Londres -Com o Twitter sob Musk alarmando muita gente, o TikTok na mira de legisladores pelo temor de uso de dados pelo governo chinês e as redes usadas para mobilizar os que atacaram prédios do governo em Brasília, uma pergunta segue sem resposta: as mídias sociais ajudam a construir ou a deteriorar a democracia?

Em dezembro, o think tank americano Pew Research Center fez uma análise sobre o tema com base em uma pesquisa em 19 países (o Brasil não está entre eles).

A média das opiniões foi favorável − mas não muito − para as redes: 57% dos entrevistados acham que elas são boas para a democracia, enquanto 35% acham que são ruins e o restante não soube dizer.

Nos EUA redes sociais vistas como prejudiciais para a democracia

No entanto, olhando-se os resultados país a país, percebe-se como o tema é controverso. No mercado onde a maioria das redes sociais nasceu e tem sede, os EUA, 64% dos pesquisados acham que elas são prejudiciais. Apenas 34% pensam o contrário.

A diferença de 30 pontos percentuais é expressiva em comparação à registrada nos demais países. Na Holanda, o segundo que mais vê as redes como negativas (54%), a diferença para os que acham que elas contribuem para a democracia é de 10 pontos.

Em seguida aparecem França (51%) e Austrália (50%), como nações em que o público mais se preocupa com o impacto negativo das mídias sociais.

 

 

Provavelmente como efeito da era Trump, em que a polarização foi estimulada pelo ex-presidente pelas redes, 79% dos norte-americanos acham que as mídias digitais e o acesso à internet aumentaram as divisões políticas.

Os que mais pensam assim (74%) são os que votam no partido Republicano e os independentes. Entre que preferem o partido Democrata, a taxa cai para 57%, mas ainda assim é superior à metade dos entrevistados.

 

 

E nos EUA; 69% acham que as pessoas ficaram menos civilizadas ao falarem de política. São as maiores taxas para essas perguntas entre os 19 países avaliados pelo estudo.

A média dos que veem falta de civilidade nas redes nos 19 países é de 44%.

 

 

Polônia e Singapura mais favoráveis às mídias sociais

O país mais favorável a elas dentre os pesquisados é a Polônia, onde apenas 15% enxergam as redes como prejudiciais à democracia. O país que mais vê benefícios é Singapura, com 76% do público manifestando opinião favorável quanto ao papel das mídias digitais para um regime democrático.

Austrália, Reino Unido, Canadá e Bélgica ficaram em cima do muro, com diferenças de dois ou três pontos percentuais entre os favoráveis e os contrários. Embora a média das opiniões seja favorável para a contribuição das redes sociais, o estudo mostra o reconhecimento de efeitos negativos em vários países.

O Pew ressalta que até nos mercados em que as avaliações são positivas a maioria do público vê consequências que os pesquisadores chamaram de “perniciosas”.

Em média, 84% dos entrevistados acham que o acesso à internet e às mídias sociais facilitou a manipulação das pessoas com informações falsas e boatos. E 65% acham que elas provocam a polarização. Apenas 23% acham que a forma como se discute política nas redes é “civilizada”.

O maior valor percebido é a informação, com 73% considerando que as redes contribuem para manter o público em dia com o que acontece em seus próprios países e no mundo.

E apesar de o problema de discurso de ódio contra imigrantes e minorias ser recorrente nas redes, 45% dos entrevistados acham que elas contribuem para a aceitação de pessoas de diferentes grupos étnicos, raciais e religiosos.

Como em qualquer pesquisa envolvendo redes sociais, há um abismo geracional. Segundo o Pew, adultos mais velhos em 12 países são menos propensos a dizer que elas são boas para a democracia em seu país quando comparados a pessoas jovens.

O estudo destaca Japão, França, Israel, Hungria, Reino Unido e Austrália como mercados onde a diferença entre os grupos etários mais jovens e mais velhos é de pelo menos 20 pontos percentuais. Na Polônia ela chega a 41 pontos, com quase nove em dez jovens aprovando a contribuição das mídias sociais para a democracia.

Se as redes conseguirem controlar melhor fake news, teorias conspiratórias e narrativas que incitam polarização, têm nas mãos a chance de se consolidarem como instrumentos de construção e não de deterioração das democracias. Hoje elas estão no meio do caminho