O assassinato do jornalista Fernando Villavicencio, candidato à presidência da república do Equador, chamou a atenção para os riscos provocados pela violência política e pelo crime organizado no país, que se reflete em ameaças e ataques a jornalistas intensificados nos últimos meses.
A organização Repórteres Sem Fronteiras relatou que desde o início do ano houve um aumento significativo de registros de ameaças e pedidos de ajuda por parte de jornalistas equatorianos, com vários deles optando pelo exílio.
A dois dias da eleição, a RSF cobra das autoridades “todos os esforços para salvaguardar o direito à notícia e à informação e para proteger os profissionais de mídia”.
Crimes e ameaças não são novidade no Equador
Fernando Villavicencio foi assassinado no dia 8 de agosto em Quito. Dias depois Pedro Briones, um líder político local em Esmeraldas integrante do Revolución Ciudadana , partido do ex-presidente Rafael Correa, foi baleado e morreu.
Os crimes tiveram repercussão internacional, mas não são novidade no país – e vêm transformando a forma de fazer jornalismo, com profissionais optando pela autocensura para reduzir os riscos.
Segundo a RSF, a presença de grupos do crime organizado aliados aos cartéis de drogas mexicanos, colombianos e albaneses exerce uma pressão constante sobre aqueles que investigam a corrupção e o narcotráfico, principalmente nas províncias costeiras e fronteiriças de Esmeraldas e El Oro.
Em julho, os jornalistas Andersson Boscán, editor do site La Posta, e Mónica Velásquez fugiram do Equador após serem informados por uma agência de inteligência europeia sobre um plano da máfia albanesa para matá-los.
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Um mês antes, a repórter de TV Lissete Ormaza deixou o emprego e anunciou a intenção de sair do país depois de ser vítima de um acidente de trânsito resultante de uma perseguição. Antes dela, a jornalista investigativa Karol Noroña e um outro jornalista não identificado também deixaram o Equador.
O país está agora em 68º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2023 da RSF , depois de cair 12 posições em um único ano.
O indicador de segurança sofreu a maior queda com o impacto dos homicídios de três jornalistas – Mike Cabrera, Gerardo Delgado e César Vivanco, em 2022.
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Violência política contra jornalistas no Equador
Em meio à crescente instabilidade política nos últimos meses, os jornalistas também estão sendo alvo de crescente hostilidade por parte dos políticos do país, segundo a RSF, a começar pelo presidente da república.
O presidente Guillermo Lasso ameaçou jornalistas do site de notícias independente La Posta em um discurso na TV nacional em fevereiro, chamando-os de “mercenários do entretenimento” por publicarem uma reportagem investigativa intitulada “ O Grande Poderoso Chefão ” em janeiro expondo suposta corrupção e tráfico de drogas envolvendo funcionários do governo e cunhado de Lasso.
De frente para a câmera e batendo com o punho na mesa, ele acusou os jornalistas de atentarem contra sua integridade e a de sua família, disse que seus “15 minutos de fama” terminaram e anunciou que “lutaria contra aqueles que querem violar a liberdade de expressão. ”
A organização destacou também como exemplo uma declaração da candidata presidencial apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa e líder nas pesquisas, Luisa Gonzalez.
Ela atacou a imprensa na Oromar Televisión em 21 de julho, qualificando alguns repórteres como “pseudojornalistas”, “traficantes de informações” e “assassinos de aluguel”. pagos para destruir reputações.
“A violência política desempenha um papel central na intimidação da imprensa. […].Os jornalistas estão trabalhando em um clima de crescente perigo e hostilidade”, diz Artur Romeu, diretor da Repórteres Sem Fronteiras na América Latina.
“Mas a crise institucional e essas eleições significam que salvaguardas para o direito a notícias e informações confiáveis são necessárias mais do que nunca. As autoridades devem se comprometer a fazer todo o possível para garantir a segurança dos jornalistas e preservar o direito à informação”, cobrou.
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