Histórias que celebram a força e a resistência femininas, registradas por fotógrafas, aparecem com todo seu poder na seleção da bolsa Women Photograph 2021.
Relatos sobre identidade negra, ameaças a mulheres, negros trans e a luta contra o apartheid foram alguns dos temas dos projetos selecionados pelo júri.
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Foram mais de 1.300 inscrições de mulheres e fotógrafos não binários de todo o mundo. Para a bolsa de estudos Women Photograph + Getty Imagens, no valor de US$ 10 mil (cerca de R$ 52 mil), Thsepico Mabula foi a selecionada pelo seu projeto “Ukukuma”, que foi motivado pelo trauma [de Mabula] como resultado do ativismo na luta da África do Sul contra o apartheid.
Já os subsídios do Women Photograph Project no valor de US$ 5.000 (cerca de R$ 26 mil) foram concedidos a Eli Farinango, por seu trabalho de longo prazo “Runa Kawsay”, explorando as nuances da identidade indígena a partir das experiências pessoais da comunidade Kichwa que vive na Ilha da Tartaruga (América do Norte), a Golden, por seu projeto “Sobre aprender a viver”, que documenta a vida negra trans nas interseções da sobrevivência e da vida nos Estados Unidos.
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Foram selecionadas também: Lia Latty, com “Oreo”, que desafia os estereótipos que são constantemente projetados nos negros e como isso pode afetar sua identidades; Kathy Anne Lim e seu projeto de documentário examinando as nuvens de fumigação que as autoridades de Cingapura usam para tentar combater a dengue e a malária; e “Abra o caminho” de Danielle Villasana, que mostra mulheres trans na América Central e as ameaças que enfrentam, mas também sua resiliência, apesar das dificuldades que encontram.
Conheça os projetos selecionados:
Women Photograph + Getty Imagens
Por Tshepiso Mabula – África do Sul – Ukugrumba
“Ukugrumba, que significa “desenterrar” na língua Xossa [um dos idiomas oficiais da África do Sul], é um trabalho motivado pelo trauma da minha família como resultado do ativismo na luta contra o apartheid, os efeitos da libertação e reconciliação na África do Sul atual.
Busca exumar experiências dos soldados rasos que se sacrificaram fugindo para o exílio para se juntar às trincheiras da luta armada pela libertação nacional, incluindo aqueles que permaneceram no país para continuar a luta contra o regime brutal do apartheid.
Na maioria das vezes, aqueles que são saudados como heróis da luta são figuras políticas bem conhecidas. Ukugrumba é uma representação visual e narrativa das pessoas esquecidas que foram afetadas mental e fisicamente pelos efeitos da luta armada contra o apartheid.”
Women Photograph Project
Por Eli Farinango – Canadá/Equador – Runa Kawsay
“A imagem é a projeção da foto da minha bisavó no meu debajero – uma parte das minhas roupas tradicionais. Crescer longe das minhas tradições às vezes significa ter uma relação complicada com minhas roupas tradicionais.
Ela [a foto] é um lembrete de porque continuo a usar essas roupas. Eu faço isso como uma homenagem a ela, aos meus outros ancestrais, à minha mãe, aos meus futuros filhos. Considero isso uma conexão sagrada com todos aqueles que lutaram para que eu caminhasse como uma orgulhosa mulher Kichwa [etnia indígena do Equador].
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Virginia Anrango, minha mãe, é empreendedora há 30 anos. Ela trabalha em festivais, feiras e eventos de venda de artesanato no Equador. A pandemia acabou com o seu trabalho e a incerteza foi enfrentada com sua resiliência. Ela usava nossas roupas tradicionais todos os dias para se sentir melhor, para se sentir no controle, para se sentir poderosa. Minha irmã e eu observamos minha mãe enquanto ela se fortalecia e sua vida mudava. No início do inverno, ela se matriculou em aulas online para terminar o ensino médio. Ela sempre nos ensinou a encontrar nossa base em nossa cultura.”
