O jornalista Edwin Josué Andino, de 23 anos, foi encontrado morto após ser sequestrado com o seu pai, em Honduras. Essa é a quinta morte de profissional da imprensa no país em 2022, segundo entidades que acompanham a liberdade de imprensa no mundo. 

Apesar da polícia ainda investigar as circunstâncias do crime e não relacioná-lo direto com a atividade jornalística, Andino foi encontrado com uma fita isolante em sua boca.

Amanda Ponce, diretora do Comitê pela Liberdade de Expressão (C-Libra) hondurenho, destaca que ser amordaçado dessa forma é uma característica dos assassinatos de jornalistas no México e manda o recado de “silenciar a imprensa”.

Corpo de jornalista foi deixado em rua de Honduras

Andino e seu pai, Edwin Andino Amador, foram sequestrados na manhã de segunda-feira (10), na capital hondurenha Tegucigalpa.

Segundo a Polícia Nacional, eles foram abordados e obrigados a entrar em veículos que se pareciam com viaturas oficiais por um grupo que usava roupas semelhantes ao uniforme da polícia militar.

O corpo do jornalista foi encontrado no mesmo dia na rua principal do bairro Villa Franca com um tiro à queima-roupa no rosto. O corpo do pai de Andino também foi localizado com marcas de tiro a 15 km do local.

Uma das “viaturas” que teria sido usada no crime foi encontrada em uma casa abandonada, divulgou a Polícia Nacional. As autoridades também investigam a possibilidade do ataque ter sido orquestrado pelo crime organizado.

Andino trabalhou como jornalista no canal de TV La Tribuna por dois anos. A emissora emitiu um comunicado lamentando a morte do profissional e condenando o crime.

Em nota, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Oacnudh) e a comissária de Direitos Humanos de Honduras, Blanca Izaguirre, também solicitaram às autoridades uma investigação “rápida, exaustiva e independente”.

“Embora não se saiba se o comunicador já havia recebido ameaças anteriores, devido às circunstâncias em que foi assassinado, é imprescindível que seu crime seja investigado, levando-se em conta seu trabalho jornalístico como possível motivação”, declarou a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

“É essencial para a liberdade de expressão em Honduras que este caso seja esclarecido e que não se torne mais um número nas estatísticas de impunidade na região”, destacou a entidade.

Segundo Amanda Ponce, do C-Libre, este foi o quinto jornalista assassinado em Honduras desde o início do ano. Nos últimos 20 anos, as mortes de profissionais da imprensa chegam a 98, de acordo com dados do comitê. 

Em janeiro, o jornalista, líder comunitário e diretor da Rádio Tenan, Pablo Isabel Hernández Rivera, foi assassinado no município de San Marcos de Caiquín.

No final de maio, o cinegrafista Ricardo Ávila morreu após ser baleado na cabeça e ficar dias internados numa suposta tentativa de roubo.

Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, a imprensa hondurenha vem declinando nos últimos 10 anos, desde o golpe de 2009.

O país continua sendo um dos mais mortíferos para o jornalismo nas Américas, ocupando o 165º lugar entre 180 países avaliados no Índice de Liberdade de Expressão Índice da organização.

Mortes de jornalistas na América Latina crescem

A guerra na Ucrânia e os crimes contra jornalistas na América Latina fizeram o número de profissionais de mídia assassinados disparar em 2022.

Somente no México, ao menos 15 profissionais da mídia já morreram neste ano. O país é uma grande preocupação para entidades nacionais e estrangeiras defensoras da liberdade de imprensa, que apontam para os crescentes riscos enfrentados por jornalistas mulheres.

Assim como o caso de Honduras, profissionais de veículos pequenos e regionais são maioria entre os crimes contra profissionais de mídia registrados no país e na região como um todo.

Haiti (3), Equador (2), Brasil (1), Guatemala (1) e Chile (1) também tiveram mortes de jornalistas em 2022 — fazendo deste o ano mais letal para a imprensa latina.