Londres – A guerra na Ucrânia completou um mês, com o mundo assistindo diariamente a imagens assustadoras do conflito no Leste Europeu: bombas, mísseis e tiros fazem parte da nova rotina da população ucraniana. 

A invasão do país pela Rússia foi o resultado de uma escalada de tensões que já dura quase uma década na região. As origens dessa crise  foram retratadas pelo fotógrafo Guillaume Herbaut, da Agência VU entre 2013 e 2021.

Ele acaba de ser premiado com um ensaio na categoria projetos de longo prazo do concurso World Press Photo, que teve o brasileiro Lalo de Almeida escolhido como o melhor da América do Sul com um conjunto de fotografias em preto e branco retratando os dramas ambientais e sociais na Amazônia.

Origem da guerra na Ucrânia é retratada em série fotográfica

O projeto fotográfico de Guillaume Herbaut analisa o contexto de longo prazo que levou à guerra na Ucrânia em 2022.

Estátua decapitada de Lenin no Parque Cheminots, Kotovsk, Ucrânia, em 19 de dezembro de 2013 (World Press Photo Contest 2022)

Ele explica que as tensões entre o leste e o oeste da Ucrânia foram exacerbadas em 2014, quando as forças apoiadas pelo Kremlin ocuparam a península da Crimeia e os separatistas nas regiões orientais de Donetsk e Luhansk estabeleceram autoproclamadas repúblicas populares, um status não reconhecido oficialmente pela maioria da comunidade internacional.

Outrora um popular resort no Mar de Azov, Shyrokyne tornou-se um campo de batalha no conflito de 2014-2015 entre separatistas e forças ucranianas (World Press Photo Contest 2022)

As tensões continuaram e, em fevereiro de 2021, a Rússia começou a construir forças militares nas fronteiras da Ucrânia.

Em dezembro, o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou um conjunto de exigências de segurança, incluindo que a Ucrânia fosse permanentemente impedida de ingressar na OTAN, e a situação já volátil se intensificou.

Em 21 de fevereiro de 2022, Putin reconheceu formalmente a independência da República Popular de Donetsk (DNR) e da República Popular de Luhansk (LNR). No dia 24, a Rússia lançou uma invasão em grande escala à Ucrânia.

World Press Photo Contest 2022

A imagem acima, de 22 de janeiro de 2014, é um exemplo do início das tensões na região.

Na foto, forças anti-motim formam uma barreira em rua da capital Kiev. Confrontos violentos ocorreram entre unidades policiais e manifestantes pró-União Europeia desde o dia anterior, deixando pelo menos quatro pessoas mortas e centenas feridas.

World Press Photo Contest 2022

Outro momento da escalada do conflito, capturado por Herbaut em setembro de 2019, mostra mulheres confeccionam equipamentos de camuflagem para franco-atiradores, no Centro Novy Mariupol, uma organização que coleta equipamentos para soldados ucranianos, na cidade de Mariupol.

A cidade foi destruída desde a invasão do país pela Rússia. 

O ensaio do ucraniano sobre as origens da guerra na Ucrânia venceu o World Press Photo na categoria Projetos de Longo Prazo na Europa. O trabalho concorrerá com a série do brasileiro Lalo de Almeida e com trabalhos da América do Norte, Ásia e África. 

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Um mês de guerra na Ucrânia já vitimou ao menos cinco jornalistas

Documentar a guerra da Ucrânia está custando caro a jornalistas e fotógrafos locais e estrangeiros.

O primeiro mês de invasão registra um saldo de ao menos cinco profissionais de imprensa mortos. Todos foram vítimas de bombardeios ou ataques diretos de tropas russas.

O caso mais recente é o da jornalista russa Oksana Baulina, do site investigativo The Insider, que morreu após bombardeio a um bairro residencial em Kiev na quarta-feira (23).

A primeira morte de profissional da imprensa durante o conflito foi a de Yevheniy Sakun, cinegrafista ucraniano da Live TV, morto em 1º de março durante um ataque com foguete na torre de TV de Kiev.

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Em 11 de março, outro jornalista ucraniano, Viktor Dedov, morreu depois que seu apartamento foi bombardeado em Maripoul.

O premiado jornalista e documentarista Brent Renaud, dos Estados Unidos, foi morto a tiros em 13 de março, na cidade de Irpin.

No dia seguinte, o cinegrafista Pierre Zakrzewski, da emissora Fox News, morreu em um ataque junto com a produtora ucraniana que o acompanhava, Oleksandra Kuvshinova.

A crescente violência do exército russo contra jornalistas ganhou uma nova modalidade: profissionais e familiares são sequestrados como forma de coerção e intimidação. 

O objetivo é fazer com que jornalistas ucranianos parem de noticiar a guerra ou “troquem de lado”, passando a reportar a invasão como algo positivo para o país.

Relatos compartilhados pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) revelam que repórteres têm casas invadidas por soldados da Rússia, são levados para interrogatório e liberados dias ou, em alguns casos, apenas horas depois. 

Um caso divulgado pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) trouxe à tona o relato de um jornalista de 32 anos a serviço de uma emissora de rádio francesa que foi preso e sofreu tortura por parte de soldados russos durante nove dias na Ucrânia.

Sequestrado pelas tropas russas na Ucrânia em 5 de março, Nikita (nome fictício) foi espancado com uma barra de ferro, recebeu coronhadas, foi torturado com eletricidade e até submetido a uma execução simulada.

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