Londres – Em mais um sinal de que a mudança do nome do Twitter para X foi repentino e improvisado, a empresa só conseguiu usar a conta @X na rede social um dia depois de anunciar a novidade, em meio a mais uma controvérsia envolvendo a gestão de Elon Musk. 

O perfil pertencia ao fotógrafo Gene X Huang, de São Francisco, na Califórnia. Ele o criou em março de 2007, logo que o Twitter nasceu e o usava desde então. 

O fotógrafo contou a veículos de tecnologia que ao ler sobre a novidade, ficou aguardando um contato para um acordo financeiro. Mas, para sua frustração, informou que em seguida recebeu apenas um email comunicando que a conta passaria a ser utilizada pelo Twitter. 

Na madrugada desta quarta-feira, o usuário tuitou uma mensagem com um x e uma sequência de números, como as contas iniciais do Twitter eram identificadas, e a frase “tudo está bem quando acaba bem”.

Não houve informação sobre um possível acordo financeiro para a cessão, mas veículos de tecnologia sugeriram que ela foi ‘tomada’ à força. 

Esta é apenas mais uma das confusões do processo de rebranding do Twitter para X, que a exemplo de outras iniciativas de Elon Musk, não segue os padrões corporativos habituais. 

Empresas costumam trocar suas marcas após meses ou até anos de pesquisas, estudos de alternativas de logomarcas e vários testes com nomes e imagens, para identificar a aceitação por parte do público e possíveis sensibilidades.

Há casos clássicos de desastres com nomes associados a palavrões em outros idiomas, e também questões de disputas de direitos autorais. 

É comum empresas ou mesmo pessoas físicas registrarem marcas para uso futuro, e o procedimento comum é uma consulta prévia para ver se existe restrição ao uso. 

Segundo a agência Reuters, a Microsoft possui uma marca registrada X desde 2003 relacionada ao Xbox, enquanto a Meta possui uma marca registrada federal desde 2019, com uma letra “X” em azul e branco. 

Marca Twitter continua aparecendo na rede X

Esse processo longo e cuidadoso não parece ter sido seguido no processo de rebranding em andamento, e o caso de não se ter assegurado previamente a conta com o novo nome na própria plataforma é uma evidência, assim como outros sinais de pressa. 

Embora a marca do pássaro tenha sido oficialmente aposentada, ela ainda continua aparecendo para vários usuários e na loja de aplicativos. 

E a tentativa de tirar o letreiro Twitter da fachada da sede da companhia, em São Francisco, acabou em confusão. Os guindastes usados para remover as letras antigas não tinham autorização da prefeitura, e tiveram que interromper o trabalho. 

O selo de verificação agora se chama X Blue, embora a cor do de fundo seja preta e o tick tenha mudado de azul para amarelo.

Um pagante propôs a Elon Musk a troca para X Black, e o dono da plataforma respondeu que iria considerar. 

Twitter, um super-app?

A proposta de transformar o Twitter, agora X, em um super-app, seguindo o modelo da plataforma chinesa WeChat, foi recebida com desconfiança por analistas de tecnologia e pelo mercado. 

O WeChat é parte do cotidiano dos habitantes da China, que não são poucos. Estima-se que 1 bilhão de pessoas usem a plataforma todos os dias para quase tudo – de mensagens a serviços financeiros, compras, educação, entretenimento e escolha de imóveis.  

No entanto, o WeChat opera em um país em que todos os negócios são centralizados ou supervisionados diretamente pelo governo, e vários serviços que ele oferece são estatais. Portanto, os usuários não têm outras opções. 

Outra barreira é que a oferta se serviços financeiros depende da confiança dos usuários na plataforma, e isso o ex-Twitter foi perdendo severamente desde que passou ao controle de Elon Musk em outubro passado. 

Embora a promessa de super-app tenha sido feita quando a mudança de nome foi anunciada na segunda-feira, até agora nada de concreto foi revelado sobre os planos, e não houve postagens na conta oficial. 

O último post é do dia 21 de julho, sobre a nova forma de remuneração dos criadores de conteúdo. 

Problemas para o X: concorrentes e direitos sobre a marca

Enquanto isso, a concorrência se mexe, tentando abocanhar uma fatia dos revoltados com o X de Elon Musk. 

O TikTok, onde palavras escritas só podiam entrar como legendas dos vídeos curtos característicos da rede, agora permite postagens somente com texto. 

A Threads da Meta, que irritou Elon Musk a ponto de receber ameaça de processo judicial , introduziu uma linha do tempo composta por pessoas seguidas pelo usuário, aumentando a semelhança com a rede do empresário. 

Mas esse pode ser um problema menor, diante do risco de batalhas judiciais em torno do nome X.

O advogado especializado em marcas e patentes Josh Gerben disse à Reuters que há “100% de chance” de o Twitter ser processado, já que apenas nos Estados Unidos há quase 900 registros ativos ligados ao X.