Foram divulgados em 10 de março os finalistas do World Press Photo, o maior prêmio do fotojornalismo mundial, que reconhece as melhores imagens do ano passado em oito categorias. Os vencedores serão anunciados em abril. Esta é 64ª edição da premiação, concedida pela World Press Photo Foundation, criada em 1955, em Amsterdã.

Além dos ganhadores das oito categorias (Temas Contemporâneos, Meio Ambiente, Notícias Gerais, Natureza, Retratos, Esportes, Notícias em destaque e Projetos de Longo Prazo), serão anunciados os vencedores dos prêmios especiais: Foto do Ano e Foto-Reportagem do Ano.

No total são 54 trabalhos finalistas, de 45 fotógrafos de 28 países. O brasileiro Lalo Almeida concorre na categoria Meio Ambiente, com a foto “Pantanal em Chamas”, para a Folha de S.Paulo, mostrando o corpo de um macaco bugio carbonizado durante os incêndios na região.

Na categoria principal, o Brasil está representado indiretamente, pelo tema da foto “O Primeiro Abraço”, do dinamarquês Mads Nissen. Ela foi tirada no Lar Viva Bem, em São Paulo, retratando o sofrimento causado pela pandemia. 

As fotos finalistas refletem os temas principais do ano que passou: o impacto da Covid-19, os efeitos das mudanças climáticas e a defesa das minorias, principalmente de negros, mulheres e indígenas.

A importância do prêmio vem crescendo a cada ano. Nesta edição foram inscritas 74.470 imagens de 4.315 fotógrafos de 130 países, acima do ano passado, quando participaram 73.996 imagens de 4.282 fotógrafos de 125 países.

Devido à pandemia, o julgamento deste ano foi inteiramente online. Para Rodrigo Orrantia, curador e membro do júri a inovação e a variedade de abordagens para a narrativa visual foram os pontos que mais se destacaram nesta edição:

“Fotógrafos em geral, mas especificamente fotojornalistas e fotógrafos de imprensa, estão descobrindo novas maneiras de contar histórias visualmente. Algumas entradas se destacaram porque sua linguagem visual era realmente sofisticada, o que é uma mudança muito interessante da tradição clássica da fotografia impressa.”

Os vencedores do 2021 farão parte da exposição que correrá o mundo a partir de abril, começando pela mostra no De Nieuwe Kerk, em Amsterdã, de 17 de abril a 25 de julho. Também será lançado em maio um anuário com as imagens mais marcantes, em seis idiomas. 

Veja abaixo os trabalhos finalistas nas categorias Foto do Ano e Foto-Reportagem do Ano, e as fotos que concorrem com a do brasileiro Lalo de Almeida na categoria Meio Ambiente.

Finalistas do Grande Prêmio Foto do Ano 

Emancipation Memorial Debate | Evelyn Hockstein (EUA) – para The Washington Post

Anais, de 26 anos, participante do movimento Black Lives Matter, quer a remoção do Memorial da Emancipação do Lincoln Park, em Washington. Durante protesto em 25 de junho de 2020, que reuniu cerca de 100 participantes, ela é confrontada por um homem que gostaria de manter a estátua no local. O impulso para remover a estátua aconteceu em meio a uma onda de apelos para derrubar monumentos de generais confederados em todo o país, uma ação amplamente saudada por ativistas do movimento Black Lives Matter, que veem os monumentos confederados como lembranças da opressão sofrida pela população negra. As autoridades ergueram barreiras ao redor do Memorial da Emancipação antes das manifestações. Os residentes colocaram notas na cerca expressando seus pontos de vista. O Memorial da Emancipação mostra Lincoln segurando a Proclamação da abolição da escravatura em uma das mãos, tendo a outra mão sobre a cabeça de um homem negro com uma tanga, ajoelhado a seus pés. Os críticos argumentam que a estátua é paternalista, humilhante em sua representação dos negros americanos, e que não faz justiça ao papel que os negros desempenharam em sua própria libertação. Aqueles que querem sua manutenção argumentam que se trata de uma descrição positiva de pessoas sendo libertadas das algemas da escravidão e que a remoção de monumentos representa um apagamento da história.  Em fevereiro de 2021, a congressista Eleanor Holmes Norton apresentou um projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos para que a estátua fosse removida e levada a um museu.


