Londres – Depois de cair três posições no ranking global de Soft Power da consultoria britânica Brand Finance, o Brasil tem outra má notícia sobre a percepção internacional a respeito do país: apenas duas cidades estão na lista das melhores do mundo, em um novo ranking que mede aspectos que vão de qualidade de vida ao ambiente de negócios, indo além de impressões de turistas ou moradores. 

O City Index 2023, também feito pela Brand Finance, é baseado em pesquisas de opinião com públicos diversos em 20 países, trazendo São Paulo na 75ª posição e o Rio de Janeiro na 69ª. 

Londres, Nova York e Paris lideram o ranking, que tem duas cidades da América Latina em posição melhor do que as brasileiras: Cidade do México ( 59ª) e Santiago (66ª).

Entre as 100 cidades com melhor percepção no mundo estão também Buenos Aires (79ª) e Bogotá (88ª). Das 20 mais bem ranqueadas, seis são dos EUA (Nova York, São Francisco, Miami, Chicago e Boston. 

Dubai superou ‘gigantes’ como  Berlim, Milão e Zurique, demonstrado que os esforços de marketing para promover a cidade como destino turístico e de negócios estão dando resultados. 

O ranking da Brand Finance foi elaborado com base em pesquisas em que percepções locais sobre a própria cidade do entrevistado não são levadas em conta.

O estudo cruza sete dimensões (Viver, Trabalhar local e remotamente, Estudar, Aposentar, Visitar e Investir) e sete pilares (Negócios e Investimentos, Habitabilidade, Cultura e Patrimônio, Pessoas e Valores, Sustentabilidade e Transporte, Governança e Educação e Ciência).

As cidades são pontuadas em 45 atributos dentro desses pilares, construindo-se um panorama completo das percepções a respeito delas a partir de conhecimento direto (quem já visitou ou faz negócios) e também por impressões transmitidas pela mídia internacional. 

Segurança e tributação impactaram posição no ranking das melhores cidades 

Eduardo Chaves, diretor da Brand Finance no Brasil, salienta que as cidades brasileiras têm oportunidades de melhoria, já que não foram bem avaliadas em diversos critérios importantes, indicando uma necessidade urgente de um trabalho mais analítico, entre políticas públicas e ações da sociedade civil, para que possam melhorar sua imagem para o mundo.

Nos critérios econômicos, um dos aspectos destacados por Chaves é a legislação tributária brasileira, que deixa as cidades em posição desfavorável quando comparadas a outros mercados globais.

“O Brasil opera com altas taxas tributárias, tanto federais como estaduais e municipais, o que torna suas cidades pouco atrativas nesse sentido.

Isso faz com que percepção de crescimento e estabilidade fiquem prejudicadas, e com isso os scores nesses critérios não são os melhores entre as cidades avaliadas.”

A educação apareceu na pesquisa como um aspecto que compromete a percepção global sobre o Rio de Janeiro e São Paulo. 

Segundo a Brand Finance, mesmo sediando a melhor instituição de ensino superior do país, a USP, São Paulo não figura bem no critério de grandes universidades mundiais.

E o Rio ficou em último (100º) na percepção global sobre escolas, educação, ciência e tecnologia. 

Segurança pública também contribuiu para que as duas cidades brasileiras listadas entre as 100 melhores do mundo não obtivessem posição melhor no ranking. 

“Os crimes que ocorrem em São Paulo, principalmente no centro, fizeram com que a cidade seja mal avaliada nesse critério”, diz o diretor da Brand Finance. O mesmo ocorre com o Rio, cuja violência urbana é frequentemente retratada pela mídia internacional. 

“Políticas públicas de segurança devem ser mais bem trabalhadas para que as cidades brasileiras possam subir no ranking de percepção”, recomenda Eduardo Chaves.

Pontos fortes e fracos das cidades brasileiras  

No critério cultura e tradição, Rio de Janeiro classifica-se na 38ª a posição e São Paulo na 61ª posição, posições acima de suas classificações gerais no ranking. 

A cidade do Rio de Janeiro tem uma boa classificação quando questionada sobre sua vida noturna, restaurantes e estilo de vida, classificando-se na 33ª posição. 