Women Photograph Project
Por Golden – EUA – Sobre aprender a viver
“Tem sido um pandemônio desde o início para os negros nos Estados Unidos. Mesmo em 2020, com o aumento de uma pandemia global de saúde e da violência baseada no ódio derivado do nacionalismo branco, pessoas trans negras foram estatisticamente assassinadas em uma taxa muito mais alta. Diariamente eu acordo sem nenhum manual de como vamos fazer isso. Como sobreviver às ameaças invisíveis de armas nomeadas.
Mas isso não é novo. Em resposta ao luto, ‘Sobre aprender a viver (On learning how to live)’, documenta a vida negra trans na interseção da sobrevivência e da vida nos Estados Unidos.
Esses autorretratos agem como um arquivo vivo, uma estrutura de resistência, um mundo dentro de um país que não quer pessoas trans negras vivas. Seja afirmando, ‘eu só quero usar meu vestido laranja para as quadras de tênis e voltar para casa despreocupado’, enquanto estiver em minha casa em Boston, ou compartilhando, ‘estou procurando a liberdade’, na casa da minha avó em Pocomoke City.”
Women Photograph Project
Por Lia Latty – EUA – Oreo
“Crescer como uma pessoa negra na América significa enfrentar preconceitos que deixam pouco espaço para que sua identidade seja aceita. Para uma pessoa negra ter quaisquer interesses fora do que é considerado a ‘norma’ para ela, pode resultar em ela ser considerada uma ‘pessoa branca presa no corpo de uma pessoa negra’.
Isso é o que significa ser chamado de ‘Oreo’. Influenciado por experiências pessoais anteriores, ‘Oreo’ desafia os estereótipos que são constantemente projetados nos negros e como isso pode afetar sua identidade.
Esse projeto geralmente foi vivido durante os anos de pré-adolescência/adolescência e cada participante é fotografado com os objetos que fizeram com que fossem chamados de ‘Oreo’, junto com sua declaração de como o momento aconteceu.
Women Photograph Project
Por Kathy Anne Lin – Cingapura – Ruído branco
“Com uma abordagem documental conceitual, ‘Ruído branco (White noise)’ foca em fumigações em Cingapura, que com uma alta densidade populacional e situada na Linha do Equador, enfrenta preocupações com doenças transmissíveis por insetos como dengue e malária, e usa produtos químicos para manter os insetos sob controle.
O fascínio evasivo e seu rápido desaparecimento guiaram as reflexões iniciais sobre a teatralidade da conjuração de nuvens. A humanidade é atormentada por medos de perda, finitude e morte, e consolada por lembretes, ciente de que algo pode resistir, pelo menos na memória.
O projeto se manifestará como uma publicação e visa a discutir o impacto de pequenas mudanças ambientais dentro da cidade transitória – um pulso de mudança iminente está no horizonte, mas a névoa de incerteza ainda não se estabeleceu.”
Women Photograph Project
Danielle Villasana – Turquia/EUA – Abra o caminho
“A partir da esquerda: Samantha, Alexa e Escarle conversam no quarto de Escarle em San Pedro Sul, Honduras, em 29 de março de 2019. Enquanto a América Latina lidera o mundo em homicídios de pessoas trans, na América Central as mulheres trans são ainda mais ameaçadas pela violência de gangues, clientes, polícia e até mesmo familiares.
Honduras é um dos sete países mais perigosos do mundo para ser LGBTQIA+, e muitas mulheres trans migram para o norte em direção ao México e os Estados Unidos em busca de segurança.
Pouco depois de ser espancada pelo seu irmão, Kataleya fugiu de Honduras para o norte em direção a Tapachula, México, sua primeira parada em direção aos Estados Unidos. Ela disse: ‘Ele tentou me matar várias vezes, mas finalmente consegui meu objetivo de fugir no meio da noite, sem luz’. Em 3 de setembro de 2019, em seu apartamento em Tapachula, Kataleya liga para a irmã e o sobrinho na noite antes de partir para Tijuana, na fronteira dos Estados Unidos com o México.”
*A reprodução das imagens foi autorizada pela Women Photograph.
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