 

    

Leaving Home in Nagorno Karabakh | Valery Melnikov (Rússia) – para a agência Sputnik

Azat Gevorkyan e sua esposa Anaik foram fotografados antes de deixar sua casa em Lachin, em 28 de novembro de 2020. Muitos armênios deixaram áreas que retornaram ao controle do Azerbaijão. O distrito de Lachin foi último abandonado pela Armênia. O conflito entre o Azerbaijão e a Armênia pela região de Nagorno-Karabakh foi retomado em setembro, após uma calmaria de 30 anos. Quando a União Soviética estava se desintegrando, os armênios em Nagorno-Karabakh, parte do Azerbaijão, aproveitaram o vácuo de poder e votaram para ingressar na Armênia. A luta se intensificou depois que a União Soviética foi dissolvida em 1991, e continuou até um cessar-fogo em 1994. Mais de 20 mil pessoas morreram e um milhão de pessoas teve que deixar suas casas. Os armênios vitoriosos declararam um estado independente, levando cerca de 800 mil azerbaijanos ao exílio. As novas hostilidades, nas quais cada lado culpa o outro pelo início, começaram em 27 de setembro do ano passado, no que ficou conhecido como a Segunda Guerra do Nagorno-Karabakh. O conflito continuou até 9 de novembro. Em um acordo mediado pela Rússia, o Azerbaijão recuperou a posse do território perdido na década de 1990, mas a capital regional, Stepanakert, foi deixada sob controle armênio. Embora a luta tenha acabado, a reconciliação será difícil tanto para os armênios, que sentem que perderam sua terra natal, quanto para os azerbaijanos, que retomam uma área devastada.


 

                      The First Embrace | Mads Nissen

No Brasil, este foi o primeiro abraço que Rosa Luzia Lunardi, de 85 anos, recebeu em cinco meses. Foi no dia 5 de agosto de 2020, no lar de idosos Viva Bem, em São Paulo. O carinho foi feito pela enfermeira Adriana Silva da Costa Souza graças à “Cortina do Abraço”, idealizada para criar uma barreira à passagem do vírus. O flagrante foi captado pelo fotógrafo dinamarquês Mads Nissen, que vive em Copenhagen e trabalha desde 2014 para o jornal diário Politiken. Sua ligação com o Brasil rendeu um álbum de fotos chamado Amazonas, com 192 páginas e 132 imagens de seu mergulho sobre a vida na Amazônia. 


 

     The Transition: Ignat | Oleg Ponomarev (Rússia) – Freelance

No flagrante de 23 de abril do ano passado, Ignat, transgênero, aparece com sua namorada Maria em seu apartamento em São Petersburgo, na Rússia. Ignat sofre as consequências de sua opção desde criança, quando foi consultado pelo psicólogo da escola por se referir a si mesmo usando o gênero masculino. Ignat abriu-se com o psicólogo sobre sua identidade de gênero − o primeiro estranho a quem ele decidiu contar tudo −, mas pediu que seu caso fosse mantido em  segredo. Pouco depois toda a escola sabia e os insultos e humilhações tornaram-se permanentes. Uma emenda à Constituição russa, feita em julho de 2020, estipula que o casamento é uma união entre um homem e uma mulher, sem outras opções possíveis. Uma outra emenda buscava impedir que as pessoas trans pudessem mudar seu status em documentos legais, mas não foi aprovada. 


 

Fighting Locust Invasion in East Africa |Luis Tato (Espanha) – para The Washington Post

Henry Lenayasa, chefe do assentamento de Archers Post, no condado de Samburu, no Quênia, tenta espantar um enorme enxame de gafanhotos que devasta a área de pastagem, em 24 de abril de 2020. No início do ano passado, o Quênia experimentou sua pior infestação de gafanhotos em 70 anos. Enxames da Península Arábica tinham migrado para a Etiópia e a Somália no verão de 2019. A reprodução contínua e bem-sucedida, junto com fortes chuvas de outono e um raro ciclone de final de temporada em dezembro daquele ano desencadeou um espasmo reprodutivo. Os gafanhotos se multiplicaram e invadiram novas áreas em busca de alimento. Gafanhotos do deserto (Schistocerca gregaria) são os mais destrutivos, pois podem voar rapidamente por grandes distâncias, viajando até 150 quilômetros por dia. Um único enxame pode conter entre 40 e 80 milhões de gafanhotos por quilômetro quadrado. Cada gafanhoto pode comer diariamente uma quantidade de plantas equivalente ao seu peso. Isso significa que um enxame do tamanho de Paris poderia comer a mesma quantidade de comida em um dia que metade de toda população da França. Os gafanhotos produzem de duas a cinco gerações por ano, dependendo das condições ambientais.  O clima úmido prolongado − produzindo solo úmido para postura de ovos e comida abundante − favorece a produção de grandes enxames que viajam em busca de alimento, devastando terras agrícolas. Mesmo antes deste surto, quase 20 milhões de pessoas enfrentavam altos níveis de insegurança alimentar na região da África Oriental. As restrições da Covid-19 na região retardaram os esforços para combater a infestação, uma vez que as cadeias de abastecimento de pesticidas foram interrompidas.


