A questão da imigração da fronteira sul dos Estados Unidos (EUA) gerou uma nova queda de braço entre o presidente Joe Biden e a mídia americana, mais especificamente a emissora Fox News, com a proibição do uso de drones na cidade de Del Rio, no estado do Texas. 

Uma ponte na região apareceu apinhada de imigrantes esperando para entrar em território americano, e em seguida a Federal Aviation Administration (FAA), que regula o tráfego aéreo no país, impôs uma restrição de vôo de duas semanas no local, o que impede a imprensa de documentar a crise, ao menos em imagens aéreas.

A Fox News, junto com outras redes como One America News e Newsmax, formam a parte conservadora da mídia americana, que apoiou Trump e agora faz oposição ao governo Biden.

Figuras como o jornalista Tucker Carlson, estrela da Fox, diariamente criticam a política migratória do novo governo, tanto em relação aos vizinhos mexicanos como na retirada de tropas e colaboradores dos EUA no Afeganistão, apontando que a acolhida dos afegãos tinha a intenção de gerar “novos eleitores” para o Partido Democrata em solo americano.

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Após críticas da mídia americana, FAA responde diretamente à imprensa

“A FAA acaba de implementar um TFR (Restrições Temporárias de Voo) de duas semanas sobre a ponte internacional em Del Rio, TX, o que significa que não podemos mais voar com nosso drone FOX sobre ela para mostrar imagens dos milhares de migrantes. FAA diz ‘motivo especial de segurança’ “, tweetou o repórter da Fox News, Bill Melugin, na noite de quinta-feira (16/9).

“Entramos em contato com a FAA para pedir esclarecimentos sobre por que esse TFR foi implementado”, twittou Melugin. “Ainda não recebemos uma resposta. Será atualizado se / quando o fizermos.”

A administração federal emitiu comunicado alegando que “solicitou a restrição temporária de voos devido à interferência de drones nos voos policiais na fronteira”. 

A nota ainda se dirigia diretamente à mídia americana, afirmando que “como acontece com qualquer restrição temporária de voo, a imprensa pode ligar para a FAA para fazer solicitações para operar na área”.

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Situação na fronteira com o México se soma ao assentamento de afegãos refugiados

Mais de 8.000 migrantes estão atualmente esperando sob a Ponte Internacional em Del Rio, esperando para serem atendidos pelas autoridades ​​após cruzarem para os EUA ilegalmente. Segundo a Fox News, a situação está “fora de controle” e a patrulha da fronteira está sobrecarregada.

Milhares de migrantes haitianos estão dormindo ao ar livre sob a ponte, criando uma emergência humanitária e um desafio logístico que os agentes americanos descrevem como “sem precedentes”, afirma o jornal Washington Post, sem entrar na questão dos drones proibidos. Abaixo, tweet do repórter da Fox Bill Meluguin mostra a situação:

Autoridades em Del Rio dizem que mais de 10 mil pessoas estão em um acampamento improvisado, que deve receber mais gente nos próximos dias. O fluxo súbito gera uma nova emergência de fronteira em um momento em que as travessias ilegais atingiram um pico em 20 anos.

Enquanto isso, o Departamento de Segurança Interna se esforça para acomodar e reassentar mais de 60 mil refugiados afegãos resgatados após a queda de Cabul e a retirada dos EUA.

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Parlamentares republicanos atacam o bloqueio aos drones da mídia americana

A decisão da FAA de proibir os drones de voar recebeu críticas imediatas dos conservadores nas redes sociais, incluindo do senador republicano Tom Cotton.

“Que coincidência”, twittou Cotton. “É melhor que a FAA esteja pronta para explicar ao Congresso por que de repente está bloqueando a mídia de cobrir a crise na fronteira de Biden.”

O senador Ted Cruz, que representa o estado do Texas, afirmou que “depois que o drone da Fox News mostrou MILHARES de imigrantes ilegais, parece que os agentes políticos da Casa Branca de Biden viram o vídeo e decidiram que essa é a última coisa que eles queriam reportar. Agora a FAA diz: ‘Por favor, jornalistas não são permitidos.’ É ridículo”.

Pressão na fronteira vem aumentando anualmente, mostram números

A Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) anunciou na quarta-feira que houve 208,8 mil encontros com migrantes em agosto, um ligeiro declínio em relação aos 212 mil encontros em julho e o segundo mês consecutivo em que o número de encontros ultrapassou a marca de 200 mil, relatou a Fox News.

O número 208.887 de agosto representa um aumento de 317% sobre agosto de 2020, que teve 50 mil encontros – e um aumento de 233% sobre agosto de 2019, onde foram 62,7 mil.

O governo Biden culpou o governo Trump por bloquear os caminhos legais para o asilo, ao mesmo tempo em que promove uma estratégia que inclui um forte enfoque no combate às causas profundas, como violência, corrupção e pobreza na América Central.

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