Londres – Dois anos após o assassinato do repórter e apresentador Giorgios Karaivaz, organizações de defesa à liberdade de imprensa se uniram para cobrar apuração rigorosa das autoridades depois que dois conhecidos jornalistas investigativos, Giorgos Papachristos e Kostas Vaxevanis, sofreram ataques em menos de uma semana na Grécia. 

O Media Freedom Rapid Response (MFRR), mecanismo europeu que monitora e denuncia violações da liberdade de imprensa na União Europeia, organizou um manifesto dirigido ao governo grego endossado por organizações como Article 19, Federação Europeia dos Jornalistas, Federação Internacional dos Jornalistas, Instituto da Imprensa Internacional (IPI) e OBC Transeuropa (OBCT). 

O documento destaca que em ambos os casos, a identidade dos supostos perpetradores é conhecida pela polícia e os incidentes ocorreram diante de várias testemunhas, facilitando a responsabilização dos autores dos ataques. 

Os dois ataques a jornalistas na Grécia 

O primeiro episódio aconteceu no dia 26 de agosto, contra Kostas Vaxevanis, um veterano jornalista investigativo e editor do semanário Documento. 

Segundo o manifesto do MFRR, ele foi atacado quando jantava com a família em um restaurante ilha de Evia. Um homem entrou no local e começou a xingar agressivamente, reclamando por notícias informando que ele tem dinheiro na Suíça. 

‘Você é um pirralho mimado, vou resolver isso, mas não agora.”

A sogra de Vaxevanis foi agredida fisicamente e precisou de tratamento para lesões faciais. O homem fugiu do restaurante.

Três dias depois,  Giorgos Papachristos, editorialista e conselheiro do jornal centrista Ta Nea, foi atacado em uma partida de futebol em Atenas por Yiannis Karagiorgis, dono de negócios na área de navegação. O jornalista havia escrito sobre as atividades comerciais do empresário. 

De acordo com o boletim de ocorrência registrado por Papachristos, Karagiorgis, apoiado por dois guarda-costas, deu um soco em seu rosto e e outro em sua cabeça. De acordo com o relato do MFRR, o empresário também teria ameaçado matar o jornalista e ordenou que seus acompanhantes o “matassem no local”.

Papachristos foi internado em um hospital para tratar dos ferimentos. Dias depois, Karagiorgis divulgou uma nota por meio de seu advogado negando que tenha feito ameaças de morte ao jornalista e que estivesse com guarda-costas.

Ele justificou o ataque alegando que estava sendo vítima de uma tentativa de “assassinato de personalidade” devido às reportagens de Giorgios Papachristos. 

Ameaças contra a imprensa na Grécia 

As ameaças a jornalistas na Grécia vão além de xingamentos. Em 2021, ano do assassinato do jornalista Giorgios Karaivaz, Kostas Vaxevanis ganhou proteção da polícia após a revelação de que homens tinham sido contratados para matá-lo. 

O Sindicato dos Jornalistas dos Jornais Diários de Atenas publicou uma declarações condenando os novos ataques: 

“Enfatizamos que a violência e o comportamento mafioso não são apropriados num Estado privilegiado. Apelamos à Justiça e às autoridades competentes para que cumpram rapidamente o seu dever.”

O manifesto assinado pelas seis entidades internacionais de jornalismo também apela às autoridades gregas que investiguem rapidamente as queixas apresentadas pelos dois jornalistas e apresentem acusações criminais contra os responsáveis.

“Estes dois casos de violência reafirmam a situação preocupante para a segurança dos jornalistas na Grécia e para a liberdade dos meios de comunicação”, diz a declaração. 

Deterioração da liberdade de imprensa 

A Grécia é um dos piores países europeus em liberdade de imprensa, segundo ranking anual da organização Repórteres Sem Fronteiras. O país ocupa o 108º lugar em uma lista de 180 nações. O Brasil está em 92º. 

Na análise sobre o país, a RSF aponta que situação se deteriorou entre 2021 e 2023, incluindo um escândalo de escutas telefónicas que revelou que o Serviço Nacional de Inteligência (EYP) espionava profissionais de imprensa.

A organização destaca ainda que os SLAPPs (sigla de Processo Estratégico Contra a Participação Pública, ações judiciais movidas com fins de intimidação) são comuns. E destaca ainda a impunidade no caso do repórter Giorgos Karaïvaz.