Londres – O filme 20 dias em Mariupol, já em cartaz nos cinemas brasileiros, chega à cerimônia do Oscar neste domingo (10) como favorito na categoria Melhor Documentário por ter sido aclamado pelo público e pela crítica que o assistiu em festivais – e premiado no BAFTA e no Sundance –  embora tenha concorrentes de peso.

O reconhecimento não foi apenas cinematográfico. O jornalista ucraniano Mstyslav Chernov ganhou o prêmio Pulitzer de jornalismo pela cobertura retratada no filme, que documenta os 20 dias em que ficou preso com seus colegas do programa Frontline, da rede PBS, e da Associated Press (AP) na cidade de Mariupol após a invasão russa na Ucrânia.

20 Dias em Mariupol vai disputar o Oscar com Bobi Wine: o presidente do povo, As quatro filhas de Olfa, Para matar um tigre e A memória infinita. A Academia de Hollywood vai escolher também o melhor documentário em formato curta-metragem.

Documentário indicado ao Oscar mostrou riscos para a imprensa em Mariupol 

O filme do jornalista ucraniano Mstyslav Chernov retrata uma equipe de jornalistas que fica presa na cidade de Mariupol após a tomada da cidade pela Rússia, e os esforços que eles fazem para documentar as atrocidades da guerra, correndo riscos e presenciando cenas dramáticas. 

Como únicos repórteres internacionais que permaneceram na cidade, eles captaram o que mais tarde se tornariam imagens definidoras da guerra: crianças em sofrimento, valas comuns, o bombardeio de uma maternidade, pessoas desesperadas em abrigos e angústia de soldados e socorristas tentando salvar pessoas após ataques violentos que devastaram Mariupol. 

O documentário baseia-se nas reportagens diárias que Chernov fez para a agência Associated Press, e em imagens pessoais de seu próprio país em guerra. Ele mostra ao mundo como é fazer reportagens numa zona de conflito, chamando a atenção para o valor desse tipo de jornalismo e para os riscos enfrentados por jornalistas. 

Em abril de 2022, um mês após o início da guerra, o cineasta lituano Mantas Kvedaravicius morreu ao tentar sair da cidade, que tinha sido tema de um premiado documentário chamado “Mariupolis”, de 2016. Pelo menos 17 profissionais de imprensa morreram no conflito. 

A equipe da AP e do programa Frontline teve melhor sorte, conseguindo sair ilesa de uma das batalhas mais sangrentas da guerra da Ucrânia, cujas imagens chocaram o mundo pelo sofrimento, com a de um ataque a uma maternidade.

Mstyslav Chernov, jornalista ucraniano autor do documentário indicado ao Oscar
Mstyslav Chernov, jornalista ucraniano autor do documentário

Eles chegaram a ser caçados pelas forças de ocupação russas e conseguiram sair de Mariupol com ajuda de uma força-tarefa especial ucraniana. O grupo conseguiu contrabandear 30 horas de filmagem passando pelos postos de controle russos para deixar o país. 

Se 20 dias em Mariupol ganhar o Oscar, será será o segundo ano em que uma história da região vence. Em 2023, o Oscar de melhor documentário foi para “Navalny”, que reconstrói a história do envenenamento do inimigo político de Vladimir Putin que morreu na prisão em 16 de fevereiro. 

Conheça os demais concorrentes ao Oscar de Melhor Documentário 

Bobi Wine: O presidente do povo (Bobi Wire: The People’s President), de Moses Bwayo e Christopher Sharp

O documentário da National Geographic conta a história do líder da oposição, ativista e estrela musical de Uganda, Bobi Wine, que usa a música para combater o regime de Yoweri Museveni, que liderou o país por 35 anos.

O filme acompanha sua campanha nas eleições presidenciais de 2021. Com Bobi Wine e Barbie Kyagulanyi. Disponível na Star+.


