O trágico massacre em uma creche na Tailândia provocou mais uma crise de imagem para a CNN. Dois repórteres da emissora americana foram acusados de invadirem a cena do crime e fazerem imagens gráficas do sangue das vítimas.

O material produzido pela repórter australiana Anna Coren e o cinegrafista britânico Daniel Hodge já foi retirado do ar, e ambos se desculparam à população tailandesa.

Apesar disso, o governo da Tailândia decidiu deportar os dois profissionais, que tinham somente vistos de turistas, portanto, não poderiam trabalhar no país, segundo a agência de notícias Thai PBS World.

CNN é criticada por cobertura de ataque na Tailândia

Na semana passada, um ex-policial invadiu uma creche na cidade Uthai Sawan, na Tailândia, e assassinou 38 pessoas — incluindo o próprio filho e outras 25 crianças.

O caso, considerado o maior ataque a tiros do país, teve repercussão mundial imediata pela gravidade do crime e a pouca idade das vítimas.

Um dia após o massacre, a repórter Anna Coren e o cinegrafista Daniel Hodge, correspondentes da CNN na Tailândia, foram até a creche acompanhar os desdobramentos do caso e a investigação da polícia.

O que era para ser apenas mais uma reportagem da rede americana sobre o atentado se transformou em uma avalanche de críticas e questionamentos sobre a conduta jornalística em situações delicadas como essa.

A matéria da dupla usou imagens do sangue das vítimas nos corredores do prédio. Como a creche estava isolada por ser uma cena de crime, um inquérito foi aberto pela polícia da Tailândia para averiguar como os jornalistas da CNN entraram no local.

As autoridades começaram a investigar a equipe da emissora após uma foto, compartilhada nas redes sociais, mostrar os jornalistas escalando um muro e ultrapassando a fita policial em frente à creche.

Associações de mídia tailandesas criticaram duramente a atitude dos jornalistas, ressaltando que o local estava inacessível para a imprensa, inclusive para a do país.

Além da invasão, as críticas também se concentraram no conteúdo gráfico exibido e na qualidade da matéria em si:

“Os membros da Associação de Correspondentes Estrangeiros da Tailândia estão consternados com a recente cobertura da CNN sobre o assassinato em massa em uma creche em Nong Bua Lamphu.

Uma equipe da CNN entrou em uma cena de crime claramente delimitada sem permissão – não importa o que eles aleguem.

Isso foi pouco profissional e uma grave violação da ética jornalística na reportagem de crimes.”

A associação ainda destacou que o país está “traumatizado por essa tragédia” e toda a imprensa local se preocupou para que “imagens inapropriadas não fossem divulgadas.”

“A CNN deve responder a uma pergunta simples. Uma de suas equipes teria se comportado da mesma maneira em uma cena de crime desse tipo nos Estados Unidos?”

CNN se pronuncia, e jornalistas pedem desculpas

Em comunicado, a CNN justificou a imagem que viralizou dos jornalistas ultrapassando a barreira policial na creche da Tailândia, e disse que, no momento em que eles entraram no prédio, não havia a fita de cena de crime no local. 

“A equipe pediu permissão aos funcionários do Departamento de Saúde da Tailândia presentes para entrar na creche. Agora, eles entendem que esses funcionários não estavam autorizados a conceder essa permissão.

Se a equipe tivesse entendido que o prédio estava fora dos limites [para a imprensa], eles não teriam entrado. Nunca foi a intenção infringir quaisquer regras.”

A emissora ainda lamentou profundamente “qualquer aflição ou ofensa” que a reportagem possa ter causado e alegou que a equipe entrou na creche para “ter uma impressão mais completa do que aconteceu lá dentro e humanizar a escala da tragédia”.

A Associação Tailandesa de Jornalistas questionou a justificava dada pela emissora americana, destacando que, mesmo que os profissionais tivessem autorização para entrar no local, “deveriam ter exercido seu julgamento” sobre a necessidade de fazê-lo.

“As imagens transmitidas pela CNN continham material gráfico sem um claro interesse público”, criticou a associação.

O vice-chefe da polícia nacional da Tailândia, Surachate Hakparn, disse à imprensa no domingo (9) que os jornalistas da CNN não invadiram o local de propósito. No entanto, foram multados por trabalharem no país com vistos de turistas.

Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias Thai PBS World, os profissionais serão deportados, mas não ficarão na “lista negra” do país. Isso permitirá que eles retornam à Tailândia para trabalhar, desde que obtenham o visto apropriado.

A repercussão do caso fez com que Anna Coren e o cinegrafista Daniel Hodge gravassem um vídeo pedindo desculpas pelo ocorrido.

“Gostaria de oferecer minhas mais profundas desculpas ao povo da Tailândia, especialmente às famílias das vítimas desta tragédia”, disse Anna. “Lamentamos muito se lhe causamos mais dor e sofrimento, essa nunca foi nossa intenção.”

Hodge também lamentou por “qualquer dor extra que causamos durante esse evento traumático”.