Londres – Na primeira semana da COP27, a pesquisa PlanetPulse do Instituto Kantar ouviu 4,8 mil pessoas em 12 países, incluindo o Brasil, para compreender as expectativas em relação à conferência, às mudanças climáticas e ao papel das empresas.
Naquele momento, dois em cada três dos entrevistados já tinham ouvido falar do encontro, que ainda teria mais 12 dias pela frente.
Para Karine Trinquetel, Líder Global de Sustentabilidade da Kantar, os resultados confirmam que as marcas devem prestar atenção aos rumos ditados pela COP27, não só porque os acordos afetarão políticas nacionais e seus ambientes de negócios.
“É um momento crucial para considerar os impactos nas percepções da opinião pública.
Líderes corporativos podem transformar o risco de exposição a novas regulamentações na oportunidade de uma década: oferecer às pessoas um caminho para uma vida mais verde”.
A pesquisa mostrou que globalmente, a esmagadora maioria (96%) concorda que há necessidade de ação urgente. E mais da metade (54%) considera que as empresas estão agindo, em maior ou menor grau, para enfrentar a crise. Mas Trinquetel alerta:
“Por outro lado, uma parcela de 38% dos respondentes acha, em maior ou menor grau, que as empresas estão piorando a situação, um resultado alarmante”.
Embora os governos sejam os mais demandados, 75% dos pesquisados acham que o público tem responsabilidade em colaborar para mitigar a crise.
Enquanto a mídia é vista como responsável por apenas 34%, mais de seis de cada dez dos entrevistados (64%) considera que o peso maior recai sobre as empresas – que podem proporcionar ao público os meios para a adoção de hábitos capazes de proteger o planeta.
“Isso está provavelmente ligado à convicção de 80% dos entrevistados de que uma ação global e coletiva é essencial. E nesse senso de responsabilidade compartilhada, os entrevistados deixaram claro que as empresas têm um papel a desempenhar”, analisa Trinquetel.
Tomando por base o slogan “Juntos para implementação” da COP27, que busca incentivar a transformação da ambição em ação, a Kantar quis saber o que os entrevistados achavam dos planos ambientais corporativos.
Para 76% da amostra global, eles não são ambiciosos ou não têm a ambição à altura do desafio. No Brasil, essa é a opinião de 84% dos pesquisados.
Trinquetel ressalta que embora se observe um número crescente de compromissos das principais marcas, a pesquisa revelou a extensão dos anseios do público.
“Há um desejo claro de ver mais liderança e iniciativa do mundo corporativo. Uma nova cultura de consumo está surgindo, e as marcas devem repensar como criam valor”.
Pesquisa revela que brasileiros estão entre os mais otimistas
Mesmo antes da presença do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva na COP27, os brasileiros aparecem entre os de maior compreensão do que significa a conferência (44%), quase empatando com o maior índice verificado, de 45%, apresentado pelos indianos e britânicos.
Estavam também entre os mais otimistas. Quase metade dos brasileiros (42%) disseram aguardar avanços significativos.
E quase nove em cada dez (86%) disseram esperar pelo menos um pequeno progresso.
A esperança brasileira por grandes avanços só não é maior que a dos indianos (56%). Mas é quase o dobro da média mundial (22%). O país que menos espera progressos significativos é o Reino Unido, justamente o que sediou a última COP, em 2021.
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Mudanças climáticas vão provocar mudanças de atitude
Karine Trinquetel, Líder Global de Sustentabilidade da Kantar, afirma que a COP27 deve impulsionar mudanças no cotidiano da população, já que o custo da inação está se tornando mais tangível.
“As mudanças climáticas têm o poder de influenciar cada vez mais as decisões pessoais.
Para se manterem relevantes, as empresas devem ficar próximas dos tópicos com os quais as pessoas se preocupam, para ajudar a mitigar os riscos e oferecer soluções para evoluir a maneira como consumimos”.
Quase todos os entrevistados (93%) da pesquisa feita durante a COP27 pelo instituto em 12 países afirmaram ter uma visão das consequências da mudança climática.
As principais fontes de preocupação apontadas foram os danos à natureza e à vida animal, junto com a crise dos recursos naturais e a consequente escassez de alimentos, água e energia. Logo em seguida foram citados os danos causados à saúde humana pela população.
A pesquisa feita durante a COP27 destaca diferenças regionais na percepção das ameaças provocadas pelas mudanças climáticas. Enquanto 43% dos europeus focam na perda de vidas humanas, 56% dos chineses disseram temer doenças infecciosas e 41% dos egípcios se demonstraram preocupados com a saúde mental.
Dentre os temas centrais da agenda da COP27, 62% das pessoas apontaram como o de maior urgência a ser endereçado por governos e empresas a questão da energia, incluindo o abandono do uso de combustíveis fósseis, a utilização de fontes renováveis e a transformação energética.
Sustentabilidade na vida e na morte
A tendência constatada pela Kantar está sendo aproveitada por marcas que acordaram para a oportunidade de oferecer opções para uma vida – ou até uma morte – sustentável.
Na semana da COP27, o site americano de notícias de negócios Axios apontou a compostagem de restos mortais como “1 big thing now trending”.
A líder do setor é a Recompose, de Seattle. O processo de “usar os princípios da natureza para transformar os mortos em solo” custa US$ 7 mil, incluindo coleta, compostagem e a cerimônia final.
Um conserto simples pode custar mais caro do que uma peça nova na liquidação. Mas quem faz essa opção não está preocupado com economia.
Vale também para consumidores mais exigentes. A rede Show Lab recupera de um simples par de tênis a sofisticados sapatos Loubotin.
Este artigo faz parte do MediaTalks Especial COP27
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