Londres – As autoridades do Lesoto, na África, decretaram toque de recolher noturno a partir da terça-feira (16) sob a justificativa de conter a onda de violência e facilitar a caçada aos assassinos do jornalista investigativo Ralikonelo ‘Leqhashasha’ Joki, baleado no domingo. 

De acordo com relatos da mídia local e da ONG Media Institute of Southern Africa, ele recebeu 14 tiros ao deixar a estação de rádio privada Ts’enolo FM na capital, Maseru. 

O ministro dos Assuntos Internos do Lesoto, Lebona Lephema, disse em um pronunciamento na TV que a restrição ficará em vigor entre as 22h e 4h, com penas até dois anos de prisão para quem a violar.

Joki apresentava o programa “Hlokoana-La-Tsela” (I Heard It Through the Grapevine), falando regularmente sobre assuntos relacionados ao governo e casos de corrupção.

Uma de suas reportagens mais notórias foi a denúncia de envolvimento de cinco políticos em comércio ilegal de álcool.

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), ele havia recebido pelo menos três ameaças de morte enviadas por diferentes contas do Facebook em março e abril, relacionadas ao seu trabalho como jornalista.

A organização teve acesso a capturas de tela compartilhadas pelos dirigentes da emissora de rádio onde Joki trabalhava.

“As autoridades em Lesoto devem investigar rigorosamente o assassinato do apresentador da Ts’enolo FM, Ralikonelo Joki, e garantir que os responsáveis ​​sejam levados à justiça”, disse Angela Quintal, coordenadora do CPJ para a África. 

Outro ato semelhante, ocorrido em 2016, só irá a julgamento em julho deste ano.

O editor do Lesotho Times, Lloyd Mutungamiri, foi baleado diante de sua casa por desconhecidos e ficou em estado crítico, mas sobreviveu à tentativa de assassinato. 

“As autoridades devem enviar um sinal claro para aqueles que acreditam que podem atacar ou matar jornalistas sem consequências de que, pelo menos no caso dos assassinos de Joki, haverá uma rápida responsabilização”, cobrou Quintal. 

O território do Lesoto, que em 1966 decretou independência e deixou de ser colônia britânica, é um enclave na África do Sul. Tiroteios envolvendo gangues são comuns no país de 2 milhões de habitantes. 

O país é uma monarquia constitucional. O atual primeiro-ministro, Ntsokoane Samuel Matekane, assumiu o cargo em 2022.

Em 2021, jornalista torturado por reportagem sobre armas

O Lesoto ocupa o 67º lugar no Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras, ranking que monitora a situação da liberdade de imprensa no mundo. 

Segundo a organização, abusos contra jornalistas não são incomuns e a mídia carece de independência.

O Lesoto não tem jornais diários. Os jornais online têm mais independência, mas seu alcance é limitado por causa do acesso deficiente da população à internet.