Londres – Primeira mulher a ocupar o cargo de editora-chefe da agĂȘncia Reuters em 170 anos, a italiana Alessandra Galloni foi a escolhida para a conferĂȘncia Reuters Memorial Lecture de 2022, marcada para o dia 7 de março.
O evento Ă© o mais importante realizado pelo Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo, um dos principais centros de pesquisa da atividade em todo o mundo. Na Ășltima edição, PatrĂcia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, foi a palestrante da conferĂȘncia online.
Galloni discutirĂĄ como as organizaçÔes de notĂcias podem aproveitar o poder dos fatos para restaurar a confiança do pĂșblico no jornalismo profissional em todo o mundo. A palestra pode ser acompanhada ao vivo neste link, a partir das 14h30 (horĂĄrio de BrasĂlia), na segunda-feira (7).
Editora-chefe da Reuters tem trajetĂłria marcada por prĂȘmios
Alessandra Galloni ingressou na Reuters em 1996, mas trocou a agĂȘncia pelo Wall Street Journal, onde trabalhou por 13 anos como repĂłrter e editora em Londres, Paris e Roma.
Em 2013, ela voltou Ă Reuters primeiro como editora do escritĂłrio no sul da Europa, depois como editora-gerente global, supervisionando o planejamento de notĂcias.
Em abril de 2021, ela foi nomeada editora-chefe da agĂȘncia — a primeira mulher a ocupar o cargo em toda a histĂłria da Reuters.
Alessandra recebeu o prĂȘmio Lawrence Minard Editor 2020, um dos principais na cobertura de negĂłcios. Ela tambĂ©m recebeu o prĂȘmio Overseas Press Club e o prĂȘmio UK Business Journalist of the Year.
AlĂ©m do gĂȘnero, outra barreira que a profissional quebrou dentro da agĂȘncia ao assumir o cargo foi a da lĂngua. Italiana, ela nĂŁo tem o inglĂȘs como idioma nativo, o que Ă© um fato raro em posiçÔes executivas na mĂdia inglesa.”
“Uma das coisas que eu amo na Reuters Ă© que nĂŁo somos de nenhum paĂs. Comecei aqui como parte do serviço de lĂngua italiana. EntĂŁo, voltar e me tornar editora-chefe de toda a organização Ă© a maior honra da minha vida. Ă uma enorme responsabilidade tambĂ©m.”
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Sobre ser a primeira mulher como editora-chefe, ela disse que, no começo, não tinha dado atenção ao fato, pois só fez o seu trabalho contando sempre com apoio de editores e mentores em sua trajetória.
“Mas agora estou começando a perceber a importĂąncia disso.
E costumo citar Sally Ride, a ex-astronauta dos EUA, que disse: ‘Eu nĂŁo me tornei astronauta para ser um modelo’. Ela se tornou astronauta porque queria ir para o espaço.
Tornei-me jornalista porque queria ser jornalista. Porque acredito no impacto que os jornalistas podem ter.”
“Agora percebo que os modelos sĂŁo importantes. E como Sally Ride tambĂ©m disse, as pessoas nĂŁo podem ser o que nĂŁo podem ver. EntĂŁo, se eu puder desempenhar esse papel para todas as jornalistas de todas as nacionalidades de todas as etnias, entĂŁo isso Ă© Ăłtimo.”
Pausa na cobertura da guerra para conferĂȘncia sobre jornalismo
Durante a intensa cobertura da guerra na UcrĂąnia, a editora-chefe da Reuters separou 45 minutos para falar sobre a conferĂȘncia do Instituto e, tambĂ©m, como Ă© possĂvel prender a atenção do pĂșblico jovem para o jornalismo profissional
As reportagens sobre a invasĂŁo russa ao territĂłrio vizinho, por exemplo, ganham credibilidade pela expertise que a agĂȘncia jĂĄ possuĂa na UcrĂąnia.
“Temos alcance global. Mas Ă© a presença local que nos torna Ășnicos. A Reuters estĂĄ na UcrĂąnia hĂĄ muito tempo. E quando surgiram os primeiros sinais desse conflito, tĂnhamos jornalistas ucranianos no local, que sabiam o que estava acontecendo. Isso faz diferença”, disse Alessandra Galloni.
“PĂșblicos mais jovens estĂŁo mais informados e mais experientes, e entendem a importĂąncia de ter alguĂ©m que separe notĂcias relevantes para eles.
Em um mundo em ‘guerra cultural’, jogar no meio Ă© um imperativo jornalĂstico, mas tambĂ©m uma enorme oportunidade comercial.”
Sobre a cobertura da pandemia de covid-19, a jornalista disse que o perĂodo ressaltou que o impacto pessoal que a doença poderia causar em cada indivĂduo aumentou a demanda por notĂcias imparciais e baseadas em fatos. “Quando sua vida estĂĄ em jogo e Ă© uma questĂŁo de sobrevivĂȘncia, informaçÔes verdadeiras e confiĂĄveis importam.”