No critério museus, artes e galerias culturais, São Paulo encontra-se acima do Rio de Janeiro. Enquanto a capital paulista está na 69ª posição, Rio de Janeiro encontra-se na somente na 91ª posição. A Brand Finance destacou a riqueza da arte de rua paulistana.

Arte de rua de São Paulo foi mencionada como destaque na análise do ranking das melhores cidades do mundo
Foto: Thandy Yung/Unsplash

Nesse mesmo sentido, São Paulo está cima do Rio de Janeiro entre percepção de grandes teatros e musicais. O grande número de estabelecimentos de música de qualidade  fez com que ela tivesse melhor posição nesse critério, disse a consultoria.

Outro critério em que as cidades brasileiras são bem avaliadas é sua liderança em times de futebol e esportes. O Rio de Janeiro figura na 16ª posição e São Paulo na 18ª.

Por que Cidade do México e Santiago têm posição melhor no ranking?

Classificada em 23º lugar em familiaridade, a Cidade do México é uma cidade reconhecida pela riqueza em história e cultura, com muitos locais e monumentos importantes que atraem visitantes de todo o mundo. Ela teve a melhor pontuação entre as cidades latino-americanas em termos de ‘rico patrimônio histórico’ (posição 37).

A Cidade do México também é famosa por sua vibrante vida cultural e gastronômica, com uma grande variedade de museus, galerias de arte, restaurantes e bares. Ocupa o 22º lugar no atributo ‘diversão’, atrás apenas de São Paulo (8º lugar) e Buenos Aires (21º lugar) e 15º em termos de ‘festivais culturais relevantes’.

Além disso, é um importante centro econômico e financeiro da América Latina, o que a torna um local de grande importância em termos de negócios e comércio internacional, embora a percepção sobre o país seja afetada pelo alto número de mortes de jornalistas. 

Santiago do Chile figurou na pesquisa como a cidade latino-americana com o ‘maior potencial de crescimento’ na América Latina (posição 63).  

O estudo c0nstatou uma percepção de Santiago como uma cidade moderna e cosmopolita, com uma vida noturna vibrante e uma ampla oferta cultural, deixando-a em  58º lugar no quesito ‘grandes lojas, restaurantes e vida noturna’. 

A proximidade da Cordilheira dos Andes colaborou para que a capital do Chile pontuasse bem no atributo ‘espaços verdes e lazer’, alcançando a 66ª posição. 

Buenos Aires é percebida como cidade diversificada e cosmopolita, com história, oferta cultural ampla e berço do futebol argentino, atraindo a atenção do mundo. 

Bogotá se destacou no ranking como líder em inovação e empreendedorismo na América Latina, com um próspero ecossistema de negócios e uma série de políticas e programas governamentais voltados para o desenvolvimento tecnológico.

Segundo o estudo, Bogotá é a cidade mais bem pontuada da região no pilar negócios e investimentos (62ª posição), atributo ‘facilidade de fazer negócios’, ocupando a 75ª posição no ranking dessa categoria.

Londres: por que a cidade é a mais bem avaliada? 

Classificada em primeiro lugar no ranking geral de percepção sobre as cidades, Londres ocupa o primeiro lugar em duas das sete dimensões principais: ‘Estudos’ e ‘Lugar para visitar’.  E está entre as quatro primeiras em todas as outras dimensões.

Segundo a Brand Finance, uma das principais razões para o sucesso de Londres é sua classificação mundial em ‘familiaridade’, com uma pontuação impressionante de 95,7 em 100.

O legado duradouro de Londres também pode ser visto no fato de ser o lar da monarquia britânica, uma das famílias reais mais famosas e reconhecidas do mundo.

Essa herança desempenhou um papel fundamental na formação do forte caráter e identidade de Londres, que é medido no pilar ‘pessoas e valores’ do estudo. 

Londres foi avaliada na pesquisa também como  ‘melhor cidade global para estudar’, com uma pontuação de 83,6/100.

A cidade é conhecida como um centro de excelência acadêmica e inovação, com universidades de classe mundial, como University College London, Imperial College London e London School of Economics, atraindo estudantes de todo o mundo.