Enquanto o Iêmen chorava a perda trágica de quase uma centena de pessoas em episódio envolvendo uma ajuda de custo para seus cidadãos aproveitarem o Ramadã, a liberdade de imprensa celebrou uma pequena, mas significativa vitória em meio à crise. 

Quatro jornalistas condenados à morte foram liberados no país, após oito anos de prisão.

A liberdade fez parte de uma grande troca, que envolveu quase 900 prisioneiros e foi resultado de um acordo entre o governo oficial e os rebeldes xiitas Houthi, apoiados pelo Irã.

Crise política e humanitária no Iêmen preocupa jornalistas

Acusados de “espionagem para estados estrangeiros e disseminação de notícias falsas”, Akram Al-Waledi,  Tawifq Al-Mansoori, Hareth Humaid e Abdulakhleq Amran foram capturados  na capital do país, Saná, em junho de 2015, junto a outros nove profissionais de mídia.

Ao longo de quase uma décadas, esses profissionais de imprensa sofreram violações de direitos humanos básicos, que envolveram torturas físicas e psicológicas. O caso, contudo, não é isolado.

O Iêmen é um dos mais terríveis países do mundo quando o assunto é liberdade de imprensa. A nação foi classificada em 169º lugar dentre 180 países em avaliação realizada pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) em 2022.

Até o final de 2021, pelo menos 19 jornalistas foram assassinados lá. Casos recentes mostram a extensão da crise de liberdade de imprensa no território.

Em junho de 2022, o repórter Saber al-Haidari, que trabalhava para a emissora estatal japonesa NHK, morreu quando seu carro explodiu, na cidade de Áden.

Já em novembro de 2021, a jornalista Rasha Abdullah al-Harazi, de 27 anos, que estava grávida, foi vítima de uma bomba colocada no carro de seu marido, o também jornalista Mahoud al-Atmi.

O chefe de assuntos relacionados ao Oriente Médio da Repórteres Sem Fronteiras (RFS), Jonathan Dagher, comemorou a liberação dos jornalistas, ressaltando que o ambiente é inóspito para a imprensa no país. 

“Esperamos por este dia há anos. Saudamos as libertações, que servem para nos recordar até que ponto a liberdade dos jornalistas depende muitas vezes das negociações políticas no seu país e raramente do trabalho que realizam.

Desejamos a eles uma rápida recuperação, e pedimos a libertação de todos os outros jornalistas detidos no Iêmen.”

A crise humanitária e política no Iêmen teve início em 2014, envolvendo o governo oficial, de viés sunita, e o grupo Houthi, de viés xiita, que entraram em guerra.

De lá para cá, centenas de milhares de iemenitas morreram, e em torno de 20 milhões entraram em um estado de pobreza a ponto de não terem o que comer.

Quem são os jornalistas libertados no Iêmen

Abdulakhleq Amran, o mais velho dos quatro sentenciados à morte, tem 40 anos. Antes de ser preso trabalhava para o site Al-Islah Online. É casado e tem dois filhos. 

Tawifq Al-Mansoori trabalhava para o jornal Al Masdar. Durante seu cárcere, sua família revelou à Federação Internacional dos Jornalistas(IFJ)  que ele sofre de asma, falta de ar, reumatismo cardíaco, diabetes e problemas de próstata.

Akram Al-Waledi trabalhou para o site de notícias Alrabie-ye.net e para a Agência de Notícias do Iêmen SABA.  

 Antes da prisão, Hareth Humaid era repórter do site de notícias Alrabie-ye.net. Tem 33 anos e é o mais novo do grupo. 

Um vislumbre de esperança

De acordo com Ralph Whebe, membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha que coordenou a delegação com os quase 900 libertados, o momento é histórico para um país imerso em crise como o Iêmen.

“É um momento que oferece um vislumbre de esperança para um país que já sofreu com tantas dores.”

A Cruz Vermelha Internacional atuou como intermediário neutro, facilitando a libertação e o transporte dos detidos de volta aos seus países e regiões de origem. A operação durou três dias no total.