Londres – O noticiário negativo sobre as festas de Natal realizadas na sede do governo britânico em 2020, quebrando as regras de isolamento social impostas pelo próprio governo a toda a população, deixou de ser apenas uma crise de imagem e dá sinais de afetar a decisão de seguir as normas de prevenção da Covid-19, no momento em que a variante ômicron avança.
É o que mostra uma nova pesquisa do instituto YouGov, que entrevistou quase 1,7 mil britânicos nos dias 8 e 9 de dezembro.
O escândalo das festas vem sendo acompanhado na imprensa atentamente por 50% da população, mostrou o instituto. E uma a cada cinco pessoas se diz pouco disposta a cumprir regras de isolamento porque o primeiro-ministro Boris Johnson e seus auxiliares não o fizeram.
Crise pode dificultar controle da variante ômicron
A nova pesquisa do YouGov, principal termômetro da opinião pública no país, constata que as notícias negativas saíram da esfera política e passaram a afetar a saúde pública.
E que a liderança pelo exemplo tem efeito direto sobre o controle da pandemia em uma fase crucial, perto das festas de fim de ano e com a ômicron tendo determinado a elevação do nível de alerta Covid, que passou de 3 para 4 no domingo (12/12).
Na manhã de hoje, o primeiro-ministro confirmou a primeira morte pela variante ômicron no país.
As notícias sobre os encontros entre altos funcionários do governo, incluindo membros das equipes que cuidam da comunicação com a sociedade, começaram a aparecer na imprensa britânica há duas semanas, com fortes especulações sobre se o primeiro-ministro teria participado das festas ou autorizado que ocorressem.
A situação se complicou com o vazamento de um vídeo obtido pela emissora ITV em que a então chefe da comunicação, Allegra Stratton, ironiza os encontros em uma simulação de entrevista, inferindo-se que eles existiram mesmo.
Ela pediu demissão do cargo que ocupava no governo, como uma das principais auxiliares de Johnson.
Na última quarta-feira, durante sabatina semanal que acontece no Parlamento, o primeiro-ministro esquivou-se de responder sobre as festas e afirmou que todos os protocolos foram seguidos em atividades na sede da administração pública, em Downing Street 10.
No entanto, no domingo (12/12) o jornal Sunday Mirror publicou uma foto do primeiro-ministro acompanhado de auxiliares participando de um “quiz” (competição de perguntas) dias antes do Natal de 2020, quando a população do pais estava proibida de se reunir com pessoas que não vivessem na mesma casa.
À noite, Boris Johnson fez um pronunciamento para conclamar a população a tomar a terceira dose da vacina, e não se referiu ao escândalo das festas nem à sua foto no jornal.
Antes da transmissão, a expressão “pre-recorded” entrou nos trending topics do Twitter no Reino Unido, com uma enxurrada de críticas pela decisão de exibir uma fala pré-gravada e não enfrentar perguntas ao vivo de jornalistas, como sempre acontece nessas ocasiões.
An update on booster jabs. https://t.co/73NbmmhTiP
— Boris Johnson (@BorisJohnson) December 12, 2021
Britânicos não confiam nas decisões de Johnson para conter variante ômicron
A resposta do governo sobre a imagem publicada pelo Sunday Mirror foi de que o primeiro-ministro teria participado por apenas 10 ou 15 minutos para agradecer o empenho da equipe durante o ano, e que os participantes estavam online, remotamente.
Mas a foto mostra pelo menos três pessoas reunidas com o líder da nação, e os rumores são de que outros grupos estariam reunidos em salas separadas, como equipes, o que pode agravar ainda mais a percepção já abalada.
Na pesquisa doYouGov, cujas entrevistas foram feitas antes da foto publicada no domingo, sete em cada dez britânicos (70%) disseram que têm pouca ou nenhuma confiança em Boris Johnson para tomar as decisões certas quando se trata do surto de coronavírus, um aumento de 10 pontos desde meados de julho.
Enquanto o primeiro-ministro perdeu credibilidade para conduzir as medidas de controle do coronavírus, seguido pelo Secretário Nacional de Saúde Sajid Javid, o médico-chefe do governo Chris Whitty e o consultor científico-chefe Patrick Vallance inspiram confiança em 59% e 45% dos britânicos, respectivamente.
Entre os membros do gabinete de Johnson, o chanceler Rishi Sunak, responsável pela pasta de finanças, aparece mais bem conceituado para tomar decisões sobre o coronavírus do que o primeiro-ministro e pela principal autoridade de saúde.
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Pouca inclinação a cumprir restrições
O noticiário sobre as comemorações na sede do governo também pode prejudicar a capacidade do governo de endurecer as restrições, caso isso seja necessário para controlar o avanço da variante ômicron.
Algumas medidas mais brandas já foram adotadas, como a recomendação de trabalhar de casa e o uso de máscaras em alguns locais públicos e no transporte.
Mas há uma queda-de-braço entre a comunidade científica e setores empresariais a respeito de impor restrições mais severas, como a obrigatoriedade do fechamento de escritórios, o uso de máscaras em pubs e restaurantes e o limite de encontros a pequenos grupos familiares.
Questionados sobre a probabilidade de seguirem uma regra que impede as pessoas de se reunirem com pessoas de fora de sua casa, o público se divide, com 46% com probabilidade de acatar a decisão e 46% dizendo ser improvável fazerem isso.
Ao pedir aos que se mostraram pouco inclinados a seguir as regras para dizerem o motivo em suas próprias palavras, um quinto (21%) atribuiu a opinião às revelações em torno de possíveis festas na sede do governo em 2020.
Isso se traduz em 10% da população britânica que diz que se tal regra acontecesse, eles não parariam de se reunir com familiares especificamente porque o primeiro-ministro, governo ou outros em Downing Street teriam quebrado as regras no ano passado.
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Outras razões apontadas por aqueles que dizem que não seguiriam tais regras incluem querer ver a família ou amigos (17%, o equivalente a 8% de todos os britânicos); estar farto de restrições ou sentir que é preciso seguir em frente e conviver com a Covid (15 %, representando 7% de toda a população); o fato de já estar vacinado (12% ou 6% do público em geral) ou não achar que tal regra seria realista, eficaz ou necessária (10%, igual a 5% da nação).
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