Londres – Aproveitando o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, em 25 de novembro, a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e suas afiliadas uniram-se em um apelo global aos governos para ajudar a erradicar o assédio a jornalistas, cobrando a ratificação da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com a IFJ, quase dois terços das profissionais de mídia sofreram intimidação, ameaças ou abuso em reação ao seu trabalho, seja offline ou online. O abuso pode vir de todas as direções: colegas e superiores, fontes, usuários poderosos ou anônimos nas redes sociais.

Em maio, uma pesquisa da Unesco mostrou que nunca tantas mulheres foram vítimas de assédio pela internet, com mais de sete em cada 10 entrevistadas relatando ter sofrido violência online. 

Assédio online intimida imprensa 

A pesquisa The Chilling: global trends in online violence against women journalists, que entrevistou 901 profissionais de 125 países, mostra que a violência online tornou-se a mais importante forma de intimidar o trabalho da imprensa, principalmente das mulheres jornalistas.

No entanto, o perigo não se restringe à internet.

As entrevistadas revelaram que o abuso online envolve com frequência em ameaças de violência sexual ou física, muitas das quais acabam se tornando realidade.

Uma em cada cinco das jornalistas ouvidas disse ter sofrido ataques ou abusos no âmbito off-line decorrentes das ameaças online.

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Para a Federação dos Jornalistas, os ataques têm “efeitos assustadores sobre a liberdade de expressão”, levando as profissionais – não apenas mulheres – à autocensura e afetando seu bem-estar e vida pessoal.

Eles também tiveram consequências devastadoras no pluralismo e no direito do público de saber, com muitas histórias não sendo contadas por mulheres por medo de serem atacadas ou mortas, afirma a IFJ

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Apenas oito países ratificaram a Convenção 190 da OIT

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprovou a Convenção 190 para acabar com a violência e o assédio no mundo do trabalho, bem como uma recomendação, a 206, em 10 de junho de 2019.

Ambas podem trazer mudanças ao banir violência e assédio a jornalistas. Até o momento, segundo a Federação, apenas oito países ratificaram a Convenção – Argentina, Equador, Fiji, Finlândia, Namíbia, Somália, Espanha e Uruguai.

A presidente do Conselho de Gênero da IFJ, Maria Angeles Samperio, disse:

“Precisamos que esta Convenção e sua recomendação sejam ratificadas pelos governos em todo o mundo o mais rápido possível para que a violência no trabalho seja considerada uma questão de saúde e segurança e tratada de acordo.

Proibindo o assédio e violência no mundo do trabalho a Convenção 190 da OIT pode transformar redações em zonas livres de violência, extremamente necessárias ao jornalismo”.

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Campanha é fundamental para diminuir a violência no trabalho

Como parte da campanha, os membros do Conselho de Gênero da IFJ estão compartilhando depoimentos explicando porque a ratificação da Convenção é fundamental, destacando a urgência de lutar contra o assédio online e a violência econômica.

O secretário-geral da IFJ, Anthony Bellanger, disse:

“A violência no mundo do trabalho é uma questão de saúde e segurança à qual os empregadores da mídia devem responder.

Temos feito campanha ao lado de outras federações sindicais globais por vários anos para que a C190 seja adotada, e agora pedimos aos governos em todo o mundo para assumirem sua responsabilidade e agilizarem sua ratificação, criando emendas em suas legislações nacionais”.

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Maria Ressa, símbolo de assédio a jornalistas

Um dos casos mais notórios de jornalista que encarou o assédio de frente é o de Maria Ressa, a filipina que ganhou o Nobel da Paz, junto com o russo Dmitry Muratov.

Depois de desafiar o governo e os poderosos expondo abusos, violência e autoritarismo nas Filipinas, ela passou a ser bombardeada com uma sequência de processos jurídicos e a sofrer perseguições.

Sua visibilidade internacional ajudou na defesa, com algumas das acusações retiradas pelos autores. 

Em outubr, Ressa ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua corajosa luta pela liberdade de expressão. 

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No Brasil, Patrícia Campos Mello

Outra que vítima do assédio a jornalistas que se tornou referência no mundo foi Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo.

Em um artigo escrito ao ser homenageada pelo Instituto Reuters de Estudos do Jornalismo, ela contou  sobre o ataque que sofreu em 2018, por escrever sobre o uso político do Whatsapp e de outras ferramentas de desinformação para manipular a opinião pública.

“Sou alvo dessa máquina de ódio desde 2018. No começo, recebia mensagens ameaçadoras no Facebook, Twitter e Instagram. Em uma dessas mensagens no Facebook, o agressor disse: “Se você quer que seu filho fique seguro, saia do país. Isso não é uma ameaça; é um aviso”. Meu filho tinha 6 anos.

Eu não estou sozinha. Muitas jornalistas respeitadas no Brasil, como Míriam Leitão, Vera Magalhães, Talita Fernandes, Constança Rezende, Juliana Dal Piva e Daniela Lima também foram alvo de ataques misóginos. E em todo o mundo, grandes jornalistas como Maria Ressa nas Filipinas e Neha Dixit na Índia estão sendo atacadas com calúnias e ameaças sexistas apenas porque estão fazendo seu trabalho.

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Na Colômbia, Jineth Bedoya

Também vitoriosa foi Jineth Bedoya, jornalista colombiana sequestrada, torturada e estuprada há 20 anos. Em outubro, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou a Colômbia pelos crimes praticados por paramilitares que ela investigava.

O país foi declarado “internacionalmente responsável pela violação dos direitos à integridade e liberdade pessoal, honra, dignidade e liberdade de expressão”, de Bedova.

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