ£o estĆ” garantida, alerta pesqusiador
āEmbora nĆ£o seja uma grande surpresa ver paĆses como China, RĆŗssia e Coreia do Norte no topo da lista, o nĆŗmero crescente de restriƧƵes em muitos outros paĆses Ć© muito preocupanteā, argumenta Paul Bischoff
āDas contĆnuas tentativas da AustrĆ”lia de bloquear a pornografia Ć crescente hostilidade da mĆdia polĆtica em muitos paĆses, a liberdade online Ć© algo que nĆ£o podemos mais considerar garantido.ā
Na divulgaĆ§Ć£o de seu ranking global de liberdade de imprensa, em abril, a RSF apontava que āa principal vacina contra o vĆrus da desinformaĆ§Ć£o, o jornalismoā, estĆ” total ou parcialmente comprometido em 73% das 180 naƧƵes que fazem parte da lista de 2021.
Apenas 7% dos paĆses ficaram na zona branca, que sinaliza uma boa situaĆ§Ć£o para o trabalho da imprensa, uma consequĆŖncia de uma internet livre de censura.
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