Londres – Na semana passada, três jornalistas especializados em cobrir a indústria de mídia nos EUA foram notícia, por motivos diferentes.

Brian Steller perdeu o emprego na CNN, onde comandava há nove anos o Reliable Sources (Fontes Confiáveis). No ar desde 1992, o programa recebia convidados para discutir a cobertura da mídia e fatos marcantes do setor.

Uma suspensão por causa de um tuíte aplicada a Paul Farhi, no Washington Post, virou processo judicial. E no mesmo jornal, a veterana colunista Margaret Sullivan despediu-se deixando conselhos valiosos para a imprensa na cobertura de campanhas eleitorais. 

Jornalista de mídia criticou CNN EUA ao sair 

A noticia da saída de Brian Steller pegou a ele próprio (segundo relatou) e ao mundo do jornalismo de surpresa.

Ele teria sido “vítima” de uma decisão do novo diretor da rede, que assumiu em maio o comando de uma CNN em crise de imagem e de audiência. Chris Licht estaria tentando reduzir o jornalismo opinativo.

A decisão foi lamentada. Mas houve quem também apontasse o fator audiência como um dos motivos. O programa concorrente na Fox News, MediaBuzz, tem quase o dobro da audiência do show de Steller.

Em sua última participação, exibida em 21/8, ele demonstrou o amargor com uma crítica aos empregadores e a suposta intenção de tornar a cobertura mais neutra. 

“Não é partidário defender a decência, a democracia e o diálogo,

Não é partidário enfrentar demagogos – é necessário, é patriótico.”

Mais um tuíte causando confusão no jornalismo dos EUA 

Já no Washington Post, dois jornalistas viraram pauta. Um deles foi Paul Farhi, repórter que cobre a indústria de mídia.

Na sexta-feira, o Washington-Baltimore News Guild entrou com um processo contra o jornal para garantir que seja arbitrado um recurso apresentado por ele contra uma punição aplicada em fevereiro.

O motivo é o que já causou outras confusões e até demissões no próprio Post: um tuíte criticando uma política do próprio jornal. No caso, a de não assinar ou publicar data e origem de matérias produzidas na Rússia, anunciada em março.

A justificativa era proteger os repórteres no campo de possíveis retaliações.

Certo ou errada a decisão, o problema foi que o jornal cozinhou o recurso por meses, até que o acordo sindical venceu. E usou como argumento para não aceitar a arbitragem o fato de que não há mais um acordo em vigor.

O jornalista não se manifestou, e está deixando o sindicato conduzir a briga, agora na esfera judicial.

Seja qual for o desfecho, é mais um episódio no Post envolvendo tuítes de jornalistas. Em junho, Felicia Sommez foi demitida por criticar a reação do empregador à postagem sexista de um colega.

Conselhos de jornalista de mídia sábios para a cobertura de eleições

A terceira jornalista que virou notícia não está envolvida em confusões, nem perdeu o emprego.

Margaret Sullivan anunciou o fim de sua coluna sobre mídia no Washington Post para se dedicar a dar aulas na Duke University e publicar um livro − que desde já se pode considerar leitura obrigatória para quem se interessa por jornalismo. 

Na despedida, ela fez − como sempre − ótimas reflexões sobre o papel da imprensa, concentrando-se nas dificuldades do período eleitoral dos EUA.

Disse achar que a mídia finalmente aprendeu a cobrir “as formas ameaçadoras da democracia de Donald Trump e seus aliados”, que colocam em questão os resultados das eleições.

E se revelou feliz por ver que se tornaram comuns matérias que se referem a eles como “negacionistas eleitorais”.

Também elogiou o fato de a mídia não tratar Trump como “uma figura política normal, que algum dia se transformará em estadista responsável”.

Mas acha que isso é insuficiente, questionando se a imprensa conseguirá “libertar-se de suas práticas ocultas: o amor pelo conflito político e o vício em acompanhar eleições como se fossem uma corrida de cavalos”.

“Para o bem da democracia, ela tem que conseguir”, diz a jornalista com quatro décadas de carreira.

Margaret Sullivan afirma que os meios de comunicação não devem continuar a fazer cobertura de discursos, comícios e debates à moda antiga, com os jornalistas “se permitindo serem megafones ou estenógrafos”.

“Eles têm que ser dedicados contadores de verdade, usando linguagem clara, muito contexto e enquadramento atencioso para transmitir a verdade”.

Também defende que a mídia explique ao público por que está fazendo o que está fazendo, citando como exemplo a decisão de não exibir um discurso ao vivo para evitar espalhar mentiras.

Sullivan resumiu sua “receita” para os jornalistas e para a mídia dos EUA: menos cobertura de campanha ao vivo, mais contexto e conversas diretas mais destemidas de editores com o público sobre o que está em jogo e por que a cobertura política parece diferente.

Ela sugere recursos como notas explicativas dos editores sobre as matérias, colunas escritas por eles e postagens com destaque nos sites.

Ótimos conselhos para qualquer país em campanha eleitoral.