Londres – Pela terceira vez em menos de dois meses, um jornalista britânico é alvo de uma denúncia sobre conduta sexual: Dan Wootton, âncora da rede ultradireitista GB News, teria usado um pseudônimo para assediar colegas de trabalho e obter deles fotos pornográficas. 

Conhecido por seu discurso agressivo e contra o que considera “politicamente correto”, Wootton foi acusado de oferecer até 30 mil libras (R$ 185 mil) a colegas de trabalho em troca de imagens deles praticando atos sexuais quando trabalhou no jornal The Sun, entre 2008 e 2018. 

Depois de virar notícia pelo novo escândalo na mídia do país, o apresentador falou sobre o caso em seu programa noturno, admitindo que “como todos os humanos falíveis, cometeu erros de julgamento no passado”. Mas afirmou que as acusações criminais são falsas. 

O novo caso vem na sequência de duas histórias que mobilizaram o país.

Em junho, o apresentador Philip Schofield deixou a rede ITV depois da revelação de um relacionamento com um jovem produtor, que poderia ser menor de idade quando o caso começou.

Na semana passada, o escândalo foi com o âncora Huw Edwards, afastado da BBC por ter pago para receber fotos de uma pessoa jovem viciada em drogas. 

Ex-namorado denunciou jornalista britânico 

A denúncia contra Wootton foi feita por um ex-namorado, Alex Truby, e publicada pela primeira vez pelo site independente Byline Times, que cobre notícias políticas. 

Truby alegou que fez a descoberta depois de acessar o disco rígido de Wootton em 2013 e ver e-mails mencionando o pseudônimo.

A história não é nova. O Byline Times e o The Guardian, que também publicou a denúncia, disseram estar investigando o caso há três anos em busca de comprovações. 

Segundo o que foi apurado, o personagem Martin Branning mandava mensagens personalizadas a homens, geralmente heterossexuais, pedindo fotos explicitas.

Entre seus alvos estavam funcionários da empresa jornalística News UK, dona do Sun e pertencente ao magnata da mídia Rupert Murdoch. 

Wooton trabalhou como colunista de celebridades no extinto News of The Word, do mesmo grupo, fechado depois de um escândalo de hackeamento de famosos. 

Na época em que as fotos teriam sido solicitadas, o jornalista britânico  estava no tabloide The Sun. Atualmente ele escreve uma coluna no MailOnline, do grupo DMG Media, dono do Daily Mail, além de manter um programa no horário nobre da GB News.

Embora o apresentador tenha atacado as mídias sociais e atribuído as denúncias a uma tentativa de atingir a emissora conservadora, as empresas jornalísticas envolvidas não ficaram alheias, provavelmente temerosas de serem criticadas, como foram a ITV e a BBC. 

Os dois grandes grupos jornalísticos britânicos  informaram que estão investigando as alegações contra o jornalista Dan Wootton envolvendo pedidos de fotos a colegas.

Mas a GB News tem dado apoio à sua estrela, reproduzindo na íntegra o conteúdo do comentário a respeito do caso e mantendo o espaço do apresentador no ar. 

Quando foi lançada, a emissora ganhou o apelido de Fox News britânica, em alusão à rede americana conhecida por insuflar os espectadores e defender teses controvertidas, como fraude na eleição de Joe Biden.

Jornalista não negou ter pedido fotos a colegas 

Dan Wootton não negou diretamente as acusações de ter oferecido dinheiro a colegas em troca de fotos pornográficas. 

Em sua primeira manifestação sobre o caso, ele se limitou a reiterar que não cometeu crime, colocando-se como vítima de uma “campanha de difamação” com o objetivo de destruir a sua carreira de jornalista.

E afirmou que “forças das trevas tentam derrubar este canal brilhante”, referindo-se à GB News. 

O âncora também acusou o ex-parceiro, dizendo-se abusado e alvo de ameaças que teriam levado-o a denunciar Alex Truby à polícia. 

Sobrou também para as mídias sociais e para o The Guardian, que teria criado uma reportagem falsa sobre ele com base em declarações de um “hacker condenado”.

O jornal ouviu um ex-funcionário da News Corp. sobre as alegações e parece disposto a ir além, colocando o email do repórter escalado para cobrir o caso à disposição para quem tiver novos fatos a revelar. 

Apresentador culpa o cenário político britânico por ataques

Wootton se disse objeto de uma “caça às bruxas”, que é “sintomática do cenário político na Grã-Bretanha”, tentando levar a história para outro terreno que não o da conduta pessoal. 

“A pressa em julgar antes do devido processo, graças às divagações insanas de trolls altamente politizados do Twitter e blogs revoltantes que evitam os padrões jornalísticos básicos, está destruindo a democracia.”

Seguindo a narrativa de perseguição política, o jornalista acusado de pedir fotos pornográficas a colegas afirmou que a GB News é a maior ameaça ao establishment britânico em décadas, e que “eles não vão parar até nos destruir.”

“Nosso país é melhor do que isso – devemos ser – e é por isso que a GB News existe. O que estamos tentando fazer aqui é algo diferente para dar voz ao povo do Reino Unido”. 

O canal tem uma audiência considerável, agradando aos que discordam dos rumos do país em questões como acolhimento de imigrantes e defendem o Brexit de forma incondicional, apesar dos problemas econômicos como falta de mão de obra atribuídos à gestão da saída do país da União Europeia. 

Em alguns dias, a GB News chega a bater a Sky News e a BBC em número de espectadores. O programa de Dan Wooton vai ao ar entre 21h e 23h, combinando comentários do apresentador e entrevistas com convidados. 

O tom principal é o combate ao comportamento chamado “woke”, politicamente correto. Isso inclui a condenação de políticas inclusivas e do sexismo, por exemplo. 

A pauta do show noturno sempre destaca assuntos em evidência no país. No entanto, Dan Wootton não abordou o escândalo recente de Huw Edwards, talvez pela iminência de ser envolvido em uma história parecida, embora ele tenha justificado a decisão sob o argumento de esperar mais informações, prática que não foi usada em outros escândalos.