Londres – Em fevereiro de 2023, a iniciativa de inclusão de gênero da BBC, chamada 50:50, recebeu medalha de ouro na categoria Inovação em Diversidade, Equidade e Inclusão do Anthem Awards, que premia os melhores programas sociais globais.

Foi mais uma conquista de um projeto concebido para igualar a representação das mulheres tanto na redação como na cobertura jornalística da maior rede de mídia britânica. 

E que devido a seus resultados, saiu da BBC e foi adotado voluntariamente por outras empresas jornalísticas como RAI, Voice of America e Financial Times, bem como por agências de relações públicas, consultorias de negócios, universidades e ONGs.

Metas para inclusão de gênero assustaram no início 

O interessante é que não foi uma mulher a responsável pela iniciativa criada em 2017, e sim um homem. Seu idealizador foi Ros Atkins, diretor e apresentador do programa Outside Source.

Atkins conta que a ideia para aumentar a inclusão de gênero foi recebida inicialmente com reservas por sua equipe, temerosa de que a carga de trabalho seria aumentada ou que o desempenho individual seria medido pelo atingimento das metas de equilíbrio. 

Mas a ideia prosperou, talvez pelo modelo simples, em forma de competição.

Gênero medido por equipes 

As equipes – somente na BBC são mais de 700 – podem ser formadas por quaisquer conjuntos de membros da empresa, como departamentos ou programas, que trabalham para alcançar o equilíbrio na representação do conteúdo que produzem.

Os responsáveis por programas em que a audiência liga para dar opiniões monitoram o gênero dos participantes colocados no ar.

Equipes de jornalismo acompanham o equilíbrio no conjunto de repórteres e fontes. No noticiário digital, são contabilizados vídeos, fotos e citações de mulheres.

A jornalista Nina Goswami, hoje líder de inclusão do escritório de advocacia Clifford Chance, foi a primeira chefe do 50:50 e o liderou por cinco anos, desde quando ele era apenas destinado a equilibrar gênero.

Hoje o programa foi estendido a outros grupos com pouca visibilidade na sociedade. 

Em entrevista ao MediaTalks, ela ressaltou que os princípios fundamentais da iniciativa de inclusão de gênero continuam os mesmos: usar dados para efetuar mudanças, contabilizar apenas o que se pode controlar e nunca comprometer a qualidade.

“Temos que ser realistas. Não podemos controlar se o primeiro-ministro britânico é homem ou mulher, então não são contadas suas aparições ao monitorar o conteúdo. Mas podemos controlar quem escolhemos para comentar um fato político – então esses convidados são contados”, explica a jornalista.

Resultados do 50:50

Mulheres trans são contabilizadas no espaço feminino. O relatório mais recente, de abril de 2022, mostrou que 61% das equipes participantes do 50:50 apresentavam 50% de representação feminina em março daquele ano, contra uma média de 35% quando aderiram à iniciativa.

Miranda Holt, líder de Parcerias do 50:50, destaca que 73% das equipes fizeram progresso em sua meta de in- corporar mais mulheres às equipes.

E 47% das organizações apresentaram pelo menos 50% de mulheres em seu conteúdo em março, contra 31% no primeiro mês de monitoramento.

A partir deste ano, organizações que desejarem participar do programa de inclusão de gênero da BBC deverão pagar uma taxa anual de £ 2 mil (R$ 12,9 mil) para receber consultoria, usar a logomarca do projeto e realizar quatro reuniões por ano com a equipe do 50:50.

“É preciso haver incentivo para aumentar a representação das mulheres na cobertura em todos os níveis. Não é algo que uma pessoa pode fazer sozinha. Todos nós precisamos nos engajar se quisermos representar corretamente o público – e isso significa dar às mulheres a metade do espaço”, defende Nina Goswami.


Este artigo faz parte da edição especial sobre representação de gênero na mídia