Londres – O exemplo das organizaçoÌes de miÌdia global que confiaram a mulheres o comando de suas redaçoÌes eÌ uma gota dâaÌgua em um oceano de discriminaçaÌo e violĂȘncia online e offline contra as jornalistas.
O AfeganistaÌo eÌ de longe o pior cenaÌrio. Em março, depois de pouco mais de seis meses de controle do TalibaÌ, levantamento da FederaçaÌo Internacional de Jornalistas apontou que 87% das jornalistas haviam sofrido discriminaçaÌo de geÌnero e 60% delas perderam empregos ou abandonaram as carreiras.
No dia 18 de maio, o regime TalibaÌ ampliou as restriçoÌes ao decretar que elas soÌ poderiam aparecer no viÌdeo de rosto coberto.
Na Ăndia, jornalistas famosas sĂŁo vĂtimas de violĂȘncia online
A IÌndia eÌ outra naçaÌo em que a intimidaçaÌo motivada por geÌnero ganhou atençaÌo do mundo. Jornalistas importantes foram incluiÌdas num aplicativo de celular que apregoava a “venda” de mulheres muçulmanas mantido por um esquema criminoso desbaratado em dezembro de 2021.
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Rana Ayyub, colunista do Washington Post, virou triste exemplo de mulher jornalista perseguida pelo governo indiano e por ativistas.
Teve os bens congelados em um processo de sonegaçaÌo fiscal movido pela administraçaÌo de Narendra Modi e chegou a ser proibida de viajar para falar em um congresso de jornalismo na Europa.
âChilling Effectâ: o que redaçÔes e plataformas podem fazer?
Rana Ayyub, a preÌmio Nobel da Paz Maria Ressa, a britaÌnica Carole Cadwalladr e a brasileira PatriÌcia Campos Mello saÌo algumas das profissionais de imprensa destacadas em estudos internacionais sobre violeÌncia de geÌnero no jornalismo, como a pesquisa The Chilling: global trends in online violence against women journalists, realizada pelo International Center for Journalists com apoio da Unesco.
A primeira ediçaÌo foi publicada em março de 2021, ouvindo 900 profissionais de 125 paiÌses. A pesquisa mostrou que uma em cada dez jornalistas abandonou a funçaÌo, o emprego ou o proÌprio jornalismo por causa de ameaças.
E que muitas adotaram a autocensura, com um impacto direto na informaçaÌo transmitida aÌ sociedade.
Em comemoraçaÌo ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a Unesco antecipou dois capiÌtulos da nova ediçaÌo do estudo, que seraÌ publicado este ano.
Um deles formula recomendaçoÌes para as redaçoÌes a fim de conter ataques e apoiar as jornalistas que sofrem asseÌdio, enquanto o outro trata de medidas relacionadas aÌs plataformas digitais.
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A quem cabe combater a violĂȘncia online contra jornalistas?
Os autores afirmam que âo oÌnus de rebater a violeÌncia online de geÌnero estaÌ sendo imposto Ă s mulheres jornalistas atacadas, e isso deve mudarâ, cobrando açaÌo das empresas jornaliÌsticas, dos governos e das plataformas digitais que âatuam como vetores de abusosâ.
No Brasil, a Abraji tambeÌm documentou a violeÌncia de geÌnero online em uma pesquisa divulgada em março. A anaÌlise dos casos demonstrou que os abusos saÌo direcionados sobretudo a mulheres que cobrem poliÌtica.
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Narrativas estigmatizantes que utilizam agressoÌes verbais com o intuito de hostilizar e descredibilizar jornalistas responderam por 75% dos episoÌdios identificados pela Abraji. E 71,4% dos insultos tiveram origem ou foram repercutidos em ambientes virtuais, como o Twitter.
Cristina Zahar, secretĂĄria-executiva da Abraji, destacou os ataques polĂticos a jornalistas:
âApesar da pandemia e da cobertura de saĂșde ao longo do ano, a maior parte das agressĂ”es desencadeadas pela cobertura jornalĂstica estĂĄ ligada a agendas polĂticas e tentativas de impedir o jornalismo de investigar e fiscalizar o Estado.
Mulheres jornalistas que cobrem polĂtica foram o alvo principal, como Daniela Lima, Ăąncora da CNN Brasil, que sofreu oito ataques, e Patricia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, que sofreu cinco.â
Esta matĂ©ria faz parte do Especial MediaTalks Diversidade na MĂdia. Leia a edição completa aqui