 

  Injured Man after Port Explosion in Beirut | Lorenzo Tugnoli (Itália) − Agência Contrasto, para The Washington Post

Um homem ferido anda em meio aos escombros no porto de Beirute, enquanto os bombeiros trabalham para apagar os incêndios nos armazéns após a explosão. Por volta das 18h do dia 4 de agosto, uma grande explosão, causada por mais de 2.750 toneladas de nitrato de amônio de alta densidade, sacudiu a capital do Líbano.  A explosão, que registrou 3,3 na escala Richter, danificou ou destruiu cerca de 6 mil edifícios, matou pelo menos 190 pessoas, feriu outras 6 mil e desabrigou até 300 mil. O nitrato de amônio veio de um navio que havia sido apreendido em 2012 por não pagar as taxas devidas ao porto e aparentemente abandonado pelo seu proprietário. Os funcionários da alfândega escreveram aos tribunais libaneses pelo menos seis vezes entre 2014 e 2017, perguntando como se livrar do explosivo.  Nos dias seguintes à explosão, dezenas de milhares de manifestantes encheram as ruas do centro de Beirute, alguns entrando em confronto com as forças de segurança, em protesto contra um sistema político que eles consideravam incapaz de resolver os problemas do país.


Finalistas do Grande Prêmio Foto-Reportagem 

Those who Stay will be Champions | Chris Donovan (Canadá) 

A reportagem documenta o time de basquete Flint Jaguars e sua luta para sobreviver, que é a mesma da cidade que representa. Flint, no Michigan, é o berço da General Motors, e sofre os efeitos negativos da emigração, causada por um declínio vertiginoso de sua indústria automotiva, uma crise de saúde provocada pelas mudança de suas fontes de abastecimento de água e a pobreza predominante em seus bairros de população negra. O basquete é parte integrante da cultura de Flint. Por décadas, quatro times do ensino médio lutaram como rivais ferozes. Agora, há apenas uma escola secundária na cidade. Os Flint Jaguars foram fundados em 2017, unindo as equipes das duas últimas escolas. Em 2020, a equipe lutou para reverter o que até então era uma história quase sem vitórias. Em março, eles estavam preparados para chegar às finais da divisão, tendo vencido mais jogos em 2020 do que nos três anos anteriores combinados. O play-off deles terminou prematuramente quando a Covid-19 forçou o cancelamento da temporada.


Habibi  | Antonio Faccilongo (Itália) − para Getty Reportagem

A série, batizada de Habibi, que significa “meu amor” em árabe, narra histórias de amor tendo como pano de fundo o conflito entre israelenses e palestinos. As imagens mostram o impacto do conflito nas famílias palestinas e as dificuldades que enfrentam para preservar direitos e dignidade humana enquanto perseveram para sobreviver em uma zona de conflito. A foto mostra Iman Nafi, esposa de Al-Barghouthi, que cumpre prisão perpétua. Ele já passou mais de 40 anos na prisão e é o prisioneiro palestino mais antigo nas prisões israelenses. Quase 4.200 palestinos estão detidos em prisões israelenses, de acordo com um relatório de fevereiro de 2021 da organização de direitos humanos B’Tselem. Para visitar um prisioneiro, os familiares precisam superar restrições estabelecidas pela Agência de Segurança de Israel (ISA). Os visitantes geralmente têm permissão para ver os prisioneiros apenas através de uma divisória transparente e falar com eles por telefone. As visitas conjugais são negadas e o contato físico é proibido, exceto para crianças menores de dez anos, que têm dez minutos no final de cada visita para abraçar seus pais. Desde o início dos anos 2000, presos palestinos passaram a contrabandear seu sêmen da prisão, escondido em presentes para seus filhos. O sêmen é enviado dentro de tubos de canetas, embalagens plásticas de doces ou barras de chocolate. Em fevereiro de 2021, o Middle East Monitor relatou o nascimento do 96º bebê palestino nascido com sêmen contrabandeado das prisões israelenses.

Lost Paradise | Valery Melnikov (Rússia) − para a agência Sputnik

Com sua cobertura da região de Nagorno-Karabakh, que era disputada pela Armênia e pelo Azerbaijão, o fotógrafo russo Valery Melnikov conseguiu a proeza de ser indicado tanto para o prêmio de Foto do Ano como de Foto-Reportagem do Ano. Enquanto no trabalho da Foto do Ano Melnikov retrata um casal de armênios forçado a deixar a região, a reportagem fotográfica apresenta flagrantes de vencidos e vencedores. Nesta foto, Anushavan, de 62 anos, posa diante de uma árvore repleta de romãs no jardim de sua casa, no distrito de Ukhtasar, em Nagorno-Karabakh. Ele empunha um rifle de assalto Kalashnikov que utilizou na Primeira Guerra de Nagorno-Karabakh. 

Finalistas da Categoria Meio Ambiente 

Veja os trabalhos que concorrem com a foto do brasileiro Lalo de Almeida na categoria Meio Ambiente:

Inside the Spanish Park Industry: The Pig Factory of Europe | Autor Garmendia (Espanha) 

Climate Crisis Solutions: Collecting Drinking Water in Kalabogi | K M Assad (Bangladesh) 

Temple and Half-Mountain | Hkun Lat (Myanmar) 

One Way to Fight Climate Change: Make your own Glaciers | Ciril Jazbec (Eslovênia)

       California Sea Lion Plays with Mask | Ralph Pace (EUA) 

As fotos foram publicadas sob autorização da World Press Photo Foundation e não podem ser reproduzidas.