No Brasil, a comunicação corporativa tem rosto de mulher. Ocupamos 69% dos cargos de liderança no setor, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.

Ninguém contesta o quão estratégica essa área de negócios é para as companhias – especialmente em um cenário complexo como o atual – em seu papel, cada vez mais indispensável, de ler contextos, gerir relacionamentos com públicos de interesse, construir alianças, antecipar e mitigar crises, entre tantas outras atribuições.

Mas o fato de essa atividade ser exercida majoritariamente por mulheres traz implicações para a consecução desse trabalho e para o desenvolvimento das carreiras femininas nem sempre visíveis a todos.

Falo das chamadas microviolências que mulheres enfrentam na sociedade e, por consequência, no ambiente corporativo.

As pesquisadoras Jennifer Kim e Alyson Meister, em um artigo na Harvard Business Review, as resumiram em três tipos: invalidação de competência; invalidação de presença física; desprezo das experiências femininas com vieses de gênero.

São barreiras, muitas vezes disfarçadas, que dificultam o desenvolvimento profissional e retardam, ou impedem com frequência, a ascensão das profissionais de comunicação a postos-chave para que possam efetivamente ocupar papel de influência,como trusted advisors.

Superação das microviolências contra a mulher 

E o que fazer para superar esses entraves que prejudicam o diálogo e minam a autoconfiança?

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que as microagressões existem.

E as lideranças femininas que enfrentaram (e enfrentam) barreiras de gênero têm um papel fundamental em mentorar outras mulheres, compartilhando experiências e aprendizados em espaços seguros de troca.

A capacitação, o desenvolvimento de competências e aquisição de conhecimento são, da mesma forma, instrumentos essenciais – e poderosos – para que as mulheres consigam superar agressões, boicotes e sabotagens.

Temos de fortalecer o poder de argumentação e a capacidade de articulação, mas não só. 

É preciso ter muito mais que apenas visão estratégica do negócio, do mercado, conhecer os públicos diversos com quem a organização se relaciona e compreender o contexto.

Mulheres precisam de apoio, não só de outras mulheres, mas de um esforço estrutural coletivo para combater vieses e quebrar as barreiras de crescimento. 

Sem isso e sem o apoio das empresas e sociedade, com políticas de equidade e papéis divididos, nós, mulheres, demoraremos muito mais tempo para nos sentar às mesas de decisão, espaço que precisa ser conquistado em muitas instâncias para além do mercado de trabalho.

E por outros gêneros, raças e etnias – mas isso é assunto para um outro artigo.