A memória infinita (The Eternal Memory), de Maite Alberdi

O filme, que foi selecionado na Competição Dramática Mundial de Cinema no Festival de Sundance 2023 e ganhou o Grande Prêmio do Júri, mostra o relacionamento do jornalista chileno Augusto Góngora e da atriz chilena Paulina Urrutia.

Eles são casados há 25 anos, e há oito Augusto foi diagnosticado com a doença de Alzheimer. Hoje ele e sua esposa enfrentam os desafios da doença, com ternura e senso de humor. Disponível na Paramount+


Quatro filhas de Olfa (Four daughters), de Kaouther Ben Hania

Olfa é uma mulher tunisiana mãe de quatro filhas. Um dia as duas mais velhas desaparecem. Indicado ao Oscar de Melhor documentário, o filme é uma jornada íntima de esperança, rebelião, violência e irmandade que questiona os próprios fundamentos da sociedade.

Com Olfa Hamrouni, Eya Chikhaoui e Tayssir Chikhaoui. Não disponível no Brasil.


Para matar um tigre (To kill a Tiger), de Nisha Pahuja

O documentário indicado ao Oscar mostra como a força de uma família pode superar até as injustiças mais hediondas. Ranjit, um fazendeiro na Índia, enfrenta a luta de sua vida ao exigir justiça para sua filha de 13 anos, vítima de um estupro coletivo. 

Na Índia, onde uma violação é denunciada a cada 20 minutos e as taxas de condenação são inferiores a 30%, a decisão de Ranjit de apoiar a filha é praticamente inédita e a sua jornada sem precedentes. Não disponível no Brasil.


Veja também os indicados ao Oscar de Melhor Curta-Metragem

O ABCs da proibição de livros (The ABCs of book banning), de Nazenet Habtezghi, Sheila Nevins e Trist Adlesic

Indicado ao Oscar de Melhor Documentário Curta-metragem, o filme mostra depoimentos de jovens afetados pela proibição de livros em determinadas escolas dos EUA e denuncia algo que passa despercebido: cerca de dois mil livros ganharam um selo de restrito, questionado ou proibido para estudantes em até 37 estados, a maioria com temas ligados a questões LGBTQIAPN+. Disponível na Paramount+.


O barbeiro de Little Rock (The barber of Little Rock), de John Hoffman e Christine Turner

O documentário feito para a revista americana The New Yorker explora a crescente disparidade de riqueza racial na América através da história de Arlo Washington, um barbeiro de Little Rock cuja abordagem visionária para uma economia justa pode ser encontrada na missão do People Trust, o banco comunitário sem fins lucrativos que ele fundou, para ajudar as pessoas negras a escapar das armadilhas do sistema bancário que as deixam mais pobres. Disponível no YouTube. 


Entre ilhas  (Island in between), de S. Leo Chiang

O diretor faz uma reflexão sobre a sua relação com Taiwan, os Estados Unidos e a China a partir das ilhas de Kinmen, a poucos quilômetros da China continental. Kinmen atrai turistas por seus vestígios da Guerra Civil Chinesa de 1949.

‘Island in between’ foi o primeiro documentário taiwanês a ser indicado ao Oscar. Disponível no YouTube. 


A última loja de consertos (The last repair shop), de Kris Bowers e Ben Proudfoot

Outrora comum nos Estados Unidos, hoje Los Angeles é de longe a maior e uma das últimas cidades americanas a fornecer instrumentos musicais gratuitos e consertados sem custo para alunos de escolas públicas, um serviço que acontece desde 1959.

O documentário feito para o jornal Los Angeles Times mostra como um número cada vez menor de artesãos mantém mais de 80 mil instrumentos em bom estado. Disponível no Disney+.


Nai Nai & Wài Po, de Sean Wang

O documentário indicado ao Oscar é uma homenagem do diretor às suas duas avós taiwanesas. É um retrato afetuoso sobre essas mulheres que lideraram suas famílias levadas a migrar de seu país natal para os EUA. Disponível no Disney+.